A Apple revoltou todo mundo com a base de US$ 1.000 para seu monitor

Monitor de US$ 5.000 vem sem qualquer tipo de suporte, obrigando o usuário a desembolsar mais US$ 1.000 pelo Pro Stand
Renato Santino04/06/2019 22h17, atualizada em 04/06/2019 22h50

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Durante a abertura do WWDC, que aconteceu durante a segunda-feira, 3, a Apple revelou um monitor, o Pro Display XDR, com resolução 6K. O monitor tem um preço salgado, é verdade. O preço sugerido de US$ 5.000 pela versão mais básica e US$ 6.000 com uma nanotextura antirreflexo, mas não foi isso que mais chamou a atenção na apresentação.

O Pro Display XDR mira um público muito específico, que realmente depende de um monitor de altíssimo desempenho e fidelidade total na reprodução de cores; segundo a Apple, um painel para este público com funcionalidades similares pode custar até US$ 43 mil, então o preço é até razoável. No entanto, no mesmo evento, a empresa também revelou um Pro Stand, uma base para o monitor vendida separadamente por US$ 1.000. O anúncio de um suporte “Pro” dá a entender que haveria uma versão “Amadora” da base inclusa no pacote, mas não é isso.

Reprodução

Sim, o monitor vem sem qualquer tipo de suporte, contando apenas com cabos na embalagem, o que significa que o usuário ou compra o Pro Stand, ou procura uma versão “alternativa”, ou ele vai precisar colocar o seu monitor novinho em uma parede ou deixá-lo deitado sobre a mesa.

A Apple anuncia uma série de capacidades interessantes para o Pro Stand, é verdade. O monitor é capaz de se adaptar a várias posições, permitindo que o usuário defina qual é sua configuração ideal, inclusive com a capacidade de rotacionar o painel entre as opções vertical e horizontal. No entanto, é fácil perceber que a notícia não agradou muito o público pela reação da plateia quando o preço de US$ 1.000 pela base foi anunciado no palco. É um burburinho de insatisfação claro que poderia virar uma se o tema não fosse abordado tão apressadamente.

A reação ao preço do Pro Stand parece ser um acúmulo de uma série de decisões da Apple tomadas ao longo dos últimos anos. A empresa tomou algumas posições bastante hostis ao consumidor, começando pela remoção da entrada de fone de ouvido do iPhone 7. Foi o início da “era dos adaptadores” para a companhia.

Foi a partir daí que a Apple começou a capitalizar com os acessórios para cumprir funções que eram nativas de versões antigas dos aparelhos. Até o iPhone 7, você não precisava de DOIS adaptadores para conseguir carregar seu celular enquanto escuta música no celular: um para bifurcar a porta Lightning do iPhone e outro adaptador para ajustar o fone com saída de 3,5 mm para a porta Lightning.

Em determinado ponto, a situação ficou estranha de forma que os próprios produtos da empresa pararam de conversar adequadamente. A Apple deixou de oferecer entradas USB-A em seus MacBooks há alguns anos, apostando exclusivamente no formato USB-C, mas o cabo que a empresa fornece com o iPhone ainda é USB-A até hoje. Isso força o usuário que quer carregar o iPhone no notebook ou simplesmente realizar a transferência de arquivos pelo (agora finado) iTunes a comprar outro adaptador.

Neste sentido, não parece surpreendente que a empresa tenha tomado a decisão de vender o monitor sem uma base, o que parece a posição mais anticonsumidor possível para uma empresa do porte da Apple, e que finalmente parece ter ressoado negativamente.

O que é interessante, porque já que a empresa conseguiu um preço tão aceitável para um monitor de altíssimo desempenho voltado para um público profissional acostumado a pagar tão mais caro, a Apple poderia ter incluído o suporte no pacote e cobrado US$ 1.000 a mais e ninguém ia perceber. No fim das contas, o monitor custaria US$ 6.000 ou US$ 7.000, dependendo da versão, e a empresa evitaria reações negativas por parte do público na apresentação.

Será interessante ver como o mercado de acessórios “third-party” reage nos meses após o lançamento do Pro Display XDR. O ajuste do monitor ao Pro Stand é proprietário da Apple, e não se sabe se a empresa licenciará essa possibilidade para outras empresas que poderiam oferecer um apoio mais barato. O fato é que muito provavelmente teremos pessoas comprando o monitor sem o suporte e equilibrando-o apoiado em uma parede, pelo menos enquanto não encontra uma alternativa mais adequada e acessível.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital