Hackers criam servidor que pode ser implantado sob a pele

Pegleg é alimentado sem fios, usando um carregador Qi, e permite a troca de arquivos, mensagens e mídia, além de abrigar um servidor de chat em tempo real
Rafael Rigues12/08/2019 18h23, atualizada em 12/08/2019 18h30

20190812033346

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Um coletivo de biohackers norte-americanos conhecido como Four Thieves Vinegar desenvolveu um servidor de arquivos que pode ser implantado sob a pele do usuário. Batizado de “pegleg” (perna de pau, uma alusão aos piratas) o dispositivo permite que outros aparelhos na vizinhança se conectem a ele, via Wi-Fi, para trocar arquivos, acessar um sistema de bate-papo, postar mensagens ou fazer streaming de áudio e vídeo, tudo de forma anônima.

O aparelho é basedo no Raspberry Pi Zero W, um minúsculo computador montado em uma placa de circuito que mede apenas 6,5 x 3 cm e tem 5 mm de altura, equipado com um processador ARM de 1 GHz e 512 MB de RAM.

A placa é modificada para deixá-la ainda mais fina, removendo conectores e componentes desnecessários, e a ela são conectados uma segunda interface wi-fi, uma antena Qi para carregamento sem fio e um cartão microSD para abrigar os arquivos e o sistema operacional, uma versão especializada do Linux chamada PirateBox.

Todo o conjunto é coberto com uma resina biocompatível e implantado debaixo da pele do usuário, geralmente no braço ou coxa, em um “bolso” entre a pele e os músculos. A alimentação é feita através de um powerbank Qi sem fios (o mesmo usado para carregar smartphones), que pode ficar em um bolso da calça do usuário, por exemplo. Até o momento o coletivo já implantou o pegleg em três voluntários, sem resultados adversos.

E pra quê todo esse trabalho? Para garantir a liberdade de expressão e anonimidade dos usuários. Em países que censuram dissidentes e o fluxo da informação, como a China, um pegleg poderia ser usado para transferir arquivos e informação de forma segura: um usuário poderia ir a um local público e trocar arquivos com pessoas ao seu redor sem levantar suspeitas. De certa forma, é o que os manifestantes em Hong Kong estão fazendo, usando o protocolo AirDrop da Apple para transferir folhetos, mapas e instruções de iPhone para iPhone.

A vantagem do pegleg é que se o “portador” for pego pelas autoridades, nenhum conteúdo ou hardware suspeito (fora um powerbank) será encontrado, já que depois que a incisão fecha e a pele cicatriza, o aparelho fica quase invisível sob ela e não dispara detectores de metal. Além de ser implantado no corpo, o pegleg é pequeno o suficiente para ser transformado num “wearable” e escondido em uma peça de roupa, sola de um sapato, fundo de uma mochila, etc.

Este não é o primeiro projeto do Four Thieves Vinegar. Em 2016 eles desenvolveram a EpiPencil, um auto-injetor de epinefrina que pode ser usado por portadores de alergias para tratar um choque anafilático. Com custo estimado em US$ 30, o dispositivo é equivalente à uma EpiPen, aparelho “de marca” que cumpre a mesma função mas custa, nos EUA, mais de US$ 600 cada.

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital