O WhatsApp passará por mudanças importantes em relação a liderança. Jan Koum, cofundador do aplicativo, anunciou seu desligamento do projeto e sua saída do quadro de diretores pouco tempo depois de uma matéria do jornal The Washington Post listar uma série de desentendimentos entre a equipe do WhatsApp e o Facebook.
O comunicado do Koum foi publicado em seu mural no Facebook. “É hora de seguir em frente. Eu vou tirar um tempo para fazer as coisas que eu gosto longe da tecnologia, como colecionar Porsches refrigerados a ar, trabalhar nos meus carros e jogar ultimate frisbee”, ele afirmou, apontando que ainda continuará torcendo pelo WhatsApp, mas do lado de fora.
Mark Zuckerberg também respondeu ao anúncio, afirmando que sentirá falta de trabalhar com Koum e que é grato por tudo que ele fez para “ajudar a conectar o mundo” e pelos ensinamentos, “incluindo criptografia e a capacidade de tirar o poder de sistemas centralizados e coloca-los nas mãos das pessoas”, concluindo que essas ideias “sempre estarão no coração do WhatsApp”.
Essa última parte do comentário de Zuckerberg parece ser direcionada especialmente à matéria do Washington Post, que lista uma série de desentendimentos entre Facebook e WhatsApp. O mais grave deles seria justamente a posição do WhatsApp em relação a criptografia.
Há alguns anos, o WhatsApp implementou criptografia de ponta-a-ponta no serviço, que, pelo menos em teoria, significa que as únicas pessoas que têm acesso ao conteúdo trocado por mensagem são o remetente e o destinatário. Nem WhatsApp, nem Facebook, nem autoridades ou a Justiça podem ler ou analisar o material de qualquer forma, o que já gerou alguns problemas jurídicos com autoridades pelo mundo inteiro.
Executivos do Facebook, no entanto, teriam pressionado Koum e sua equipe para adotar um tipo de criptografia mais leve, com o objetivo de facilitar o funcionamento do novo aplicativo da empresa, o WhatsApp Business. Essa pressão não teria agradado Jan Koum.
A questão da privacidade dos usuários também teria sido um problema. Quando o Facebook comprou o aplicativo em 2014 por US$ 19 bilhões, os fundadores do WhatsApp foram informados de que o app não precisaria exibir anúncios e que seus usuários não teriam seus dados vinculados a perfis no Facebook para alimentar o gigantesco banco de dados da empresa; essas garantias permitiram que a fusão saísse do papel até mesmo do ponto de vista legal, já que órgãos regulatórios na Europa também puderam dar aval ao negócio.
No entanto, não demorou muito para que os termos de serviço do WhatsApp fossem modificados para… compartilhar dados com o Facebook. Bastou um ano e meio para isso acontecer, e o Facebook passou a coletar o número telefônico dos usuários do aplicativo para poder oferecer publicidade mais direcionada e eficaz.
Brian Acton, o outro cofundador do WhatsApp, já havia abandonado o Facebook em novembro do ano passado, indicando que a insatisfação com a empresa-mãe não é uma coisa nova. Diante do recente escândalo da Cambridge Analytica, Acton se tornou uma das vozes a apoiar o movimento de boicote #DeleteFacebook.