O presidente Michel Temer, formalmente investigado após gravação de conversa com o dono da JBS Joesley Batista, agora tem um celular Android. Mas não é qualquer aparelho; o chefe do Executivo utiliza um smartphone desenvolvido pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin, com um sistema modificado para garantia de segurança.
O Estadão informou em coluna que o dispositivo usa tecnologia nacional para proteção de dados, com sistemas de bloqueio contra intrusos. Ele também estará disponível para ministros que estejam interessados em proteger informações.
A escolha pelo sistema Android pode parecer contraintuitiva, já que o sistema costuma sofrer mais com questões de segurança do que o seu concorrente iOS. No entanto, ela faz sentido pelo fato de que o sistema possui seu código aberto e permite ampla modificação que possibilita remover as funções e fechar portas que colocariam as informações do presidente em risco, mesmo que isso traga prejuízos em usabilidade.
A ação parece ser parte de um movimento mais amplo para proteger Michel Temer. O Gabinete de Segurança Nacional também anunciou, na semana passada, o processo de compra de equipamento que impeça gravações não autorizadas pelo presidente dentro do gabinete presidencial. A tecnologia tem como objetivo interferir no funcionamento de aparelhos que realizem gravações e transmissões.
Caso similar nos EUA
O procedimento de usar um celular diferenciado é comum entre chefes de Estado, dada a importância de manter as comunicações governamentais seguras e livres de espionagem. Recentemente, Donald Trump, presidente dos EUA, tornou-se pivô de uma polêmica ao demorar para abandonar o seu antigo e bastante ultrapassado Galaxy S3.
Como qualquer usuário de Android deve saber, um aparelho abandonado pela fabricante há tanto tempo já não é muito seguro para ser usado. Uma pessoa comum ainda pode aceitar o risco e continuar usando seu celular, mas, quando se trata de alguém em um cargo tão alto, o perigo se torna muito maior.
O Serviço Secreto orienta os presidentes a substituírem seus celulares ao assumirem o cargo. Barack Obama tinha um BlackBerry quando chegou ao poder que foi substituído por outro aparelho completamente travado, incapaz de fazer fotos, enviar mensagens, reproduzir música, fazer chamadas ou se conectar à internet.
O intuito é justamente reduzir ao máximo os riscos trazidos por uma tecnologia tão pessoal (e invasiva!) quanto um celular. Um aparelho infectado poderia se transformar em um microfone que transmite em tempo real as conversas de um presidente, ou transmitir sua localização para pessoas com más intenções 24 horas por dia.