Ad Astra, sétimo longa-metragem de James Gray, está sendo vendido como uma aventura, o que não está de todo incorreto, mas pode levar a confusões, uma vez que o tom e o ritmo contemplativos dominam sua estrutura. Por esse motivo, a contemplação dominante, o filme tem sido comparado ao soporífero Terrence Malick, em especial A Árvore da Vida. A presença de Brad Pitt nos dois filmes ajuda a iluminar esse caminho. 

Penso, contudo, que é uma comparação equivocada. Se há, nos dois filmes a voz interior do protagonista guiando nossos sentidos e a compreensão de seu drama, o trabalho de câmera da direção de Gray é praticamente oposto ao de Malick. Neste último impera uma ideia de volatilidade, a câmera flutuante, sem gravidade. Em Gray, apesar de algumas cenas se passarem sem gravidade, e de nessas cenas a câmera acompanhar a flutuação do protagonista, no geral a câmera é muito mais rigorosa na composição do quadro, tomando o cuidado para que cada imagem comunique o estado mental do personagem (eventualmente, dos personagens).

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Dito isso, a contemplação de Gray é bem diferente da contemplação de Malick, e quem gosta de um costuma não gostar muito do outro. Eu, por exemplo, me interesso pelo cinema de Malick até Novo Mundo, de 2006, seu quarto longa, e rejeito enfaticamente tudo que vem depois, de quando ele começou a produzir com mais frequência (parece que os anos entre um filme e outro permitiam que ele retornasse com maior gás).

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Ainda, James Gray, um dos maiores diretores do cinema contemporâneo, adotou a contemplação desde o seu primeiro filme, Fuga para Odessa, de 1994. É um traço de sua poética. Mas nunca ocupou tanto da duração de um filme como em Ad Astra. A diferença é explicável, menos pelo drama familiar, pela ausência do pai, e mais pela sensação de estranheza que se tem quando se está no espaço e se vê a Terra, ou se está num outro planeta, agora habitado, com shopping centers espaciais e diversas companhias para fazer a sua viagem espacial preferida. A tecnologia espacial faz com que Marte seja como um país da Terra, mas o homem, em sua essência, jamais vai tomar como natural uma viagem desse tamanho. Não porque o futuro pareça impossível, mas pelo desafio cósmico que se impõe à humanidade, que aceita de bom grado.

No mais, se Brad Pitt está em Ad Astra e A Árvore da Vida, três coadjuvantes de Ad Astra estão também em Cowboys do Espaço (Clint Eastwood, 2000), outro belo filme de conquista do espaço: Donald Sutherland, Tommy Lee Jones e Loren Dean. Mas nem por isso iremos comparar Gray a Eastwood, embora a comparação seja possível fossem outros os filmes comentados dos dois diretores.

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