Testamos o Stadia: o serviço de jogos do Google entrega o que promete?

As promessas dos jogos em nuvem são interessantes demais para serem ignoradas
Renato Santino16/04/2019 00h49

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No mês de março, o Google revelou ao mundo o Stadia, o seu serviço de games por streaming que roda sobre a plataforma de computação em nuvem da empresa, o Google Cloud. A tecnologia chega com a promessa de tornar os consoles de videogames como conhecemos hoje obsoletos, mas o serviço realmente entrega o que promete? O Olhar Digital teve a oportunidade de testar durante o Google Cloud Next, evento realizado em San Francisco.

-> Tudo sobre o Stadia, a plataforma de streaming de jogos do Google
-> Do que o Stadia precisa para ser um sucesso?

Antes de tudo, o que é um serviço de games por streaming? Para quem não está familiar com o conceito, trata-se de um sistema que depende da internet para rodar um jogo: você envia os seus comandos com um controle por meio da rede para um servidor remoto, que processa suas ordens e transmite a imagem do game para a sua televisão, computador, tablet ou celular. Na prática, o console físico é removido da equação, permitindo que qualquer aparelho conectado à internet possa ser usado para jogar.

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Eu estava bastante cético com este conceito, para ser bastante honesto. A questão da latência sempre me intrigou; afinal de contas, não importa se sua conexão tem 200 Mbps: se o servidor ficar muito longe da sua casa, o tempo que o comando leva para chegar ao datacenter, ser processado e a imagem ser transmitida para a sua televisão pode inviabilizar os games mais rápidos, que dependem de maior agilidade. Se o atraso for muito grande, apenas jogos de combate por turno seriam viáveis.

Meu tempo com o Stadia serviu para amenizar um pouco estas minhas preocupações. Tive a oportunidade de experimentar o jogo “Assassin’s Creed Odyssey” exibido em uma televisão a um Chromebook por meio de uma porta HDMI. O game não é dos mais frenéticos, mas, mesmo assim, não senti um atraso significativo entre o pressionar de um botão e sua reação na tela.

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Também não há muito o que ser dito em relação à qualidade de gráficos. O Google diz que a largura de banda recomendada para o Stadia é de 25 Mbps para alcançar uma imagem estável de resolução 1080p com 60 quadros por segundo com folga, e esse limite foi superado com alguma tranquilidade com o setup que era disponibilizado naquele momento. O fato de que o Google é um dos grandes líderes na tecnologia de compressão de vídeo graças ao YouTube também faz com que a qualidade gráfica exibida durante os testes estivesse em seu máximo.

Uma coisa que, infelizmente, não foi possível testar foi o controle do Stadia. Quando você está acessando a plataforma por um computador, como o Chromebook que estávamos usando, você pode usar qualquer controle USB, e o que nos foi oferecido para os testes era, inclusive, bastante simplório, infelizmente. Teria sido interessante pegar no controle específico do Stadia, projetado para conectar-se diretamente aos servidores do Google por meio de Wi-Fi, em vez de ligar-se a algum dispositivo por Bluetooth.

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Conclusão

Minha reação com o Stadia pode ser descrita como uma decepção, não por falta de qualidade, mas pela expectativa. Quando coloquei as mãos no controle, senti que estava jogando em um console comum; sem engasgos, sem buffering, sem atraso… nada além de um controle na minha mão e um jogo rodando na tela. E, obviamente, este é o objetivo do Google com o Stadia: reduzir ao máximo o atrito para que o jogador sequer lembre que está jogando via streaming, sem um console físico conectado à TV.

Vale notar, no entanto, que a experiência de jogo foi consideravelmente otimizada pelo fato de eu estar em um ambiente completamente controlado pelo Google: a conexão era excelente e a distância para os servidores era a mínima possível, já que o Vale do Silício é bem servido de data centers do Google Cloud, então infraestrutura não era um problema.

Esses são desafios que definirão se o Stadia poderá ser bem-sucedido fora de um ambiente controlado, em países onde a penetração de fibra óptica não é tão ampla assim (como é o caso do Brasil). No entanto, pelo menos por enquanto, a tecnologia apresentada me deixou otimista. Os pontos positivos estão todos aí: a redução do custo de entrada, já que não é necessário adquirir um console caro para rodar os jogos, e a possibilidade de jogar qualquer jogo a qualquer momento em qualquer dispositivo, são vantagens claras dos games por meio do streaming. Agora resta ver se o Google conseguirá lidar bem com as dificuldades técnicas que um projeto do tipo invariavelmente terá.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital