Nos últimos dias, Apple e o governo dos Estados Unidos reiniciaram uma disputa antiga. O FBI pede ajuda da companhia para desbloquear o iPhone do militar saudita que abriu fogo contra uma base da Marinha em Pensacola, no estado da Flórida, nos Estados Unidos e matou três pessoas. A companhia, por sua vez, diz ser incapaz de atender o pedido, recebendo críticas diretas até mesmo de Donald Trump.
Por meio do Twitter, Trump não poupou palavras contra a empresa de Tim Cook. “Nós ajudamos a Apple toda hora no comércio e em tantos outros assuntos, e ainda assim eles se recusam a desbloquear celulares usados por assassinos, traficantes e outros criminosos violentos. Eles precisam agir e ajudar nosso grande país AGORA!”, afirmou o presidente dos EUA.
A Apple, por sua vez, se defende afirmando que fez o que pode para ajudar no caso. A companhia diz ter entregado gigabytes de informações para as autoridades com o intuito de apoiar as investigações, mas aparentemente não foi o suficiente. O governo quer o desbloqueio completo do celular.
“Nós rejeitamos a caracterização de que a Apple não ofereceu assistência substancial na investigação de Pensacola. Nossas repostas para muitos de seus pedidos desde o ataque foram ágeis, detalhadas e ainda estão em andamento”, diz o comunicado da Apple sobre o assunto.
A empresa também parece disposta a defender essa posição no tribunal. Segundo matéria do New York Times, Tim Cook já está consultando conselheiros jurídicos para o caso de a solicitação do FBI se transformar em um litígio.
Por que não é tão simples assim
O FBI tem um trabalho a cumprir e não é estranho entender sua posição no caso do crime de Pensacola. Eles querem acesso ao celular para poder ler as mensagens que o suspeito trocou, entender com quem foram trocadas essas mensagens, conhecer seus contatos e entender se ele trabalhou sozinho ou se faz parte de alguma rede terrorista.
No entanto, essa não é uma questão “preto no branco” para a Apple, uma empresa que se vende como a alternativa para o usuário que valoriza sua privacidade. A companhia defende, com razão, que criar uma ferramenta que permita o desbloqueio de um iPhone sem o desejo do usuário criaria uma vulnerabilidade no celular que pode ser usada por outras pessoas que não tenham os mesmos objetivos nobres do FBI.
Sim, porque deixar uma porta aberta para as autoridades significa deixar a mesma porta aberta para o cibercrime, que adoraria poder desbloquear iPhones roubados para obter acesso a dados pessoais das vítimas, que podem causar um prejuízo ainda maior do que o de ter que comprar um celular novo. E o risco do vazamento dessa informação sigilosa é real: vale lembrar que o desastre do WannaCry aconteceu quando um grupo identificado como Shadow Brokers obteve e vendeu informações sobre a vulnerabilidade EternalBlue no Windows, que era um segredo da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA).
É uma posição na qual a Apple já esteve no passado. Entre 2015 e 2016, quando Barack Obama ainda era presidente dos Estados Unidos e Trump fazia campanha, a companhia novamente se viu envolvida em um caso de terrorismo. Dessa vez, na cidade de San Bernardino, na Califórnia, Syed Farook e Tashfeen Malik causaram a morte de 16 pessoas, mas a companhia não aceitava desbloquear iPhones para apoiar as autoridades.
No fim das contas, a Apple não desbloqueou o iPhone, mas o FBI conseguiu acessar o celular de outra forma. A organização contratou os serviços de uma empresa especializada, a israelense Celebrite, que possuía o conhecimento e a ferramenta para desbloquear o iPhone. É provável que a companhia seja procurada novamente.