Nesta semana, dois fatos chocantes – os tiroteios ocorridos em uma escola municipal na cidade Suzano, em São Paulo e em duas mesquitas na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia – chamaram mais uma vez a atenção para a chamada Deep Web, a rede de sites que não pode ser encontrada por mecanismos de buscas como o Google e Bing, da Microsoft. Mas você sabe como ela funciona?
Desta vez a gente mergulhou ainda mais fundo! Em 2010, o Olhar Digital foi um dos primeiros veículos a mostrar e falar abertamente sobre este lado obscuro da internet. Oito anos depois, ainda mais curiosos, estamos de volta à internet profunda.
A Deep Web é uma rede de sites que surgiu com o propósito de transitar informações com total liberdade e privacidade – o que é praticamente impossível nos mares que a gente está acostumado a navegar na internet tradicional. Hoje a gente tem certa noção do quanto somos rastreados a cada conexão. Na Deep Web nada é indexado, ou seja, você não consegue simplesmente digitar um endereço “ponto com” e encontrar o que quer. É como se esta parte “escondida” da internet não existisse para os navegadores comuns. Para mergulhar e sair da superfície, o usuário precisa de ferramentas específicas para acessar e também encontrar essas páginas…
Privacidade e anonimato. Os pilares que definem a Deep Web podem ser usados tanto para o bem quanto para o mal. Infelizmente, a maioria das pessoas ainda só ouviu falar sobre o lado negro da Deep Web – hoje inclusive chamado de Dark Web; a internet obscura! E é verdade, tem mesmo muita coisa ruim lá (e fácil de encontrar). Graças ao anonimato, criminosos aproveitam a rede para vender drogas, traficar armas e até pessoas, oferecer assassinos de aluguel – o negócio é feio e pesado.
Ciente da existência desse submundo virtual há bastante tempo, autoridades e polícias do mundo inteiro também estão na Deep Web para investigar… a velha história do gato atrás do rato! O anonimato realmente existe na Deep Web, mas tudo depende de como o acesso for feito; hoje já existe muita tecnologia para caçar esses criminosos nos pontos mais escuros e sombrios da internet… rastrear um crime é difícil, mas nem sempre impossível.
Esta imagem de um grande iceberg continua sendo a melhor analogia para entender o tamanho da Deep Web. Alguns estudos já deram conta de que a parte submersa pode ser até 500 vezes maior do que a superficial. A proporção mais provável é que pelo menos 70% da internet esteja restrita e não indexada. Mas o que pouca gente sabe é que este câncer representado pela criminalidade e maldade disponível na Deep Web é a menor parte. Tem muita coisa boa e interessante nas profundezas – inclusive um “time do bem” que se incomoda bastante com o péssimo estereótipo da rede. O famoso grupo de hackers Anonymous, certa vez, chegou a denunciar e até ajudar nas investigações de uma grande rede de pedofilia que foi desmascarada na Deep Web.
O Diego navega pelas profundezas da Deep Web há mais de 10 anos; o que começou por curiosidade, se tornou parte da sua profissão. Primeiro, era uma mera questão de busca pelo anonimato e privacidade. Hoje ele está sempre atrás de estudar e ampliar seu conhecimento. Segundo ele, os fóruns de discussões da Deep Web são muito mais sérios e valiosos…
Visualmente, a Deep Web lembra nossa internet dos anos 90. É tudo bem básico e até feio para nossos padrões atuais. Nada é muito plástico. Os principais conteúdos estão em forma de texto e, principalmente, em fóruns. Existe muita coisa para download também – mas este é um dos maiores riscos da Deep Web; inclusive para quem já está acostumado a andar por lá.
Todo conteúdo malicioso, como vírus, malwares, ransonwares, nasce na Deep Web. A própria indústria da segurança digital sempre tem profissionais experientes para vasculhar os fóruns de discussão e publicações suspeitas para, por exemplo, descobrir um novo ataque e já começar a trabalhar em um contra ataque ou defesa para seus clientes. Isso é bom para quem sabe por onde navega, mas é um dos principais riscos para os marinheiros de primeira viagem.
Se vale a pena experimentar a Deep Web? O Diego diz que sim. O professor prefere evitar os riscos. Como para qualquer coisa na vida, existem os prós e os contras. É verdade, ainda é arriscado. Um usuário inexperiente pode, por exemplo, baixar algo sem saber em sua máquina e passar a ter seu computador usado como servidor para proliferação de conteúdo indevido ou até proibido.
Seja por curiosidade ou até necessidade, o uso da Deep Web cresceu muito desde a primeira vez que tocamos no assunto. Em 2014, o próprio Facebook criou uma ponte de acesso para a rede social pela Deep Web; a ideia é oferecer a prometida privacidade e até possibilidade de acesso para pessoas que vivem em países em que o governo controla o tráfego de informações na internet e o acesso à rede de Mark Zuckerberg é restrito. E se você também estiver curioso, a gente publicou um tutorial bem fácil de seguir para você dar seu primeiro mergulho da Deep Web com segurança. O link está logo abaixo do vídeo desta matéria – inclusive com todas as dicas para você não cair em nenhuma roubada…