Uma reportagem do The New York Times revelou que o aplicativo de mensagem ToTok, popular nos Emirados Árabes Unidos, é na verdade uma ferramenta de espionagem do governo, criada para beneficiar as autoridades de inteligência do país. Segundo a publicação, o programa era usado para rastrear conversas e movimentos dos cidadãos.

O ToTok foi lançado no início de 2019 e baixado por milhões de pessoas nos Emirados Árabes Unidos, um país em que aplicativos de mensagem ocidentais, como WhatsApp e Skype, são parcialmente bloqueados. Ele promete mensagens e chamadas “rápidas, gratuitas e seguras” e não demorou para atrair usuários em todo o Oriente Médio. Além disso, na semana passada ele entrou na lista dos aplicativos “sociais” mais baixados nos EUA.

Com base em instruções confidenciais de oficiais de inteligência dos EUA – e em sua própria análise -, o NYT informa que o ToTok é uma ferramenta do governo dos Emirados Árabes Unidos para espionar a população. Em outras palavras, os cidadãos que usam o aplicativo para compartilhar mensagens, fotos, vídeos e sua localização dividem essas informações com a inteligência do país.

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O jornal observa que isso é um novo momento no desenvolvimento da espionagem digital por regimes autoritários. Embora muitos governos rotineiramente invadam os telefones dos cidadãos, existem poucos casos de criação de aplicativos com essa finalidade.

“Há uma beleza nessa abordagem”, afirma Patrick Wardle, pesquisador de segurança em entrevista à publicação. Com base em uma análise forense independente do aplicativo, Wardle explica que o método de espionagem é simples. “Você não precisa invadir as pessoas para espioná-las se conseguir fazê-las instalarem o aplicativo em seus telefones. Ao fazer upload de contatos, bate-papos por vídeo, localização, de que mais a inteligência precisa?”.

O jornal americano indica, ainda, que a empresa que administra a ToTok, a Breej Holding, provavelmente é uma fachada da DarkMatter, a empresa de segurança cibernética de Abu Dhabi. O aplicativo também está conectado à empresa de mineração de dados dos Emirados Árabes Unidos, a Pax Al, que compartilha escritórios com a agência de inteligência do país.

A Breej Holding, a Dark Matter e o governo dos Emirados Árabes Unidos ainda não comentaram o relatório do NYT, mas tanto o Google quanto a Apple removeram o aplicativo de suas lojas online. Por enquanto, a agência federal de investigação americana, o FBI, também não comentou, mas um porta-voz diz: “[Apesar de] o FBI não comentar sobre aplicativos específicos, pede que os usuários estejam cientes dos riscos e vulnerabilidades em potencial que eles podem ter”.

Via: The Verge