Ainda faltam alguns meses para o lançamento dos novos consoles, que só deve acontecer no fim do ano (se o coronavírus não atrapalhar), mas tanto Microsoft quanto Sony já detalharam tecnicamente o que podemos esperar do Xbox Series X e do PlayStation 5, respectivamente. E o que se sabe até o momento é que os novos consoles podem mudar fundamentalmente os jogos e a forma de jogar.
Como é tradicional nesses casos, a nova geração significa um salto de desempenho. Processadores mais rápidos e GPUs mais poderosas resultam em um salto gráfico notável na comparação com os antecessores, mas essa geração conta com uma mudança específica que não foi vista nos últimos saltos geracionais: o SSD.
Quem acompanha o Olhar Digital provavelmente já sabe o que é um SSD, mas vale a pena reforçar. O disco de estado sólido é uma tecnologia que oferece velocidades de gravação e leitura significativamente mais rápidas do que um disco rígido convencional, o que tem várias aplicações. No mundo dos computadores, essa capacidade se manifesta, por exemplo, ao fazer até mesmo um PC velho ligar em poucos segundos.
Já no mundo dos consoles, o SSD é uma novidade. Nesta geração que se aproxima do fim, a Microsoft chegou a lançar o Xbox One Elite equipado com a tecnologia, mas tratava-se, na verdade, de armazenamento híbrido, com um pequeno SSD dedicado a abrigar o sistema, mas a maior parte ainda era um HD convencional. Assim, é a primeira vez que os consoles realmente se apoiarão no SSD como parte integral da experiência de jogo. E isso muda tudo.
A Sony bateu forte nesta tecla com sua apresentação das especificações do PS5. O SSD M.2 de 825 GB previsto para o console conta com velocidades que podem chegar a 9 gigabytes por segundo utilizando compressão. Nas palavras de Mark Cerny, chefe de arquitetura do console, a decisão liberta os desenvolvedores de jogos.
Você talvez já tenha se anestesiado, mas games contam com uma série de formas de mascarar telas de “loading” (isso quando elas não são explícitas). Quem já jogou “Mass Effect” deve se lembrar das incontáveis e demoradas cenas em elevadores, que funcionavam para levar o jogador de um cenário a outro e tentar minimizar o tédio de esperar para que tudo fosse devidamente carregado.
“Vamos supor que estejamos fazendo um jogo de aventura, e temos dois ambientes ricos, nos quais queremos texturas e modelos suficientes para preencher a memória. Você pode fazer isso, desde que você utilize uma escadaria grande, ou um elevador ou um corredor com vento, com o qual você pode descartar os elementos antigos enquanto leva 30 segundos ou mais para carregar o novo cenário”, explica Mark Cerny sobre a situação dos jogos até os dias de hoje.
Um outro sintoma dessa limitação de desempenho dos consoles são cenários repetitivos, já que o reaproveitamento de elementos evita que eles tenham que ser descartados e recarregados frequentemente. Da mesma forma, desenvolvedores às vezes se veem forçados a recorrer a cenários menores, que precisam carregar menos objetos na memória.
Ou seja: com as maiores velocidades do SSD, essa troca de elementos do armazenamento para a memória RAM é quase instantânea, o que deve oferecer aos desenvolvedores maior liberdade na criação de cenários sem precisar recorrer a “gambiarras” para maquiar limitações técnicas.
Um outro efeito colateral positivo da transição para os SSDs é que isso pode reduzir o tamanho dos games, que já beiram a centena de gigabytes em muitos casos na geração atual, e com texturas de maior resolução poderiam ficar ainda mais pesados com os novos consoles.
Mark Cerny, novamente, explicou isso no ano passado quando falou pela primeira vez sobre o PS5. Os HDs convencionais consistem em discos que giram e são lidos por um braço mecânico. Isso significa que. Isso faz com que desenvolvedores muitas vezes gravem múltiplas vezes o mesmo elemento no armazenamento, para garantir um acesso rápido aos itens mais importantes. Com o SSD, não há essa limitação mecânica, o que permite dispensar a necessidade de replicar o conteúdo no armazenamento do console, o que resulta em jogos que ocupam menos espaço em disco do que seria necessário com um HD.
Assim, a grande inovação técnica da geração, até o momento, parece não estar ligada a processadores, GPUs ou “teraflops”, que certamente podem proporcionar um salto de qualidade gráfica, mas não mudam a forma como os games funcionam. A mudança drástica na tecnologia de armazenamento, por sua vez, pode ter impacto revolucionário na forma como os games são produzidos e na forma como eles são consumidos e aproveitados.
Neste sentido, a Sony parece ter uma liderança sobre a Microsoft, a julgar pelas fichas técnicas divulgadas pelas empresas até o momento. O SSD do PS5 alcança velocidades de até 9 GB por segundo quando é utilizada compressão, o que é cerca do dobro do anunciado para o Xbox One Series X, que chega a 4,8 GB por segundo utilizando compressão.
O que os números nos dizem até o momento é que os teraflops extras do Xbox Series X podem proporcionar gráficos mais parrudos e realistas, mais definição de vídeo e uma taxa de quadros mais alta e mais estável. O PS5, por sua vez, pode ser mais rápido para abrir jogos e carregar elementos na fase, permitindo experiências que não eram possíveis até a nova geração. No entanto, no fim das contas, qualquer diferença entre os dois ficará por conta dos desenvolvedores, especialmente nos games multiplataforma; se eles decidirem nivelar gráficos e desempenho, pode ser que nada disso seja perceptível. É esperar para ver.