O mercado de venda ilegal de artefatos históricos saqueados está em ascensão no Facebook, e as medidas tomadas pela rede social para conter o problema apagam evidências dos crimes. A denuncia é de pesquisadores e ativistas ouvidos pelo The Verge. A empresa optou por não comentar.
A rede social teria se tornado um ponto de venda de artefatos retirados de regiões do Oriente Médio. Com isso, o Facebook chegou a banir a venda desses itens históricos ainda em junho. No entanto, aplicar a nova política também traz alguns desafios. A maior parte dos posts são em idioma árabe e o Facebook teria dificuldade em identificar os grupos e postagens do tipo devido a falta de especialistas capacitados.
Essas informações seriam críticas para comprovar crimes de guerra e garantir a repatriação dos itens, afirma Katie Paul, codiretora do Projeto Athar (Grupo de Pesquisa de Antiguidades Traficadas e Antropologia do Patrimônio). “O Facebook criou um problema e ao invés de transformar isso em algo que poderiam contribuir, estão tornando pior”, diz.
Em regiões de conflito, o tráfico de antiguidades pode ser um crime de guerra. Samuel Hardy, pesquisador especializado em herança cultural e conflitos, explica que a prática dificulta a identificação dos autores.
“Quando o Facebook retira evidências que as próprias pessoas estão publicando, nós perdemos não apenas a capacidade de rastrear propriedades culturais e devolvê-las às suas comunidades, mas também qualquer esperança de identificar e parar esses criminosos que estão lucrando com isso”, afirma.
Vendas financiam terrorismo
As consequências da venda desses itens vão muito além do roubo de arte. A prática supostamente financia organizações terroristas como o Estado Islâmico desde 2014. O Oriente Médio possui uma grande variedade de artefatos culturais e históricos valiosos e o mercado de antiguidades é menos controlado do que o de armas e drogas, por exemplo.
Criminosos compartilham dicas nas redes
De acordo com o The Verge, há grupos que reúnem de 5 mil a 18 mil membros. Nesses espaços, os traficantes trocam dicas de como escavar e encontrar peças, como encontrar compradores e realizam até lives de saques. Atualmente, o Projeto Athar monitora 130 grupos do tipo.
Problema não é só do Facebook
Outras plataformas também já foram criticadas por apagar evidências ao tentar policiar conteúdo. O YouTube, por exemplo, remove conteúdo de extremistas que pesquisadores buscam estudar. As gigantes de tecnologia preservam evidências quando solicitado por autoridades, mas isso não beneficia acadêmicos.
Em entrevista para a revista Time, o pesquisador Jeff Deutch, do Syrian Archive – que estuda violações de direitos humanos –, argumentou que não é preciso que o conteúdo fique público para sempre, mas que ele seja arquivado e disponibilizado para pesquisadores, grupos de direitos humanos, acadêmicos e advogados na tentativa de alguma responsabilização criminal.
Fonte: The Verge