O plano do Facebook de unificar chats de seus aplicativos com criptografia forte de ponta a ponta anunciado por Mark Zuckerberg durante a F8 deste ano já começou a enfrentar resistência. A empresa se tornou alvo de declarações do diretor do FBI Christopher Wray, alegando que a medida seria “um sonho que vira realidade para predadores e pornógrafos infantis”.
A declaração ecoa uma preocupação comum das autoridades pelo mundo quando o tema da criptografia forte começa a ganhar força envolvendo serviços de internet populares. No caso do Facebook, Wray afirma que o plano criaria “um espaço sem lei criado não pelo povo americano nem seus representantes, mas pelos donos de uma grande companhia”, como informa a agência Reuters.
A preocupação é simples: a criptografia de ponta a ponta como existe no WhatsApp e pode começar a existir no Facebook Messenger e no Instagram Direct com a união dos serviços faz com que os dados sejam cifrados durante todo seu trajeto entre o celular do remetente e o do destinatário. Na prática, mesmo que uma mensagem, foto, vídeo ou qualquer outro conteúdo seja armazenado no servidor do Facebook, a empresa não seria capaz de compreender o conteúdo, e o mesmo vale para as autoridades, que costumam defender que sejam implementadas ferramentas para que seja possível quebrar a criptografia para acessar o conteúdo.
“Nós vamos perder a capacidade de encontrar crianças que precisam ser resgatadas. Vamos perder a capacidade de encontrar os ‘caras maus’”, afirmou Wray.
Ele mencionou a discrepância na forma como a Apple, que utiliza criptografia de ponta a ponta no seu aplicativo de mensagens, e o Facebook agem. Enquanto a Apple ofereceu informações a autoridades relativas a casos de abuso infantil apenas 43 vezes, o Facebook o fez mais de 16 milhões de vezes.
Vale notar, no entanto, que esse assunto não é tão simples. Autoridades costumam defender a implementação de uma “porta dos fundos” na criptografia, que permita a decodificação das mensagens, usando sempre a justificativa o combate a crimes graves como pedofilia e terrorismo, mas uma porta aberta “para o bem” também é uma porta aberta “para o mal”.
Não há como garantir que cibercriminosos não descubram a brecha para interceptar mensagens de pessoas inocentes, o que pode ser usado para descobrir informações sensíveis como endereço, números telefônicos, informações bancárias, fotos pessoais, dados de amigos e familiares e muitas outras coisas que podem trazer prejuízos financeiros gravíssimos ou trazer até mesmo risco físico à integridade. E, claro, sempre há a possibilidade de governos opressivos pelo mundo se aproveitarem da existência dessa vulnerabilidade para espionar cidadãos.