Criado por brasileiro, ‘supervideogame’ tem mais de 7 mil jogos de 21 consoles

Redação09/03/2016 17h43, atualizada em 09/03/2016 19h42

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Em algum momento entre 1997 e 1998, juntei R$ 35 para comprar uma fita do jogo “Ronaldinho Soccer 97” para Super Nintendo. Cansado de gastar alguns trocados com a locação da fita semanalmente, resolvi finalmente adquirir o game. Antes de fechar a compra, no entanto, fiquei em dúvida entre o jogo futebolístico ou o clássico “Super Mario World”, já que os jogos eram do mesmo preço. Ter que levar apenas um para casa foi uma verdade “Escolha de Sofia” para uma criança de sete anos.

Se tivesse nascido anos depois, poderia juntar minha mesada e comprar o SNES PC, videogame brasileiro criado por Herculles Cassiano, 25 anos, dono de uma loja de videogames em São Paulo. A invenção utiliza o microcomputador Raspberry Pi para emular 21 plataformas de jogos – entre elas, Super Nintendo, Atari, Nintendo 64, Playstation, MAME, Game Gear, Game Boy, entre outras – com mais de 7 mil títulos ao todo. O produto é vendido por R$ 1.199 com dois controles e já com os jogos instalados.

A ideia de criar um supervideogame nasceu com o sucesso da modificação de máquinas de fliperama. Essas, por serem maiores, permitem o uso de computadores comuns com sistema Hyperspin. Para as telas, são usados televisores de 19 polegadas. “Levamos três dias para fazer a primeira máquina. O mais complicado foi configurar o sistema”, conta. As carcaças são fornecidas por uma empresa parceira da loja. Assim, cada máquina é vendida por R$ 1.999 já com os jogos e emuladores instalados de acordo com o Facebook da empresa.

A página da loja na rede social é o principal canal de divulgação dos produtos e já tem mais de 150 mil curtidas. Um dos vídeos mostrando o produto ultrapassou a marca de 18 milhões de visualizações. É por lá, também, que a loja sofre elogios e críticas, sendo as principais por causa do preço cobrado pelo produto. “Minha margem de lucro é de 30% em cima do valor do produto”, revela o empreendedor que recebe cerca de 30 pedidos por mês e ainda fez um vídeo desabafando sobre as críticas de que estaria supervalorizando o produto.

Outra inspiração veio ao assistir vídeos na internet que mostraram para Herculles um projeto semelhante sendo feito nos Estados Unidos, mas utilizando um computador comum. Depois de julgar que o custo de produção ficaria elevado demais se utilizasse o mesmo equipamento, o técnico em eletrônica resolveu experimentar com o microcomputador.

A produção inicial do SNES PC foi trabalhosa. “Foram 15 dias de testes acertando e errando na produção. Uma época fiquei cerca de cinco noites sem dormir para fazer o produto funcionar”, recorda. Além da instalação do computador, ele revela que precisou inserir adaptadores para os controles (que podem usar os controladores clássicos do console ou até componentes mais modernos e sem fio) e um cartão microSD de 16 GB, além dos cabos HDMI e de eletricidade. A interface foi produzida pela RecalBox e é disponibilizada gratuitamente no site da empresa.

Reprodução

Os jogos instalados são a questão mais delicada do aparelho. Os games já vêm instalados previamente no aparelho, mas qualquer pessoa pode adicionar mais títulos, já que há quatro portas USB no console. Questionado sobre a questão da pirataria, já que adquire os jogos, teoricamente, de forma ilegal, o empreendedor foi direto: “Os jogos estão na internet e qualquer pessoa pode baixar e jogar”.

De acordo com o que explica, ele não vende os jogos separados e nem o Super Nintendo, mas sim um microcomputador modificado que utiliza a carcaça do produto da Nintendo como uma espécie de “case”. Mesmo assim, a polêmica sobre o uso dos jogos permanece, já que muitos dos títulos contidos no console podem ser adquiridos legalmente em lojas virtuais dos principais consoles da atualidade, como na Playstation Store, com os títulos nostálgicos da série Mega Man.

Teste

O Olhar Digital testou o produto durante alguns dias. Os jogadores de videogame que ainda se lembram da emoção de instalar um Super Nintendo pela primeira poderão repetir o feito.

A carcaça do console está praticamente inteira presente. Na parte traseira, onde são plugados os fios, o produto sofreu algumas alterações para a inclusão das saídas HDMI e USB, quatro no total. Como o trabalho é feito de forma artesanal, o corte da carcaça não é perfeito, mas nada que possa incomodar. O botão “Reset” não tem mais utilidade, assim como o local onde eram inseridas as fitas. No entanto, para efeito de nostalgia, os componentes ainda estão presentes de forma decorativa.

Vale destacar que pelo fato de a loja trabalhar com a compra de consoles usados, algumas peças, em especial os controles, podem apresentar desgaste devido ao tempo de uso. Os botões estavam bastante gastos e um pouco moles demais nos direcionais. Para quem não se importa tanto com o elemento nostálgico e quer melhor jogabilidade, a melhor opção avaliada é usar controles mais modernos que são mais confortáveis têm mais botões. Além disso, eles podem ser inseridos via USB ou por pareamento Bluetooth.

É importante lembrar também que alguns games de Nintendo 64 necessitam de controles mais robustos para serem jogados pela falta de botões específicos, já que o controle do console de 64 bits contém muito mais botões do que o de Super Nintendo.

Ao ligar, o sistema inicia-se rapidamente. É possível escolher entre diversos emuladores, sendo 21 no total, e cada um conta com uma lista de jogos diversa. No modelo testado há 7.381 roms, mas isso não significa que o número de jogos é o mesmo. Há vários games que contam com mais de uma versão instalada e as modificações incluem, principalmente, a mudança de idioma até para o português.

Para encontrar o título preferido entre milhares, o software instalado oferece a opção de pular a seleção para uma letra específica e também de “favoritar” o game para que ele apareça em uma lista específica, o que economiza bastante tempo para quem irá jogar o mesmo jogo diversas vezes.

Depois de testar alguns jogos de Super Nintendo, a reportagem se aventurou na jogatina dos games de Nintendo 64 que foram inseridos na máquina, como “Mario Kart 64”, “Mario Tennis” e “007 GoldenEye”. Para a nossa decepção, alguns títulos travaram bastante ou ficaram lentos. A conclusão é de que o Raspberry Pi 2 não é potente o suficiente para o console.

Reprodução

O produto avaliado também conta com um emulador de Playstation que veio com apenas um jogo: “Crash Bandicoot”. O game rodou de forma lisa, mas os gráficos ficaram um pouco pixelados. No entanto, não houve travamento ou lentidão. Em títulos mais pesados do console, no entanto, isso talvez possa acontecer.

Apesar de ter o console de 16 bits como carro chefe, o emulador que mais diverte e apresenta os melhores resultados foi o que remete aos jogos de máquinas de fliperama. Em “Marvel vs. Capcom”, a resolução em um televisor de LED com 48’’ ficou extremamente nítida. Foi o grande ponto positivo do produto, já que houve a união da diversão das antigas máquinas caras demais para aquisição com a comodidade de jogar no sofá de casa.

Conclusão

O SNES PC é, de fato, interessante. Porém, isso não quer dizer que ele seja perfeito. Alguns jogos não rodam tão bem quanto deveriam (no caso, os de Nintendo 64) e os controles testados estavam gastos demais. O preço do produto também não agrada tanto (R$ 1.199, já que é possível encontrar consoles da nova geração pelo mesmo valor.

O custo, no entanto, se explica no fato de que o SNES PC ser produzido artesanalmente e vendido em uma única loja. A garantia de três anos é outro ponto positivo, assim como a interface amigável e a possibilidade de inserção de jogos por qualquer pessoa.

Colaboração para o Olhar Digital

Redação é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital