A recente notícia de que um homem chinês não-identificado descobriu ser pai de apenas um de seus filhos gêmeos causou espanto e curiosidade. O fenômeno, chamado de superfecundação heteropaternal, não é inédito mas é raro. Entretanto, não se sabe exatamente o quanto.

Como acontece

Deng Yajun, diretor do Centro de Identificação Forense Beijing Zhongzheng, na China, e responsável pelo teste de DNA dos bebês no caso mais recente, explicou o mecanismo por trás do fenômeno.

“Primeiro, a mãe tem que produzir dois óvulos no mesmo mês, para ter gêmeos bivitelinos. Depois, ela precisa ter relações sexuais com dois homens em um espaço de tempo muito curto, até um dia após a ovulação”. Dentro deste período, os espermatozoides de cada homem têm de fecundar um óvulo cada.

As chances de um espermatozoide fecundar um óvulo após uma relação são pequenas, então as chances de que isso aconteça duas vezes, com dois homens diferentes, num curto intervalo de tempo, são menores ainda.

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Segundo um estudo feito por William H. James, do Laboratório Galton no Departamento de Genética e Biometria do University College, em Londres, o fenômeno pode ocorrer em 1 a cada 400 nascimentos de gêmeos nos EUA, ou 0,25% dos casos.

Outro estudo estima que 2,4% dos casos de gêmeos bivitelinos (não idênticos) cujos pais estavam envolvidos em disputa de paternidade eram fruto de superfecundação. Um terceiro estudo cita uma incidência de 1 caso a cada 13 mil nascimentos.

Outros casos

Em 2016 um caso de superfecundação heteropaternal ocorreu no Vietnã. O teste de DNA foi solicitado por familiares dos bebês, que notaram que eles eram “bastante diferentes” entre si.

Em 2015 um caso em Nova Jersey, nos EUA, foi a julgamento depois que uma mulher pediu na justiça pensão alimentícia do homem que alegava ser pai de suas duas filhas. A análise de DNA revelou que apenas uma era filha dele. Como resultado, o juiz ordenou que ele pagasse pensão alimentícia apenas para ela.

Em 2014 ocorreu outro caso na China: Zhou Gang, um empresário da cidade de Yiwu na província de Zhejiang, solicitou um teste de DNA nos gêmeos que teve com sua amante, e descobriu que um deles não era seu filho.

Em 2006, na Inglaterra, ocorreu um caso ainda mais raro: Amanda Wanklin deu à luz duas meninas que “desafiam o conceito de raça”: Millie Marcia Madge Biggs e Marcia Millie Madge Biggs.

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Marcia Millie Madge Biggs (à esquerda) e Millie Marcia Madge Biggs (à direita), com seu pai Michael Biggs ao centro. Fonte: Robin Hammond / National Geographic

Embora tenham o mesmo pai, Marcia Millie tem cabelo castanho e pele clara, como sua mãe. Enquanto isso, Millie Marcia tem pele escura e cabelo cacheado, como seu pai, de ascendência Jamaicana.