Será que os celulares estão nos espiando?

Roseli Andrion01/08/2020 21h44, atualizada em 01/08/2020 22h00

Compartilhe esta matéria

Ícone Whatsapp Ícone Whatsapp Ícone X (Tweeter) Ícone Facebook Ícone Linkedin Ícone Telegram Ícone Email

Já aconteceu com praticamente todo mundo: depois de pesquisar algum produto online, qualquer site que se visita apresenta propagandas daquele item. Muitas vezes, até quando a compra já foi efetuada, os anúncios continuam aparecendo.

E esse processo ganha novos contornos continuamente. Atualmente, ele inclui geolocalização, algoritmos cada vez mais aprimorados e até análise de comportamento de compra e perfil socioeconômico, entre outros.

É por isso, por exemplo, que algumas ofertas são referentes ao endereço residencial do usuário e outras à região do seu local de trabalho. Afinal, o celular está com o indivíduo o tempo todo e, portanto, sabe exatamente por onde ele anda.

Só que, além de rastrear o usuário continuamente, os smartphones escutam o que ele fala. E isso mesmo quando o dispositivo não está fazendo atividades relacionadas, como chamadas de voz ou conversas com assistentes digitais. As fabricantes de celulares e as desenvolvedoras de software negam que essa ação tenha o objetivo de espionar os clientes. De acordo com elas, apesar de a tecnologia existir, o investimento necessário – tanto no tratamento dos dados quanto na capacidade de processamento – não justificaria o esforço.

E mais: as companhias afirmam que as gravações são feitas com consentimento prévio do cliente. Lembra dos termos de uso apresentados durante o cadastramento? Ele mesmo: é justamente ali que estão essas autorizações.

Segundo essas empresas, a escuta é benéfica para o usuário. Afinal, a partir dela é possível ajustar as tecnologias e, com isso, melhorar o desempenho dos sistemas. O que as companhias não podem fazer, entretanto, é oferecer esses dados para uso de publicidade.

Do lado de cá da tela, entretanto, os usuários percebem que as propagandas estão cada vez mais direcionadas. Os universitários Lucas Silva de Lima, Beatriz Dias e João Vitor Duarte já tiveram experiências com esse tipo de publicidade.

João Vitor teve uma vivência ainda mais sofisticada: comentou com amigos que queria fazer um curso e passou a receber anúncios sobre o tema. Ele conta que foi bastante surpreendente, porque não esperava essa reação do algoritmo, especialmente por não ter feito pesquisas sobre o assunto.

Para Beatriz, esse tipo de propaganda muitas vezes é invasivo – e até bobo, pois, em geral, mostra produtos que já foram comprados pelo usuário.

No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD, prevista para entrar em vigor em 2020, tem o objetivo de proteger os usuários desse tipo de situação. Um dos grandes diferenciais trazidos pela norma é o fato de os dados pertencerem ao cliente e ele ter controle sobre eles.

Pesquisas indicam que cerca de 49% dos consumidores americanos acreditam que seus smartphones escutam suas conversas e contextualizam a publicidade com base no que ouvem. Já os especialistas reforçam que é o comportamento do indivíduo que leva a ofertas coerentes.

Apesar da possibilidade de haver coincidência, no decorrer da reportagem foi possível observar que algumas palavras-chaves mencionadas em conversas com entrevistados atraíram anúncios bastante específicos nas redes sociais. E isso sem que fosse feita qualquer pesquisa sobre os temas. E você, já teve essa experiência?

Colaboração para o Olhar Digital

Roseli Andrion é colaboração para o olhar digital no Olhar Digital