Stadia, PS5 e Xbox ‘Scarlett’: saiba o que cada um tem a oferecer

Veja o que cada empresa apresentou até o momento, seus pontos fortes e pontos fracos
Renato Santino14/06/2019 01h02

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A E3 2019 acabou, e com isso podemos projetar o que vem pela frente para mais um ano no mundo dos videogames. Esta edição, no entanto, foi um pouco diferente das demais: tivemos um novo competidor pisando no território de Sony e da Microsoft: o Google e o seu projeto de jogos via streaming, o Stadia.

Além disso, a Sony não foi uma presença como de costume, mas nem por isso deixou de ser relevante. A companhia fez seus principais anúncios de forma difusa antes do evento, como o trailer de “Death Stranding” e a divulgação das primeiras informações sobre o PlayStation 5. De qualquer forma, a empresa ainda está pautando os próximos anos da indústria, mesmo sem uma apresentação formal na E3.

Diante disso, o que cada plataforma nova tem a oferecer? E o que cada uma tem de ponto fraco? É o que vamos discutir abaixo:

Google Stadia

Reprodução

O novo competidor no mercado de games tem um grande desafio pela frente. O Google precisa, antes de qualquer coisa, demonstrar que tem jogos para fazer valer a pena sua plataforma, o Stadia. Segundo, a empresa precisa provar que sua tecnologia de computação em nuvem funciona em grande escala e para pessoas que não tenham uma conexão ultrarrápida.

O Olhar Digital já teve a oportunidade de testar jogos por streaming nos servidores do Stadia, rodando sobre a plataforma Google Cloud. Naquela situação, totalmente sobre o controle da empresa, não havia uma latência notável, permitindo que o jogo se desenvolvesse de forma fluída mesmo que a máquina que estava rodando o jogo estivesse a quilômetros de distância da tela em que víamos as ações se desenrolando.

Fora desse ambiente controlado, as coisas tendem a ser mais preocupantes. Mesmo em países onde conexões de alta velocidade já são padrão, ainda existem regiões com internet fraca. É o caso das regiões mais centrais dos EUA, onde velocidades de 10 Mbps são padrão, em contraponto às zonas costeiras, que são tecnologicamente mais avançadas.

Diante desse cenário, talvez o modelo de negócios apresentado pelo Google talvez não seja o melhor. A empresa ainda vai cobrar por jogos individuais, operando de uma forma similar às lojas virtuais da PSN e Xbox Live, com a única diferença sendo o fato de não ser necessário baixar os games para um dispositivo local antes de reproduzi-lo.

O Stadia tem duas modalidades até o momento: a gratuita, que é “gratuita”, e permite a compra de jogos e reprodução em até 1080p e 60 quadros por segundo. Já a versão paga, que custa US$ 10 ao mês, tem descontos, acesso a alguns jogos “gratuitos” e resolução máxima chegando ao 4K. Não é muito diferente do que oferece um Xbox Live Gold ou uma PlayStation Plus.

Esse modelo implica um envolvimento com a plataforma que muitos talvez não estejam dispostos a dar. Afinal de contas, um modelo Netflix talvez fosse mais interessante, e daria aos usuários a chance de experimentar a plataforma e conhecer os jogos antes de realizar um compromisso maior que inclui a compra de jogos.

No entanto, o Google tem a vantagem de oferecer uma barreira menor de entrada à sua plataforma, já que para acessar o Stadia basta ter um computador com o Chrome instalado, o que significa que não é necessário comprar nenhum hardware novo. O Stadia, até o momento, é a plataforma de jogos mais acessível entre qualquer console da atual ou da nova geração, e isso pode contar pontos a favor. É ver como o mercado aceitará o conceito de games na nuvem e se as dificuldades técnicas envolvidas não impedirão os jogadores de aproveitarem jogos como eles se propõem a ser.

PlayStation 5

Reprodução

A Sony não apresentou-se formalmente na E3,, mas a empresa realizou uma série de pequenos anúncios ao longo dos últimos meses que podem ser considerados uma E3 “difusa”.  Sony entra na nova geração pressionada. O sucesso do PlayStation 4 é indiscutível, mas a empresa se colocou em uma posição de dependência de sua divisão de jogos, graças ao naufrágio de suas divisões de TVs e celulares, que força o PS5 a repetir os bons resultados do PS4, sob o risco de levar a companhia ao buraco.

E a empresa entra nessa disputa logo de cara em uma situação desconfortável. Ninguém sabe exatamente se os jogos em nuvem serão um sucesso ou não, mas essa é uma aposta do mercado para os próximos anos, mas a Sony é a empresa que mais tem a perder se essa tecnologia for para frente.

Do outro lado da mesa, há nomes como Google e Microsoft, que são empresas que já têm fazendas de servidores gigantescas para sustentar serviços em nuvem como o Google Cloud e o Azure, que servirão de base para suas plataformas de cloud-gaming. Enquanto isso, a Sony sofre para manter a PSN no ar.

Obviamente não vale a pena para a Sony criar uma fazenda de servidores tão robusta quanto a de Google e Microsoft para sustentar apenas seus jogos em nuvem, o que fez com que ela fosse atrás de uma parceria, acertando um contrato justamente com a arquirrival Microsoft. Ainda que

Se o cloud-gaming não for algo definidor da próxima geração, ainda assim a Sony enfrentará desafios pela sua dependência do PlayStation. Isso força a empresa a ter sucesso com o PS5, ou entrar em uma crise sem precedentes, em um momento em que sua concorrência está aumentando, em vez de diminuir.

Para o consumidor, no entanto, isso pode ser bom. Se o PlayStation é hoje o grande motor da Sony, a empresa não poupará esforços para que sua plataforma seja o sucesso que precisa ser. Isso significa grandes investimentos em jogos, com novas franquias e novos capítulos de franquias antigas.

Em termos de hardware,  a empresa divulgou algumas coisas sobre o PS5 antes da E3, e são apenas essas informações que temos até hoje. O processador adotado será um de oito núcleos baseado na linha Ryzen, da AMD. A GPU será uma versão customizada do Radeon Navi, também da AMD. O console vai ter suporte à tecnologia Ray Tracing – que oferece mais realismo na iluminação de objetos tridimensionais – e também uma unidade de áudio 3D.

Uma mudança que promete fazer bastante diferença na vida dos jogadores, apesar de não parecer tão interessante em um primeiro momento, é a substituição do disco rígido por uma nova unidade que, de acordo com a Sony, é mais veloz inclusive do que SSDs atuais. Com isso, a Sony afirma que o tempo de carregamento de um jogo no PS5 será muito menor do que nos consoles atuais. Como exemplo, a empresa diz que uma tela de loading de 15 segundos no PS4 Pro seria reduzida a 0,8 segundo no PS5.

Isso indica um console altamente poderoso, mas são necessários mais detalhes sobre o produto final antes de qualquer conclusão. Afinal de contas, o PS5 não existe em uma bolha isolada: para podermos falar com assertividade sobre ele, precisamos saber o que a concorrência, especialmente o Xbox, irá oferecer.

O novo Xbox “Scarlett”

Reprodução

Não há como dar qualquer palpite sobre qual será o nome do novo Xbox, porque a Microsoft não respeita nenhum padrão de nomenclatura: “Xbox”, “Xbox 360” e “Xbox One” não têm qualquer lógica entre si, então não seria surpresa se a empresa surgisse com algo completamente diferente como “Xbox Ômega” ou algo similar.

Diante disso, “Scarlett” é o único nome pelo qual podemos tratar o novo console; trata-se do codinome oficial da plataforma, usado internamente, e que infelizmente provavelmente será abandonado quando o console ganhar um nome oficial.

O que a Microsoft apresentou até o momento, no entanto, foi basicamente para se colocar em igualdade de condições com a Sony. As duas empresas estão evitando falar em teraflops até o momento, então o que temos até o momento são especificações genéricas e pouco detalhadas sobre o que o Scarlett vai oferecer.

No entanto, sabe-se com certeza que ele será parrudo. A Microsoft não quer repetir os erros do início desta geração, no qual o Xbox One além de mais caro sofreu pela falta de potência na comparação com o PS4, o que alavancou a liderança da Sony logo no início da disputa.

O que está confirmado até o momento é o uso de uma CPU personalizada que será baseada na arquitetura Zen 2 da AMD, com memória RAM GDDR6 e SSD para armazenamento que promete também fazer as vezes de memória RAM virtual. Isso permitirá a execução de jogos em 8K, alcançando taxas de quadros de até 120 frames por segundo. Ele também terá suporte ao Ray Tracing confirmado no PS5. A promessa é de reduzir drasticamente os tempos de carregamento dos jogos, oferecendo mais realismo gráfico.

A empresa também falou sobre o xCloud, sua plataforma de jogos em nuvem, que deverá competir com o Stadia e o PlayStation Now, mas não deu qualquer detalhe. A Microsoft só falou que haverá duas modalidades: streaming a partir da nuvem, que funcionará como no Stadia e no PS Now, e outra que permitirá streaming a partir do console, o que permite rodar os seus próprios jogos do Xbox e jogá-los pelo celular ou outros aparelhos. Essa última modalidade será gratuita; a primeira, não, mas o preço ainda não é conhecido.

A Microsoft parece estar bem preparada para a próxima geração de um ponto de vista técnico, tanto em relação ao seu próximo console físico quanto em relação ao seu serviço de nuvem, que, com testes realizados na E3 mostraram uma latência mínima entre o pressionar de botões e a reação na tela (obviamente em condições completamente controladas de teste). A comparação do site Ars Technica mostra que foi notada uma diferença de apenas 4 milissegundos entre o tempo de reação de um comando de Halo 5 sendo executado localmente de um comando para a versão executada na nuvem, o que é uma diferença desprezível. Se isso for verificado no mundo real, não há qualquer desvantagem entre rodar um jogo no xCloud em comparação à execução local.

No entanto, o desafio da Microsoft é provar-se na questão do software para o Scarlett. A empresa perdeu boa parte de seu público da geração Xbox 360 (as vendas do One são bem menores do que do 360) porque não foi capaz de convencê-los com sua oferta de games exclusivos, sempre fincado na trinca “Forza”, “Halo” e “Gears”, que podem ficar saturadas. E a conferência fez pouco para mostrar que a empresa está investindo em novas grandes franquias além dos seus três principais pilares.

Isso não significa que não haverá grandes jogos para o Scarlett, e a apresentação foi recheada com jogos menores e interessantes, mas faltou aquela novidade estonteando. A Microsoft sabe dessa necessidade, e não é à toa que tem comprado empresas para integrar o Xbox Game Studios, mas é possível que os resultados só possam ser verificados em sua totalidade dentro de alguns anos.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital