As cerca de 35 milhões de pessoas no mundo que sofrem com o chamado “Mal de Alzheimer” – doença degenerativa que impede o cérebro de manter novas e antigas memórias – podem aquecer as esperanças para a descoberta de uma cura. Cientistas japoneses conseguiram resgatar as lembranças de um camundongo com Alzheimer em laboratório.
Susumu Tonegawa, chefe do Centro de Circuito Neural Genético do Instituto de Pesquisas Riken, no Japão, desenvolveu com sua equipe uma técnica que usa optogenética: a mistura de estímulos luminosos, genética e bioengenharia. O que os cientistas descobriram é que, uma vez que o Alzheimer se instala no cérebro, as lembranças não são perdidas para sempre, mas apenas se tornam inacessíveis.
A equipe descobriu que, pelo menos em roedores, o responsável por buscar as informações armazenadas no cérebro e trazê-las à tona são as espinhas dendríticas – espécie de “braços” que ajudam os neurônios a realizar sinapses. Em camundongos com Alzheimer, essas espinhas começar a atrofiar-se, lentamente apagando a memória dos animais.
Por meio de uma fibra ótica e um processo altamente invasivo, os cientistas emitiam pequenas rajadas de luz concentrada nessas espinhas dendríticas, estimulando-as a crescer e desenvolver-se novamente. Com o passar dos dias, a equipe pôde comprovar que as cobaias diagnosticadas com Alzheimer não mais perdiam a memória.
Como saber se um rato tem Alzheimer?
Para testar as capacidades neurológicas dos camundongos, os cientistas do Risken dividiram as cobaias em dois grupos: um com animais com Alzheimer e outro com animais sãos. Ambos os grupos eram colocados em pequenas câmeras onde recebiam curtos e inofensivos choques elétricos. Após alguns dias, os ratos sem Alzheimer demonstravam medo quando eram colocados na câmara novamente.
Já os ratos com Alzheimer se comportavam naturalmente, indicando que eles não se lembravam mais de que aquelas câmaras causavam choques elétricos. Após o tratamento com optogenética, os camundongos com Alzheimer eram submetidos novamente ao teste. O resultado foi que, mesmo após uma semana, os animais continuavam com medo de entrar na câmara, sugerindo que eles ainda se lembravam das descargas elétricas que sofreram dias antes.
Teste em humanos
Por enquanto, porém, o tratamento com optogenética não pode ser realizado em pacientes humanos. “O ponto importante dessa pesquisa é de que se trata de uma prova conceitual”, explicou o doutor Susumu em comunicado. “O conceito é o de que, mesmo que uma memória pareça ter ido embora para sempre, ela ainda está lá. O problema é como acessá-la.”
Estímulos luminosos no cérebro não são permitidos em humanos por se tratar de uma operação extremamente delicada e invasiva. O problema é que, para atingir com tanta precisão as espinhas dendríticas, não há qualquer outro método disponível no mundo que seja tão eficiente quanto a optogenética.
“É possível que, no futuro, alguma tecnologia seja desenvolvida para ativar ou desativar células profundamente localizadas dentro do cérebro com mais precisão”, disse o doutor Susumu. “Pesquisas básicas como as conduzidas neste nosso estudo oferecem informação sobre quais células precisam ser atingidas [no combate ao Alzheimer], o que é de extrema importância para futuros tratamentos e tecnologias.”
Via CNET