Atrasos de Galaxy Fold e Mate X mostram o risco da busca por ‘ser o primeiro’

Aparelhos claramente não foram suficientemente testados a ponto de as empresas se sentirem confiantes, e isso pode manchar uma tecnologia inteira
Renato Santino20/06/2019 21h21

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Quem acompanha a indústria de tecnologia há alguns anos sabe: a onda dos celulares dobráveis é algo que já era discutido há quase uma década. A Samsung passou anos falando abertamente sobre o tema ao ponto de a promessa de um lançamento se tornar praticamente um meme. Hoje, no entanto, a tecnologia é real… e era melhor que não fosse.

Todo mundo já viu o desastre que foi o lançamento inicial do Galaxy Fold. O aparelho nem chegou às lojas e começou a apresentar defeitos graves apenas com as unidades que chegaram às mãos da imprensa. Imagine o que aconteceria se a mesma taxa de erro se mantivesse quando o produto chegasse às mãos dos consumidores?

Isso forçou a Samsung a revisitar o projeto para tentar evitar um novo desastre como foi o lançamento “explosivo” do Galaxy Note 7. Agora, dois meses após os primeiros relatos de problemas com o aparelho, a empresa promete que o dispositivo está pronto para chegar ao mercado.

A Huawei era a outra empresa que prometia brigar com a Samsung pela liderança neste novo mercado. O Mate X era o celular que parecia mais tecnicamente próximo do que se imaginava para um smartphone dobrável, mas a companhia também decidiu tomar mais tempo para evitar repetir um desastre similar ao da Samsung. A sanção do governo de Donald Trump à empresa não ajudou, mas a justificativa oficial é que a empresa “não quer lançar um produto para destruir nossa reputação”, como disse um representante à imprensa internacional.

Os produtos foram apressados

É engraçado falar em um produto “apressado” quando o primeiro protótipo de tela dobrável demonstrado pela Samsung data de 2008, ou mais de uma década atrás, e o primeiro vídeo conceitual da tecnologia foi publicado em 2014. De lá para cá, a empresa aprimorou suas ideias e conseguiu concretizá-las em um produto real, mas claramente elas ainda precisavam de mais refinamento.

Se a Huawei estivesse certa de que o Mate X não enfrentaria o mesmo problema que a Samsung encarou nos poucos dias que o aparelho chegou às mãos de alguém que não fazia parte da empresa, ela teria lançado seu aparelho. Teria, inclusive, aproveitado para tripudiar sobre o lançamento frustrado da Samsung.

Isso é um sintoma de como a indústria de tecnologia funciona atualmente. Existe uma corrida pela inovação, uma busca por ser o primeiro, que nem sempre é saudável para as empresas, nem para o mercado. Nisso, produtos imperfeitos acabam chegando a consumidores que têm uma experiência insatisfatória, e o resultado é queimar a marca e a tecnologia como um todo. O fiasco inicial do Galaxy Fold pode manchar para sempre a reputação de celulares dobráveis e fazer com que os aparelhos, mesmo de outras marcas, nunca decolem por causa da má-fama.

É um ponto que a Apple parece ter compreendido. É uma realidade que nos últimos anos a empresa de Tim Cook deixou a corrida para ter o primeiro produto a contar com um novo recurso, o que significa que normalmente as novidades do iPhone chegam um ano ou dois após darem as caras em aparelhos Android. No entanto, quando a empresa decide tomar alguma ação, o resto da indústria inteira acaba seguindo; ainda que não seja mais “inovadora”, a Apple ainda age como “validadora” de tendências, apontando para o mercado quando é o momento certo de embarcar em uma ideia.

O motivo para isso é justamente evitar situações como a do Galaxy Fold e do Mate X. É compreensível que as empresas estivessem ouriçadas para finalmente colocar uma tecnologia que esteve em desenvolvimento por tanto tempo no mercado, mas mais tempo de desenvolvimento e testes poderia evitar uma mancha que pode ser irreversível.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital