Logo vai ser quase impossível jogar videogame no Brasil; entenda

Renato Santino13/10/2016 17h34

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Em 2013, a Microsoft chocou o mundo anunciando que seria obrigatório ter internet para usar o Xbox One. A reação foi forte, e forçou a empresa a mudar as suas práticas, abrindo a possibilidade de jogar videogame sem uma conexão constante. Hoje, três anos depois, é possível perceber que, mesmo com esta mudança de rumo, na prática, as coisas não mudaram tanto assim.

O fato é que se a sua conexão não é boa, sua experiência de jogo está comprometida. E, como vivemos no Brasil, onde as velocidades médias de internet não são lá grandes coisas, muitos jogadores simplesmente podem se ver impedidos de acessar seus jogos. E não estamos falando de multiplayer.

Explicando: está cada vez mais difícil ter acesso a um jogo novo sem uma boa internet. Vamos tomar como exemplo o maior lançamento da semana nos consoles, Gears of War 4. O game tem mais de 50 GB, tornando o download do jogo impraticável. Segundo o estudo State of the Internet da Akamai, a velocidade média da conexão brasileira é de 4,5 Mbps. Assim, mantendo esta velocidade, o download de o jogo como Gears 4 levaria 24 horas e 40 minutos. Quase 25 horas para baixar um só jogo. Mais de um dia inteiro.

O argumento de que ainda é possível comprar os jogos em disco também está ficando cada vez mais insustentável. Isso porque as empresas vendem o disco com jogos quebradíssimos ou simplesmente não-finalizados, que dependem de patches de atualização gigantes para rodar direito. É extremamente comum tentar instalar um jogo novo e descobrir que é necessária uma atualização de 20 GB para fazê-lo funcionar como ele deveria. Se você resolver comprar um jogo alguns meses depois do lançamento, a situação é ainda pior: Halo 5, por exemplo, tem 46 GB de arquivos em disco, mas as atualizações fazem o game ficar com quase 100 GB. Se você adquirir o jogo hoje, você tem mais 50 GB de atualizações para fazer.

A alternativa é permanecer com o jogo quebrado, cheio de bugs e, muitas vezes, injogáveis. O exemplo recente é No Man’s Sky, que possuía bugs tão sérios que faziam o jogo fechar sozinho no PS4. Mafia 3, lançado há pouco tempo, também está impregnado com bugs de todos os tipos que só devem ser corrigidos com atualizações gigantescas.

A tendência é que isso piore com o tempo. Os jogos estão ficando cada vez maiores, mas as conexões não estão ficando mais rápidas na mesma proporção. A chegada do PS4 Pro e do Xbox Scorpio, que prometem games em 4K, vai tornar os jogos ainda mais pesados e o download cada vez mais impraticável.

Para piorar, ainda há o fato de que a prática das franquias de internet fixa ainda paira no horizonte da conectividade brasileira. Até hoje, os limites propostos pelas operadoras são extremamente restritivos, ao ponto de que um jogo como Gears 4 se tornaria impossível de baixar sem estourar a franquia mensal ou pelo menos comprometer o uso pelo resto do mês.

Então fica o problema: os jogos são feitos por e para países ricos e desenvolvidos, onde internet de alta velocidade é o padrão. Vai ficar progressivamente mais difícil para quem não vive nestes países com boa conexão continuar jogando videogame.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital