A nova preocupação com privacidade do Google é culpa da Apple?

Google anunciou vários recursos voltados à privacidade na semana após ser alvo de múltiplas campanhas da concorrente
Renato Santino11/05/2019 00h57

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Aconteceu nesta semana o Google I/O, evento anual da empresa com desenvolvedores, no qual é apresentado uma série de novidades que definirão o rumo dos produtos da companhia no curto e médio prazo. Ao longo da convenção, alguns pontos ficaram claros: o Google quer deixar clara sua preocupação com privacidade e segurança dos dados dos usuários.

Se a empresa de fato respeitará os usuários, essa é uma outra questão para a qual só o tempo trará a resposta. No entanto, fica muito evidente que o Google está de olho com o tanto de problemas enfrentados pelo Facebook e pretende ao menos passar a imagem de que está fazendo algo para proteger o público.

Talvez a maior novidade apresentada pelo Google neste sentido resida no fato de que a empresa não precisa mais enviar todos os seus comandos de voz ao Google Assistente para serem processados nos servidores em nuvem da empresa antes de retornarem um resultado. Isso aconteceu por meio da “miniaturização” dos modelos de reconhecimento de voz que antes consumiam 100 GB de armazenamento, e agora usam apenas 0,5 GB, o que permite que ele seja incluído diretamente dentro de um celular.

É um passo grande em favor da privacidade do usuário, sem qualquer sombra de dúvida, e que acaba tendo benefícios práticos também. Com o processamento dos comandos acontecendo diretamente no aparelho, o Google Assistente passa a poder responder a algumas ações sem precisar de internet e de forma muito mais rápida, já que os dados não precisam ser transmitidos para a nuvem, processados remotamente, e baixados para o aparelho de novo.

Além disso, o Google anunciou a expansão do modo incógnito, que já existe há bastante tempo no Chrome. Com isso, também será possível usar o Google Maps e realizar pesquisas no aplicativo de buscas de forma semianônima, sem que a sua atividade seja vinculada à sua conta como acontece atualmente.

Quando apresentou o Nest Home Hub, um “smart display” com câmera e microfone, o Google também fez questão de bater na tecla da privacidade. Muitos se assustam com a possibilidade de o Google poder monitorar conversas sem permissão, então a empresa tentou acalmar esses medos publicando um guia claro de quais informações são coletadas, e como elas são coletadas e armazenadas. A companhia também apontou que o aparelho tem uma chavinha que desabilita eletricamente a câmera o microfone do dispositivo, para quem realmente está preocupado com espionagem. Um bloqueio físico à câmera seria uma implementação mais simples, no entanto.

Durante a CES 2019, a Apple não teve uma presença física na feira. A empresa optou por não ter um estande e não fazer anúncios, que é uma prática adotada há vários anos. No entanto, sua presença foi sentida indiretamente. A companhia percebeu que suas rivais na área de assistentes digitais como Amazon, com a Alexa, e Google, com o Google Assistente, teriam uma presença forte no evento e recheou Las Vegas com outdoors sobre como a privacidade é importante, assumindo para si a posição de empresa que respeita o consumidor e não o espiona.

É uma tecla em que a Apple sempre bate em todo lançamento de produto e serviço. A questão de processamento local de voz e de inteligência artificial, por exemplo, sem depender tanto da nuvem, é um ponto de orgulho da companhia há anos. É difícil ir contra o argumento da Apple de ser a empresa que mais se preocupa com a questão de privacidade, já que não tem uma rede de publicidade e, portanto, não precisa coletar dados privados para direcionamento de anúncios.

Por outro lado, boa parte dos dispositivos do Google, em especial os celulares Android, servem para coletar mais informações sobre o público e tornar suas propagandas mais eficientes. Quando o Google adota uma posição mais clara de defesa da privacidade, ainda que seja necessário manter um pé atrás, fica evidente que toda a conversa da Apple sobre privacidade somada aos escândalos do Facebook fizeram com que a empresa precisasse se mexer. Se o resultado será sentido a longo prazo e se eles será significativo, já é outra história. Neste momento, ao menos, os usuários têm seus motivos para comemorar, pois as mudanças são positivas.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital