Embora os olhares da indústria de tecnologia estejam focados na briga da Apple contra o FBI, é na China que está nascendo um sistema de vigilância praticamente sem limites. O governo local vem trabalhando para desenvolver um esquema de prevenção de crimes que deve funcionar – ao menos ideologicamente – como aquele visto no filme Minority Report.

A Bloomberg reporta que o China Electronics Technology Group, principal estatal atuando na área de defesa, foi encarregado de criar um software capaz de processar informações sobre trabalho, hobbies, hábitos de consumo, entre outras coisas, para entender quais entre os cidadãos comuns apresentam comportamento suspeito.

“É muito crucial examinar a causa de um ato de terror, mas o que é mais importante é prever as atividades futuras”, afirmou à agência o engenheiro-chefe da estatal, Wu Manqing.

O governo pretende combinar o software com novos poderes adquiridos em 1º de janeiro, quando entrou em vigor uma nova legislação sobre espionagem oficial. Ela prevê que as autoridades tenham acesso irrestrito a contas bancárias, telecomunicações e uma rede nacional de vigilância chamada Skynet.

A ideia é destacar cidadãos com comportamento não usual, como quando um morador de uma vila pobre recebe muito dinheiro em sua conta, ou quando uma pessoa sem parentes no exterior faz ligações internacionais frequentemente. Uma vez que se tornam alvos, esses cidadãos podem ter contas congeladas e empresas de comunicação são forçadas a entregar quaisquer dados que tiverem sobre eles.

Várias empresas que atuam no país teriam sido obrigadas a cooperar com o desenvolvimento das iniciativas, incluindo Baidu, Tencent (que opera o app WeChat) e Sina (dona do Weibo, uma espécie de Twitter local).

Especialistas ouvidos pela Bloomberg ressaltam que, embora sistemas “pré-crime” sejam o sonho de qualquer governo, não é fácil compilar quantidades enormes de dados mundanos para desenvolver padrões. Entretanto, se há um lugar onde a ideia pode dar certo, esse lugar é a China, um país onde as autoridades não precisam se preocupar com limites quanto à exploração da privacidade individual.