Quando se fala em jogos de corrida, é inevitável a comparação de qualquer novo nome no mercado com dois grandes títulos do gênero: “Need for Speed” e “Gran Turismo”. O primeiro se destaca pela jogabilidade mais simples, “arcade”, em que a diversão do jogador é mais importante do que o realismo.
Na outra ponta está o simulador de direção exclusivo do PlayStation, cujo destaque principal é justamente o de priorizar mecânicas e físicas tão parecidas quanto possível às do mundo real – mesmo que isso signifique que o jogador vai passar mais tempo administrando carreiras e configurando carros do que, de fato, correndo.
Inspirado em Gran Turismo, a Microsoft criou a série “Forza Motorsport”, o equivalente com exclusividade para a plataforma Xbox. Desde 2012, porém, a franquia ganhou uma vertente menos tradicional e mais arcade, assim como Need for Speed. Nasceu a série “Forza Horizon”.
O terceiro game do título chega ao Xbox One a PCs com Windows 10 em 27 de setembro, mas o Olhar Digital teve a chance de experimentar a versão final do game com antecedência. Passamos quatro dias com o título rodando em um Xbox One e, embora não tenhamos finalizado a campanha principal, já deu para sentir o gosto do que o game tem a oferecer.
Jogabilidade
Forza Horizon 3 não tem o menor interesse em impor um grande desafio técnico ao jogador. Aquela velha máxima de que “não importa ganhar, o que importa é competir” é levada muito a sério nesse terceiro game da série. Ainda mais do que os antecessores.
O primeiro jogo se passava no estado norte-americano do Colorado, enquanto o segundo leva o jogador a alguns cenários paradisiácos da Europa. Em ambos os games, você controla um corredor iniciante que acaba de se inscrever para o festival Horizon, um campeonato de automobilismo recheado de festas, atividades diversas e muita música eletrônica.
Em Horizon 3, porém, você não é mais um iniciante. Em vez disso, você é o administrador de todo o festival, aquele a quem os outros membros da equipe chamam de “chefe”. Em vez de colecionar vitórias para subir de nível e ter a chance de disputar etapas mais difíceis do torneio, seu papel é apenas cuidar para que o festival cresça por toda a região costeira da Austrália.
Não pense, porém, em um simulador cheio de recursos, como o de manejar custos ou organizar funcionários. Sua tarefa é apenas correr de um ponto a outro, executar algumas tarefas, tudo para chamar a atenção do público pagante e deixar que seus assistentes cuidem da parte mais burocrática.
Removendo o elemento de competição da história, o jogo fica muito mais leve e inconsequente. Como o próprio game diz em certo ponto do tutorial, seu objetivo é impressionar os espectadores das corridas para agregar mais fãs e, assim, abrir novos endereços (pontos de partida) para o festival. Ou seja, o importante não é ganhar, mas sim competir.
Isso fica evidente em diversas opções que a Playground Games, desenvolvedora do título, fez para as mecânicas do game. Aquele velho sistema de recompensa e punição pelas atitudes do jogador praticamente não existe em Horizon 3: tudo o que você fizer nas pistas (ou até fora delas), de certo ou errado, rende pontos de experiência.
Você pode sair da pista, destruir placas, árvores e postes (que são derrubados tão facilmente que parecem feitos de papel), bater a lateral do carro o quanto quiser, derrapar e até chegar em último: tudo isso é recompensado com muitos pontos, muito dinheiro e até com fãs que o ajudarão a expandir seu festival.
Além disso, assim como nos outros games da série, o simples pressionar de um botão (Y, no Xbox) faz com que o jogo volte alguns segundos no tempo para você corrigir algum deslize na direção durante uma corrida. Esse recurso é ilimitado e pode ser usado quantas vezes você quiser, facilitando ainda mais o lado do jogador.
Como se tudo isso não bastasse, a física do jogo causa praticamente nenhum prejuízo à jogabilidade. Pode derrubar o seu carro de qualquer ladeira, capotar, destruir postes e árvores, bater o quanto quiser em outros carros pelas ruas: o impacto no desempenho do seu veículo é praticamente inexistente. Você vê o carro ficando mais feio e deteriorado, mas ele continua correndo a velocidades absurdas, com tudo funcionando bem, sob qualquer circunstância.
Assim como em clássicos como “Burnout”, o interesse de Forza Horizon 3 é ser uma experiência de puro entretenimento. O desrespeito a leis da física e mecânicas pouco realistas são de propósito, não por acidente. A ideia é que você possa se divertir livremente com seus carros virtuais, sem se preocupar com as consequências. Assim como os melhores games de corrida fazem.
Há, claro, muitas opções para os jogadores veteranos que quiserem um pouco mais de desafio. O game continua usando o sistema de Drivatars – corredores gerados pelo computador que simulam o estilo de usuários reais e ainda se adaptam às suas habilidades e dificuldades – para tornar a corrida e o progresso mais dinâmicos.
Além disso, é possível customizar uma série de atributos do seu carro, muito além da cor e tunagens puramente estéticas, incluindo opções que mudam os freios, o peso, a velocidade e diversos outros detalhes mais técnicos na performance dos carros. Tudo muito bem explicado para que até mesmo quem nunca dirigiu se sinta à vontade para editar seus veículos.
No começo do jogo, você pode até escolher o visual do seu personagem, entre diversas opções multiétnicas além do homem branco padrão. Você pode escolher um entre centenas de nomes pré-selecionados pelo jogo e localizados para o Brasil, todos gravados e repetidos pelos dubladores e narradores da versão nacional do game de forma muito natural.
Há também muitas opções de customização de corridas e outros tipos de missão, incluindo dificuldade, hora do dia, número de voltas, objetivos opcionais, etc. Forza Horizon 3 é um prato cheio para quem quer a liberdade de escolher sua maneira ideal de jogar, sem, com isso, tornar a experiência maçante ou excludente.
Gráficos e aspectos técnicos
Embora Forza Horizon 3 seja absurdamente divertido justamente por não dar tanta atenção a detalhes mais “sérios”, há aspectos técnicos que precisam ser levados em conta. No Xbox One, o game roda perfeitamente bem, numa boa taxa de quadros e com gráficos, como era de se esperar, deslumbrantes.
A forma como o game retrata cores, luzes e sombras é incrível, assim como os efeitos climáticos nas mais diferentes condições: no levantar da poeira no deserto à água que espirra na câmera sob a chuva. Mas há um porém: tudo isso funciona muito melhor quando você está correndo pela estrada a altíssimas velocidades.
Com o carro parado e prestando mais atenção aos detalhes, é possível notar certo desleixo em algumas texturas, especialmente nas dos pedestres e em elementos físicos como casas (quase todas iguais) e vegetação. Há até um novo “Modo de Drone” que te permite controlar uma pequena câmera voadora para explorar melhor certos ambientes, onde os defeitos saltam mais à vista.
Fica claro que o cenário de Forza Horizon 3 foi feito para ser apreciado como um borrão, um vulto passando em alta velocidade pelos cantos da tela enquanto você joga e olha fixamente para os competidores à sua frente. Até porque os carros, nos mínimos detalhes, são graficamente impecáveis, do movimento das rodas a pequenos traços de sujeira.
No já tradicional modo de câmera, o jogo te permite registrar todos esses momentos de espetáculo gráfico com várias boas opções de configuração. É possível, por exemplo, reduzir a velocidade do obturador para capturar imagens com o fundo mais borrado, o que deixa-as ainda mais realistas, como já comentado.
O jogo tem quase 50GB e, por isso, o processo de download e instalação no Xbox One pode ser incômodo para algumas pessoas. Nada fora do normal para um game dessa geração, porém. Uma vez instalado, o jogo roda com poucas telas de loading e, quando elas aparecem, são relativamente rápidas.
Conclusão
Mais do que um jogo de corrida, Forza Horizon 3 é um game de ação e aventura em mundo aberto, tirando proveito do melhor que títulos como Burnout Paradise proporcionaram ao gênero no passado. Mais do que extenso, o mapa é recheado de detalhes e pontos para explorar, em vez de um amontoado de vias fechadas que limitam as possibilidades do jogador.
Mas Forza Horizon sempre foi assim, desde o princípio. O primeiro game da série já se destacou da maioria e ganhou mais recursos, mais carros e novos gráficos em sua segunda edição. A terceira parte da franquia repete o upgrade básico e deixa as mecânicas ainda mais fáceis, mas nada de revolucionário é adicionado à mistura.
Vale a pena? Se você é fã da série, com certeza. Se você nunca jogou Forza Horizon, também! Mas se você já jogou algum dos anteriores e acha que sua experiência já está completa, talvez o preço de R$ 199 seja um impasse. A aventura pelas pistas e terrenos da Austrália, por si só, certamente valem o investimento. Se você quiser comprar apenas um game de corrida pelos próximos meses, Forza Horizon 3 é a melhor escolha.