Do tamanho de uma moeda de 25 centavos, o “Pulga” é um microcomputador de placa única que promete aplicações no universo de Internet das Coisas (IoT) e o aprimoramento da produção de tecnologias de sistemas e hardwares abertos no Brasil.
Produzido no Centro Interdisciplinar em Tecnologia Interativa (CITI), da Escola Politécnica da USP, o projeto faz parte de um programa chamado Caninos Loucos, que já desenvolveu o Labrador, um sistema do tamanho de um bilhete de metrô capaz de reproduzir vídeos e editar textos.
O Pulga suporta Bluetooth 5.0, o que permite ao computador se comunicar com outros aparelhos por meio de conexão wireless. A expectativa é que o dispositivo seja uma ferramenta de computação de borda, bem como um auxiliador de sistemas de redes inteligentes e ajudante de coleta de dados sensoriais. O futuro, no entanto, ainda reserva amplas possibilidades para a tecnologia.
De acordo com o coordenador do CITI, Marcelo Zuffo, o “Pulga” ainda está em processo de manufatura de lotes experimentais e as características do microcomputador são preliminares. Atualmente, o sistema funciona com uma CPU ARM Cortex-M&F, disco com capacidade de 1024 kB, 256 kB de memória RAM. Além disso, apresenta dispositivo capaz de recolher energia de múltiplas fontes de um mesmo ambiente, garantindo autonomia energética ao sistema.
O desafio, segundo Zuffo, é garantir a manufatura em escala. Apenas 50% a 60% dos Pulgas fabricados funcionam adequadamente. “Um dos problemas mais comuns é a interferência interna no sistema”, explicou o professor, em entrevista ao Olhar Digital.
Apesar disso, o tom do pesquisador é otimista. Afinal, o Labrador já apresenta uma taxa de manufatura de 98%, sem falar nas especificações técnicas mais avançadas, como 2 a 8 GB de memória RAM e 32 GB de armazenamento.
No caso do Pulga, o coordenador pretende fabricar microcomputadores ainda menores, do tamanho de moedas de 10 centavos.
Inovação e reprodutibilidade
Após aumentar a capacidade de manufatura, a ideia do laboratório é distribuir os pulgas para empresas e startups parceiras testarem o microcomputador. É aí que entra o potencial inovador dos sistemas e hardware livres da tecnologia.
“O objetivo é que, a partir do código aberto, parceiros possam desenvolver novas aplicações para o Pulga”, afirma o professor. Por enquanto, o dispositivo roda um sistema embarcado, que segundo as especificações do sistema, corresponde ao MBED compatible. Espera-se que o Pulga comece a operar sistemas Linux em breve.
Segundo Zuffo, a intenção do projeto não consiste em competir com a indústria, mas “fomentar a inovação, com tecnologias acessíveis de código aberto, construídas de forma colaborativa”. Desta forma, o Pulga deve se tornar uma tecnologia facilmente reproduzível.
Para o professor, no entanto, um dos principais desafios é promover a sustentabilidade desses sistemas. Mesmo assim, não escondeu a empolgação com o projeto.
“É inovador que tudo isso esteja acontecendo aqui na USP, que uma faculdade pública esteja discutindo, desenvolvendo e produzindo uma tecnologia de código aberto junto com a comunidade”, disse o professor.
Financiamento e colaboração
O novo projeto colaborativo da USP é, de fato, um pilar fundamental para o Caninos Loucos. Isso porque, além da equipe do CITI, o programa recebe o apoio de empresas, organizações e voluntários. O cocriador do sistema operacional Linux, Jon Maddog Hall, por exemplo, esteve diretamente envolvido no projeto. Inclusive, foi ele quem inspirou o nome Labrador para o outro sistema do centro de pesquisa.
Sobre o financiamento, o projeto se sustenta a partir de verbas públicas, doações de empresas, membros da comunidade e, claro, o trabalho dos voluntários. De acordo com Zuffo, a recente repercussão do projeto atraiu o interesse de várias startups e organizações sobre os microcomputadores do CITI.