Gears of War 4 tinha tudo para ser ruim. O jogo é uma continuação de uma franquia que já teve outros quatro capítulos, com uma trama que se encerra de forma conclusiva após a trilogia original. Seus personagens mais marcantes tiveram seus arcos concluídos satisfatoriamente. O último jogo da série, Judgment, não foi grandes coisas. O desenvolvimento mudou de mãos, deixando a Epic Games para o estúdio The Coalition, da própria Microsoft; este processo costuma ser traumático.

Pois bem. Tinha tudo para ser ruim, mas não é.

O maior desafio de um game como esse, mais do que criar e manter boas mecânicas, é convencer a sua base de fãs de que não estão sendo traídos. Assegurá-los de que a série está no caminho certo, que os personagens originais são devidamente respeitados e que os novos protagonistas tenham tanto ou mais carisma que os antigos. Este parece ter sido o principal cuidado da Coalition para Gears 4.

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E, sim, este também é seu ponto forte. Os novos personagens JD, filho de Marcus Fenix, Kait e Del são altamente carismáticos, interessantes e a seus diálogos são sensacionais, ajudados por uma excelente atuação de seus dubladores. Aqui vale um alerta: preferi jogar com a dublagem original em inglês por estar acostumado com as vozes dos personagens neste idioma dos outros games da série. Não posso atestar a qualidade da atuação dos dubladores brasileiros.

Os três novos heróis, cada um com seus traços próprios de personalidade, são guiados a uma nova batalha 25 anos após a conclusão de Gears of War 3. Sem a ameaça dos locusts, a humanidade voltou a crescer e a se reorganizar sob o comando do COG, que começou a mostrar de forma mais explícita a sua faceta totalitária. É um aspecto da série que sempre ficou meio escondido com o foco na batalha contra os locusts, mas que ganha um destaque importante nesta nova saga. JD e Del se tornaram amigos como parte das forças armadas do COG, mas debandaram sem autorização após um incidente misterioso e passaram a ser perseguidos, dando início a uma vida de foragidos e perseguidos. É assim que conhecem e se juntam a Kait, uma outsider.

É neste cenário que o jogo se inicia, introduzindo uma nova classe de inimigos, que são os robôs DBs, comandados pelo COG. Por um instante, é possível observar uma mudança de tom em comparação com os outros Gears of War. Os locusts, feios e ameaçadores, dão lugar a guerreiros robóticos que chegam até a ser engraçados no modo como falam e dão seus comandos de batalha, e os cenários escuros e destruídos são substituídos por arenas abertas, iluminadas e coloridas, deixando a experiência de jogo muito mais leve. Essa mudança inicial de atmosfera, no entanto, não poderia ser mais enganosa.

Pouco tempo depois, você começa a conhecer a verdadeira cara de Gears of War 4, que logo começa a introduzir inimigos mais próximos da tradição da série. Também começa a guiar o jogador por cenários mais opressores, reduzidos e sujos, que parecem um intestino alienígena. É aí que o game retoma a atmosfera que faz com que o jogo se aproxime do gênero de terror, colocando os protagonistas para enfrentar situações muito tensas. É quando eles vão procurar pelo pai de JD para pedir ajuda.

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A presença de Marcus Fenix no jogo é importantíssima para passar o bastão para uma nova geração de personagens e é interessante ver como ele envelheceu e como sua personalidade evoluiu com o tempo, mas sua experiência ainda se mostra valiosa para os novos protagonistas.

Sobre a trama, é curioso observar como a série evoluiu ao longo dos anos. O primeiro Gears foi um game divertido, mas basicamente não tinha história além de “você precisa avançar e atirar nos monstros”; os dois jogos seguintes já começaram a explorar mais os aspectos emocionais dos personagens. Gears 4 também segue nessa boa toada, adicionando um fator de mistério sobre o que de fato está acontecendo e por que a humanidade deve voltar a pegar em armas para enfrentar monstros após tanto tempo de paz.

Só é um pouco triste que a história termina sem um final muito claro, um pouco parecido com o que aconteceu com Halo 3, deixando muito do clímax para uma continuação.

Você talvez possa ter notado que não mencionei muito a jogabilidade ao longo do texto, e isso é proposital. O game é altamente parecido com os outros jogos da série, com a adição apenas de alguns detalhes, como as coberturas dinâmicas. Em determinados momentos, é possível atirar em objetos pendurados no teto, um tipo de casulo, para que eles caiam no chão para servir como proteção; em compensação, a cobertura pode explodir após alguns tiros e dar origem a novos inimigos. É uma questão interessante de risco e recompensa.

A Coalition decidiu não requentar o razorhail (o “granizo-navalha”) de outros jogos da série, mas também adicionou outros desafios ambientais, justificado pelos estragos causados pela guerra contra os locusts. O windflare é adversidade mais recorrente, com fortes ventos que dificultam a corrida e o uso de objetos arremessáveis como granadas, mas também adicionam elementos do cenário que podem ser destruídos para derrubar vários inimigos de uma vez. O outro elemento são as stormwalls, que são tempestades de raios violentíssimas das quais o jogador precisa desviar com cuidado para continuar avançando. É bom ver esta característica da série retomada e atualizada.

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Outro novo detalhe são batalhas que aproximam o jogo do gênero tower defense. O jogo libera várias ondas de inimigos e sua função é, além de eliminar o que aparece na sua frente, criar armadilhas com torretas ou barreiras que diminuem a velocidade dos inimigos. Estes momentos podem ser brutalmente difíceis na dificuldade Hardcore, especialmente pela falta de pontos de cobertura e excesso de inimigos vindo por todos os lados. É um gostinho do modo Horda 3.0 do multiplayer de Gears 4 na campanha do game.

O fato é: se você gostou dos primeiros Gears, vai gostar do novo. Se não gostou, não há elementos novos o bastante para fazer ninguém mudar de ideia.

Multiplayer

O grande destaque é o já citado modo Horda 3.0, que atualiza o famoso modo cooperativo tão popular de Gears of War. A principal novidade é o sistema dos Fabricators, que são itens que podem ser posicionados em qualquer lugar da arena e que dão origens às fortificações, que ajudam a combater ondas seguidas e cada vez mais fortes de inimigos. Cada personagem também pode escolher classes que possuem habilidades especiais em combate

O modo vai ficando cada vez mais desafiador com o passar do tempo e é um bom teste de habilidades para quem terminou a campanha e quer um pouco mais da experiência de Gears 4.

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Conclusão

Gears 4 é ótimo, o melhor exclusivo do Xbox no momento. A trama misteriosa, os personagens envolventes e carismático e a jogabilidade satisfatória contribuem para renovar uma série que tinha tudo para ir para um caminho errado, dando sinais de que o novo estúdio está no caminho certo para manter a série saudável. A campanha é muito boa e o multiplayer, especialmente o modo Horda renovado, deve dar uma longa vida ao jogo.