Jogos via streaming: o futuro está cada vez mais próximo

Daniel Junqueira02/10/2018 19h52, atualizada em 03/10/2018 19h30

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Megaprojetos

No futuro, games poderão funcionar mais ou menos como músicas e filmes atualmente: você escolhe um aparelho de sua preferência, abre o jogo desejado e começa a jogar sem precisar inserir disco e nem fazer download. É mais ou menos com isso que a indústria sonha: games via streaming a qualquer lugar e a qualquer momento.

Esse futuro está ao mesmo tempo relativamente próximo – já existem iniciativas nesse sentido – e também bastante distante – os obstáculos para a popularização dos games via streaming são muitos. Google, Microsoft e Sony são algumas das empresas que já investem na área, e, dependendo delas, consoles ficarão no passado e os jogos vão rodar basicamente em qualquer lugar, sem nenhum tipo de limitação por hardware.

O streaming no futuro

Quando você quer assistir a uma série da Netflix, provavelmente abre o app do serviço na TV, em algum console, no celular ou até mesmo no computador, seleciona o vídeo desejado e começa a assistir. Quando você quer ouvir um artista, abre o Spotify no dispositivo preferido, escolhe a música e começa a ouvir. Os jogos por streaming funcionam da mesma forma, mas com algumas exigências extras em relação a outras formas de mídia como áudio ou vídeo.

Jogos oferecidos por streaming dispensam a necessidade de comprar consoles caros a cada vez que fabricantes lançam uma nova geração de videogames. Eles rodam em um servidor, que transmite as informações para o usuário. Em um mundo ideal, o streaming da Microsoft vai permitir que jogos do atual Xbox sejam rodados até mesmo em um celular básico. Mas esse mundo ideal está longe de existir, e as limitações do mundo real comprometem bastante o projeto do streaming de games.

O maior obstáculo fica por conta das conexões de internet. Para um jogo via streaming funcionar bem, é preciso que a conexão seja estável, confiável e muito rápida. Como a execução do jogo é remota, todas as ações feitas pelo jogador – como apertar um botão para saltar, por exemplo – precisam ser enviadas pela internet, para a resposta do game ser reenviada ao usuário.

Diferentemente de quando o jogo roda em um console local, que o pressionar de um botão é reconhecido imediatamente pela máquina, no caso do streaming essas informações precisam viajar, e as viagens podem ser longas. Assim, antes de imaginar um futuro em que todos os games rodam em qualquer lugar, é preciso pensar que esse mundo vai ter internet de qualidade o tempo inteiro (o que é bem difícil de se imaginar agora).

O streaming hoje

Na segunda-feira, 1, o Google anunciou o Project Stream, um serviço que promete rodar mesmo jogos pesados em computadores leves a partir do navegador Chrome. Enquanto o Google começa a testar seu serviço, a Sony já tem um funcionando, a Microsoft trabalha no seu, e a Nintendo ainda não tem nada oficial a respeito, mas não se mostra contra a implementação do streaming por outras empresas.

No caso do Google, o Project Stream vai ter uma fase de testes bem limitada: alguns poucos usuários vão ter acesso ao serviço, que vai oferecer “Assassin’s Creed Odyssey” em resolução 1080p e a 60 quadros por segundo dentro do navegador Chrome, com a possibilidade do uso de controles de PlayStation 4 ou Xbox One.

Mas há um obstáculo: além de ser restrito aos Estados Unidos, o serviço também exige uma conexão bem robusta, de pelo menos 25 megabits por segundo.

Durante a E3 2018, a Microsoft anunciou que já prepara um serviço de streaming para o Xbox, mas por enquanto nenhum detalhe foi divulgado. Segundo rumores, a próxima geração do console da Microsoft vai ser inclusive lançada na forma de um aparelho voltado exclusivamente para streaming – ele seria mais barato do que o console convencional, mas exigiria conexão constante com a internet para rodar os games, enquanto o outro modelo poderia rodar a partir de discos ou armazenamento interno.

A empresa já trabalha no serviço há algum tempo. Protótipos foram desenvolvidos antes mesmo do Xbox One ser lançado, mas a plataforma foi considerada cara demais para a época e acabou sendo deixada de lado. Agora, com avanços do Microsoft Azure, a companhia acredita que esteja próxima de possibilitar um streaming confiável para futuros consumidores de dispositivos Xbox.

Enquanto isso, a Sony já tem o PlayStation Now. Lançado em 2014 com tecnologia da empresa Gaikai, comprada pela Sony em 2012, o serviço é restrito a alguns poucos lugares do mundo atualmente. No Brasil, por exemplo, ele não está disponível. Nos Estados Unidos, onde custa US$ 20 por mês, ele exige também uma conexão de pelo menos 5 megabits por segundo cabeada e com limitação de velocidade para outros dispositivos que estejam ligados à mesma rede.

Com um catálogo com mais de 600 títulos entre games de PlayStation 2, 3 e 4, o serviço é atualmente o mais robusto de streaming disponível, embora não seja acessível para muita gente. Ele roda tanto no PS4 quanto em PCs – ou seja, os jogos ainda não podem rodar em qualquer aparelho, como um celular básico ou um tablet.

Para finalizar as três gigantes da atualidade, a Nintendo não tem nada oficial para streaming de jogos, mas outras empresas podem lançar soluções para o Switch. A Capcom e a Ubisoft já fazem isso: no Japão, “Resident Evil 7” e “Assassin’s Creed Odyssey” estão disponíveis sob demanda no console híbrido. São dois games que, em condições normais, o Switch não tem potência para rodar. Mas, como no streaming a parte pesada de rodar um jogo é feita remotamente, os jogadores acabam conseguindo aproveitar os títulos no console.

A Nvidia também tem o GeForce Now, que oferece acesso a diversos jogos no macOS, Windows e nos dispositivos da linha Shield – por enquanto, o serviço é restrito aos Estados Unidos.

Streaming local é realidade

Enquanto o “Netflix dos jogos” não existe para todos, pelo menos já é possível fazer streaming dos seus próprios jogos para outros dispositivos – em alguns casos. A Nvidia oferece um serviço para donos de algumas das GPUs mais potentes da empresa e para o dispositivo Nvidia Shield, enquanto Microsoft e Sony incorporaram um recurso nativo em seus consoles.

Quem tem um PS4 pode, por exemplo, jogar games do console no PC ou em um PS Vita. E tudo o que é necessário, além de algumas configurações, é que o videogame esteja conectado a uma rede de internet confiável. Assim, games como “Bloodborne” podem ser jogados mesmo a distância. O mesmo vale para a Microsoft e o Xbox One.

Ainda não é um serviço tão atraente quanto um que você abre em qualquer lugar, escolhe um jogo e começa a jogar, mas já é algo que ao menos permite que o usuário jogue sem ser no console nativo. Enquanto as conexões de internet não forem suficientemente confiáveis, e a latência da transmissão dos games for mais alta do que o indicado, o melhor jeito de rodar um jogo remotamente vai ser esse. Mas quem sabe as coisas mudem no futuro.

Ex-editor(a)

Daniel Junqueira é ex-editor(a) no Olhar Digital