Mega Drive faz 30 anos, veja 10 curiosidades sobre ele

Lançado no ocidente em 1989, videogame de 16 Bits ajudou a colocar a Sega no mapa, desafiou a hegemonia da Nintendo e conquistou legiões de fãs, muitos deles aqui no Brasil
Rafael Rigues18/07/2019 19h57, atualizada em 20/07/2019 13h00

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Parece que foi ontem (especialmente para quem viveu a época), mas em 14 de agosto o Mega Drive irá completar 30 anos de seu lançamento no ocidente. O console elevou os jogos domésticos a um novo nível, ajudou a estabelecer a Sega como uma das grandes empresas no setor, desafiou a hegemonia da Nintendo e até hoje faz o coração dos fãs bater mais forte.

Para celebrar (e relembrar) o legado do “Mega”, preparamos este artigo com 10 fatos sobre o console. E por mais fã que você seja, aposto que não conhece alguns deles. Então sente-se no sofá, pegue seu controle e volte no tempo com a gente!

1. Descendente dos arcades

Antes de conseguir sucesso no mercado de consoles domésticos, a força da Sega estava nos arcades, também conhecidos aqui no Brasil como “fliperamas”. E foi lá que a empresa foi buscar inspiração para seu novo aparelho. O Mega Drive foi baseado na placa System 16, um sofisticado sistema de 16-Bits que foi lançado em 1985 e que serviu de lar para jogos que se tornaram clássicos como Shinobi, Golden Axe, E-Swat, Alien Syndrome e Altered Beast, entre outros.

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Placa System 16B, da Sega, com o jogo Altered Beast. Foto: System16.com

Por isso não é de se espantar que versões e sequências destes jogos aparecessem no console. Altered Beast, por exemplo, foi um dos títulos de lançamento e apareceu com destaque na caixa e comerciais do console, inclusive aqui no Brasil.

2. O quinto filho

Antes do Mega Drive, a Sega lançou o Master System. Então o Mega foi seu segundo console, certo? Errado! O Mega Drive é nada menos que o quinto console doméstico da empresa.

Vamos contar: o primeiro console foi o SG-1000, de 1983, um “primo” do Colecovision norte-americano e de computadores da família MSX que foi sumariamente ofuscado pelo Famicom, da Nintendo. O segundo foi o SG-1000 Mark II, uma versão revisada do console anterior com uma carcaça diferente.

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Os quatro consoles lançados pela Sega antes do Mega Drive. Da esquerda para a direita, de cima para baixo: SG-1000, SG-1000 Mark III, Sega Mark III, Master System. Fotos: Sega Retro

O terceiro foi o Mark III, uma versão expandida do Mark II com gráficos melhores e mais memória. Este serviu de base para o que no exterior ficou conhecido como Master System, mas que internamente era chamado pela Sega de Mark IV. Por isso, durante o desenvolvimento, o Mega Drive era chamado de Mark V.

3. Múltiplas identidades

O Mega foi lançado no Japão com o nome de Mega Drive (que também foi adotado no Brasil e Europa). Mas ao desembarcar nos EUA, a Sega esbarrou em um problema: uma empresa fabricante de acessórios para computador já tinha registrado esse nome. A solução foi rebatizar o console como “Genesis”. Além da conotação bíblica, o nome representava um “renascimento” da Sega no mercado de videogames nos EUA, já que o Master System nunca fez sucesso por lá.

Mas estes não foram os únicos nomes do console. Na Coréia do Sul ele era conhecido como Super Gam*Boy e foi distribuído pela Samsung! Isso por causa de leis que dificultavam que empresas japonesas fizessem negócios no país, fruto das tensões entre o Japão e Coréia do Sul devido a um extenso período de ocupação japonesa do país, que só terminou com o fim da segunda guerra.

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Na Coréia do Sul, o Mega Drive era distribuído pela Samsung. Foto: Sega Retro

4. Pai de muitos outros

A Sega tinha uma tradição: construir seus consoles e arcades de forma modular, com uma geração “expandindo” os recursos da outra. Por isso o Mark III era compatível com os jogos do SG-1000 Mark I e II, e o Mega Drive era nativamente compatível com os jogos do Mark III e Master System, bastando um adaptador para os cartuchos.

Por isso, quando viu que era necessário fortalecer o Mega Drive para fazer frente a novos concorrentes, como o PC-Engine CD da NEC e Super Famicom da Nintendo, a Sega adotou uma estratégia de acessórios de expansão. A idéia é que os usuários poderiam fazer um upgrade de seus consoles sem perder acesso a todos os jogos e acessórios nos quais já haviam investido.

Daí nasceram produtos como o Mega CD ou Sega CD, uma unidade que permitia que o console rodasse jogos em CD-ROM, com trilhas sonoras orquestradas, sequências em vídeo e novos efeitos gráficos.

Já o 32X era uma tentativa de oferecer um “salto de geração”, transformando o console num sistema de 32-Bits, com maior poder de processamento. Ambos podiam até mesmo ser combinados no Sega CD 32X, um monstrinho de sistemas empilhados um em cima do outro que, além de feio, era caro e só recebeu seis jogos.

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O “monstrinho” Mega Drive, Mega CD (ambos da segunda geração, com design slim) e 32x (no topo). Foto: Wikimedia Commons.

Além disso também houveram híbridos, descendentes e variantes. O Wondermega ou X-Eye era uma combinação de Mega Drive e Mega CD em um só console, com um design muito mais atraente e esbelto, mas um preço alto demais para que pudesse se popularizar.

O Mega Jet era uma versão portátil, feita para ser usado com sistemas de entretenimento de bordo da companhia aérea japonesa JAL. Por isso não tinha uma tela, o usuário deveria usar a que estivesse em frente ao seu assento.

Já o Nomad, de 1994, era um verdadeiro portátil, criado como um sucessor do Game Gear. Ele tinha tela colorida e rodava quase todos os cartuchos do Mega Drive, mas tinha um grave defeito: gastava pilhas como se não houvesse amanhã.

Por fim o Neptune, nunca lançado, seria um Mega Drive com o 32X embutido e um novo design. Até hoje nunca foi encontrado um prótótipo funcional do console, apenas um “mock up” de como seria seu gabinete. Isso não impede fãs de criar seus próprios “Neptune”, embutindo (com muita paciência) um 32X dentro de um Mega Drive.

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Sega Neptune, combinação de Mega Drive com 32x, nunca lançado. Foto: Sega Retro

5. Mega Drive + Computador = ?

Além das variantes citadas acima, houveram várias tentativas de combinar um Mega Drive com um computador pessoal. A primeira foi o Tera Drive, da própria Sega, desenvolvido em parceria com a IBM e lançado em 1991. Ele combinava um Mega Drive completo com um PC baseado em um processador 286, o que era um problema pois na época de seu lançamento este chip já estava obsoleto.

Além de rodar jogos do Mega Drive em cartucho, o Tera Drive era um PC comum com 640 KB de RAM, DOS 4.0, uma ou duas unidades de disquetes de 3,5” e, na configuração mais cara, um HD com a impressionante capacidade de 30 MB.

As duas “metades” do sistema podiam se comunicar, e um dos softwares que acompanhava o console era o “Puzzle Construction Kit”, que permitia que o jogador usasse o PC para personalizar um quebra-cabeças estilo “Columns” que rodava no Mega Drive.

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Tera Drive, mistura de PC 286 da IBM com um Mega Drive. Foto: Sega Retro

A segunda tentativa de combinar um PC e Mega Drive foi o Mega PC, lançado pela inglesa Amstrad em 1993, que foi bem menos ambiciosa: não havia integração entre as duas metades, que simplesmente ocupavam o mesmo gabinete e usavam o mesmo monitor. Para escolher qual “lado” usar, bastava deslizar um painel na frente do gabinete. A vantagem em relação ao Tera Drive era o hardware bem mais sofisticado no lado PC, baseado em um processador 386 acompanhado por 1 MB de RAM e HD de 40 MB.

Além destes dois, a empresa Kuaitiana Sakhr Computers lançou dois híbridos de Mega Drive e MSX, uma família de computadores de 8-Bits que foi muito popular no Japão e no Brasil. O AX-660 e o AX-990 eram MSX de primeira geração (MSX 1, tecnicamente equivalentes ao Expert, da Gradiente, vendido aqui no Brasil), combinados com um Mega Drive no mesmo gabinete.

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AX-660, mistura de Mega Drive com computador MSX, lançado no Oriente Médio. Foto: MSX Wiki

Havia dois slots para cartuchos, um no padrão MSX e outro no padrão do Mega Drive, e os sistemas eram completamente separados: o usuário escolhia qual usar através de uma chave na traseira do computador. A idéia era oferecer os softwares educacionais e de produtividade disponíveis para os MSX em um pacote que também fornecesse acesso aos jogos mais sofisticados do Mega Drive, uma espécie de “melhor dos dois mundos”.

6. Ele quase derrubou a Nintendo

Quando o Mega Drive foi lançado nos EUA, o mercado de videogames domésticos no país era dominado pela Nintendo. Mas graças a uma estratégia bem planejada, que envolveu o desenvolvimento de jogos com ícones da cultura norte-americana (incluindo esportistas como Joe Montana e cantores como Michael Jackson) e uma imagem mais adulta, a Sega foi aos poucos revertendo esta situação.

Em 1994 a Sega chegou a deter 55% do mercado norte-americano de consoles de 16 Bits, e durante quatro anos vendeu mais que a Nintendo na temporada de fim de ano. Em alguns momentos, nos EUA, eram vendidos dois Mega Drives para cada Super Nintendo.

7. Vendeu milhões

Quase 35 milhões de consoles foram vendidos pela Sega, tornando o Mega Drive, sem dúvidas, seu maior sucesso. Destes, mais de 3 milhões de consoles foram vendidos no Brasil. O jogo mais vendido foi Sonic the Hedgehog, que não por acaso se tornou a mascote da Sega, com 15 milhões de unidades.

8. Mais brasileiro que japonês?

O Brasil foi um dos países onde o Master System fez mais sucesso, e não é de se estranhar que o mesmo acontecesse com seu sucessor. Considerando que foi lançado por aqui em Setembro de 1990, isso significa que o Mega Drive está à venda em nossas lojas, de uma forma ou outra, há nada menos que 29 anos!

Para que isso acontecesse, a Tectoy teve que se adaptar. Quando a Sega abandonou o console, em 1995, a empresa brasileira resolveu “carregar o bastão”, reempacotando o produto como uma opção de baixo custo para quem estava entrando no mundo dos videogames.

Com isso, começou um ciclo de inúmeras variantes com diferentes conjuntos e quantidades de jogos embutidos na memória e variações cosméticas. Somando tudo, mais modelos do Mega Drive foram lançados no Brasil do que no Japão.

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O “Mega Drive 3” da Tectoy tinha design completamente diferente dos modelos da Sega, e também rodava jogos de celular. Foto: Tectoy / Divulgação.

Tivemos por aqui alguns modelos únicos como várias versões do “Super Mega Drive 3” na cor branca (acompanhado de controles de seis botões na mesma cor), uma versão de 2007 também chamada “Mega Drive 3”, mas sem a entrada de cartuchos e com 81 jogos na memória, o estranho “Mega Drive 3” de 2008, com design vertical em um pedestal, que em nada se parece com os modelos da Sega e traz alguns jogos de celular na memória e o “Mega Drive 4 Guitar Idol” de 2010, que vinha com uma guitarra e um jogo no estilo Guitar Hero, com músicas de bandas brasileiras como Mamonas Assassinas e CPM 22.

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A guitarra do Mega Drive Guitar Idol, que trazia músicas de bandas nacionais. Foto: Tectoy / Divulgação

Além disso, tivemos também o Mega Drive Portátil (ou MD Play), um console de bolso com jogos na memória e slot para cartões micro SD, e recentemente o relançamento do console pela Tectoy, já apelando para a nostalgia, com o mesmo design e embalagem do modelo de primeira geração, entrada para cartuchos e slot para cartões micro SD, mas vários problemas de compatibilidade com alguns cartuchos originais.

9. Jogos brasileiros

Assim como fez no Master System, a Tectoy investiu no desenvolvimento ou tradução de jogos de Mega Drive para o mercado nacional. Um dos primeiros títulos foi o terceiro episódio da série de aventuras da Turma da Mônica, chamado Turma da Mônica na Terra dos Monstros, uma adaptação de Wonder Boy in Moster World com personagens de nossa cultura e nosso idioma.

Outra adaptação digna de nota foi a versão em português de “Yu Yu Hakusho: Sunset Fighters”, da Treasure. A série de TV fazia muito sucesso por aqui na época (1995) e, fora o Japão, o Brasil foi o único país a receber este excelente jogo de luta, totalmente traduzido.

Mas a Tectoy também se aventurou em produções originais. A primeira para o Mega Drive foi “Férias Frustradas do Pica Pau”, de 1996, um dos poucos jogos com o insano personagem de Walter Lantz. O programa de TV “Show do Milhão” também virou jogo, com direito a continuação (Show do Milhão 2) e a voz do apresentador Silvio Santos.

Mas o projeto mais ambicioso foi Duke Nukem 3D: sim, aquele dos PCs. A versão para o Mega Drive tem fases, gráficos e som bastante simplificados, com cenários lembrando mais os corredores de Wolfenstein 3D do que os mapas variados e abertos do PC, mas ainda assim é um feito impressionante.

10. Ele está de volta!

2019 é um bom ano para os fãs do Mega Drive, já que há duas novas formas de experimentar os jogos do console com toda a comodidade das TVs modernas: o Mega SG, da norte-americana Analogue, e o Mega Drive Mini, da Sega.

O Mega SG é uma reimplementação do Mega Drive em um FPGA, um tipo de chip que pode ser reconfigurado para funcionar como o projetista quiser. Neste caso, ele sozinho assume a função das duas CPUs (MC68000 e Z80), além dos processadores de som e de vídeo do Mega Drive.

A Analogue já tinha usado a mesma abordagem para criar o NES (NT Mini) e o SNES (Super NT), e os resultados são excelentes. A compatibilidade é quase perfeita, incluindo jogos que usam processadores extras (como Virtua Racing) e acessórios como o Sega CD. Em um menu central há várias opções que permitem configurar a imagem e som do console nos mínimos detalhes, ao gosto do freguês.

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Além disso, o Mega SG também pode rodar jogos de Master System (com um adaptador incluso) e poderá rodar também jogos de Game Gear (o portátil de 8 Bits da Sega) e SG-1000 com adaptadores que serão comercializados posteriormente.

Já o Mega Drive Mini é a tentativa da Sega de embarcar na onda de nostalgia criada pela Nintendo com o NES Classic e Super NES Classic. O console, que é uma versão diminuta do design original, virá com 40 jogos na memória, além de dois títulos inéditos: uma versão de Darius, jogo de arcade que nunca apareceu no Mega Drive, e uma readaptação de Tetris, um dos jogos mais raros do console.

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O Mega Drive Mini segue o design do modelo original, em tamanho menor, e traz 40 jogos na memória. Foto: Sega.

A Sega não poupou esforços para agradar os fãs. O menu de seleção dos jogos tem música de Yuzo Koshiro, compositor famoso pelas trilhas sonoras de Streets of Rage e Beyond Oasis, dois dos jogos mais queridos no console. O desenvolvimento do software esta à cargo da M2, empresa conhecida por ir “além do dever” ao preservar e adaptar jogos antigos para sistemas modernos.

São poucos os produtos que podem chegar aos 30 anos de mercado com o vigor mostrado pelo Mega Drive. E se depender do entusiasmo dos fãs, podemos esperar mais 30 anos cheios de diversão e aventuras por aí. E você, tem lembranças do Mega Drive? Quais seus jogos favoritos?

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital