Os ataques terroristas do Estado Islâmico à cidade de Paris, na última sexta-feira, 13, causaram medo e comoção em diversas partes do mundo. O grupo hacker Anonymous anunciou nesta segunda-feira, 16, que vai “caçar” os responsáveis pelos atentados e declarou guerra aos extremistas.
Mas, afinal, de que modo é possível combater terroristas pela internet? O Olhar Digital consultou Arthur Cesar Oreana, especialista em segurança e tecnologia da informação da empresa de soluções em segurança Symantec, a respeito das possíveis ações que um grupo como o Anonymous pode tomar – e como uma possível “guerra cibernética” pode gerar consequências no mundo todo.
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que não é possível prever o que o Anonymous, especificamente, vai fazer contra o Estado Islâmico. O grupo já fez esse tipo de “declaração de guerra” no passado – mais recentemente após o atentado à redação da revista francesa Charlie Hebdo, em janeiro deste ano.
Na época, perfis do Anonymous no Twitter divulgaram uma relação de usuários da rede social que se diziam membros do Estado Islâmico ou faziam propaganda a favor do regime extremista do califado sugerido pelos terroristas. Arthur acredita, sim, que esse é um dos possíveis planos de ação dos hackers.
“Eles podem tirar sites de propaganda do Estado Islâmico do ar, denunciar perfis, mas é difícil elencar quais seriam os alvos. Só estando dentro do grupo para saber seu plano de ação. Mas a promessa deles é caçar terroristas pela internet”, diz o especialista. Segundo ele, porém, é mais provável que essa troca de ataques cibernéticos se limite apenas aos países mais diretamente envolvidos com a crise.
De acordo com Arthur, é pouco provável que um site mantido na Argentina, por exemplo – tendo ele ou não relação com o Estado Islâmico – seja atingido por essa “guerra virtual”. Dada a natureza do Anonymous, portanto, é mais prudente acreditar que esses ataques se limitem a prejudicar o sistema de propaganda dos terroristas, meio pelo qual eles recrutam novos membros na Europa e no Oriente Médio.
Um contra-ataque, porém, é o que pode tornar as coisas um pouco mais sérias. Se o Estado Islâmico encarar o Anonymous como inimigo, é possível que a organização lance uma série de vírus de computador que ataquem indústrias e setores da economia em países ocidentais. Uma estratégia que já foi vista no passado.
“A guerra cibernética é o quinto meio de guerra, depois da guerra na terra, no mar, no ar e no espaço. Já tivemos situações em que um vírus desacelerou o programa de enriquecimento de urânio em um país”, diz Arthur, em referência ao método utilizado para a obtenção de energia nuclear (e também de bombas). “Essa pode ser uma opção para o Estado Islâmico tanto de ataque quanto de contra-ataque. Não há como saber se outros países serão ou não afetados.”
Uma outra notícia divulgada aqui no Olhar Digital nesta segunda dá conta de que os terroristas poderiam ter utilizado um PlayStation 4 para se comunicar e planejar os ataques. De acordo com Oreana, é possível, sim, que o console seja utilizado para essa finalidade, mas não por uma questão de segurança ou criptografia.
“Se essa comunicação é feita pela rede da PSN, então ela está na internet, deixa rastros e pode ser interceptada. Redes ocultas como a dark web ou a deep web oferecem opções de encriptação e segurança muito mais avançadas neste sentido. A PSN é uma opção, pode funcionar ou pode não funcionar, mas nada impede a Sony [empresa que administra a rede do PlayStation] de encontrar terroristas usando o sistema”, conclui Oreana.