Nos últimos dias, Apple e o governo dos Estados Unidos começaram uma briga pública sobre o desbloqueio de iPhones como parte de uma investigação de um ato de terrorismo na cidade de Pensacola, no estado da Flórida. O FBI pede o apoio da empresa para acessar arquivos no aparelho e a criação de ferramentas que ajudem no destravamento de outros aparelhos no futuro. No entanto, ao que tudo indica, a agência já tem essa ferramenta, e ela é capaz de desbloquear até mesmo os modelos mais recentes e, ao menos em teoria, mais seguros.
Isso aconteceu no ano passado. Na ocasião, uma equipe do FBI em Ohio usou um dispositivo chamado GrayKey para extrair informações de um iPhone 11 Pro Max que pertencia a Baris Ali Koch, acusado de ajudar seu irmão a sair dos Estados Unidos ao dar a ele seus próprios documentos.
Segundo a Forbes, Ameer Mabjish, advogado de Koch, conta que os dados foram retirados do aparelho mesmo com a tela bloqueada. Ele também conta que em momento algum seu cliente forneceu diretamente a senha ou teve seu rosto escaneado à força para acessar o conteúdo protegido. O mandado de busca, datado de 16 de outubro, também confirma que o dispositivo foi apreendido em um estado de bloqueio.
Tudo indica que o aparelho só foi acessado graças a um dispositivo hacker. A alternativa seria utilizar uma técnica simples de tentativa e erro para descobrir a senha que desbloquearia o celular, mas isso é arriscado, já que muitas tentativas incorretas causariam o bloqueio definitivo do aparelho e a exclusão dos dados. Assim, esse método só seria viável se o FBI tivesse algum indício muito forte de qual seria a senha do iPhone.
Se a GrayKey funciona até mesmo em um iPhone mais moderno e seguro e ela está nas mãos do FBI, resta saber por que a agência pede a colaboração da Apple para desbloquear os aparelhos de Pensacola, que são um iPhone 5 e um iPhone 7.
Ao que tudo indica, a pressão sobre a Apple tem pouco a ver com o iPhone envolvido na investigação e muito a ver com o desejo do governo dos Estados Unidos, muito além do FBI, em ter uma porta de acesso permanente aos celulares, que não possa ser fechada em uma futura atualização do iOS. Não à toa, Nicholas Weaver, pesquisador de segurança e professor na universidade de Berkeley, define a situação como um “teatro”.
O caso ainda deve ter alguns desdobramentos. De acordo com a Forbes, o senador dos EUA Ron Wyden, do Partido Democrata, solicitou ao Departamento de Justiça do país explicações sobre os motivos pelos quais estão solicitando “backdoors” no iOS se já existem ferramentas capazes de desbloquear até mesmo os iPhones mais recentes.