Apple diz que 100% da sua energia agora é renovável, mas não é bem assim

Redação09/04/2018 21h24, atualizada em 09/04/2018 21h35

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A Apple anunciou nesta segunda-feira, 9, que finalmente atingiu um objetivo que vem buscando há anos. A empresa afirma que 100% da energia consumida em todas as suas operações no mundo inteiro agora vem de fontes renováveis. Mas será mesmo?

A novidade foi alardeada por parte da imprensa internacional, mas a realidade não é tão simples. O que a Apple quer dizer com “100%” é que a empresa, hoje, adquire energia suficiente de fontes renováveis para cobrir tudo o que gasta com fontes não-renováveis.

Tome como exemplo a loja oficial da Apple em São Paulo. A energia que ela consome vem da distribuidora local, que é a AES Eletropaulo. A Apple não pode usar painéis solares ali porque a loja fica dentro de um shopping. Ela até pode comprar energia de uma usina limpa, mas essa energia só chega até a loja da empresa se passar primeiro pela Eletropaulo.

Quando chega à Eletropaulo, a energia que vem da usina eólica ou solar acaba se misturando à energia que vem de fontes não-renováveis, como combustíveis fósseis. Dessa forma, a Apple não tem como ter certeza de que 100% da energia que abastece a sua loja em São Paulo é “limpa”.

O que a Apple pode fazer, e tem feito há anos, neste caso, é adquirir Certificados de Energia Renovável (RECs, na sigla em inglês). Estes certificados são uma espécie de “garantia de limpeza” fornecidos por usinas de energia renovável.

Usinas que vendem, por exemplo, 1.000 megawatts-hora por ano a um cliente como a Apple não têm como garantir que esses 1.000 megawatts-hora serão consumidos pela Apple porque não dá para rastrear a energia. É como tentar rastrear 500 ml de água que você despejou no oceano.

Os RECs são certificados de que esses 1.000 MWh, porém, foram realmente gerados. Se a loja da Apple gastar 1.000 MWh por ano com energia “mista” que vem da Eletropaulo, mas também comprar 1.000 RECs (isto é, um certificado para cada megawatt-hora), a empresa pode atestar que 100% da energia que ela gastou foi compensada na produção de energia renovável.

Ao anunciar que 100% da sua energia vem de fontes renováveis, o que a Apple quer dizer, na verdade, é que a empresa, hoje, já produz mais energia de fontes renováveis, através da compra de RECs ou de geração própria, do que o volume total de energia que ela consome no mundo todo.

Além de comprar RECs, a Apple também investe em usinas particulares de energia solar e éolica, e garante que todos os seus novos escritórios e lojas ao redor do mundo usam, de verdade, 100% de energia de fontes renováveis. Como, por exemplo, o Apple Park, seu campus em forma de nave espacial inaugurado no ano passado, que possui painéis solares no telhado (foto acima).

O plano da empresa é, um dia, fazer com que cada escritório, loja, data center e fábrica terceirizada em todos os 43 países em que ela atua sejam abastecidos por energia 100% limpa. Mas enquanto existirem distribuidoras como a Eletropaulo em todo canto do mundo, este continua sendo um objetivo longe de ser alcançado.

O comunicado da Apple tem alguns outros dados menos enganosos. A empresa diz, por exemplo, que desde 2011, já reduziu em 54% suas emissões de gases do efeito estufa, o que impediu a entrada de 2,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera da Terra.

“Nós estamos comprometidos a deixar o mundo melhor do que quando o encontramos”, diz Tim Cook, CEO da Apple, no comunicado oficial da empresa. “Nós vamos continuar trabalhando no limite para estabelecer novas e criativas fontes de energia renovável, porque o futuro depende disso.”

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital

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