Diário de bordo: Como ressuscitar o seu PC de 2004 com o Linux em 2018

Alvaro Scola19/11/2018 20h18, atualizada em 19/11/2018 20h30

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Nesta matéria do Olhar Digital, que funcionará como uma série, eu contarei para vocês como tem sido a experiência de reviver um PC antigo. Mais precisamente, este computador em questão foi montado em 2004 sendo utilizado até 2009, mas foi perdendo o seu uso diário e deixado de lado.

Na época, ele era considerado um PC potente e, em seu auge, rodou o Windows ME, 2000 e principalmente o XP durante bons anos. O seu desuso acabou se dando por conta dos novos processadores e tecnologias, que já estavam se tornando incompatíveis com ele, além da lentidão demonstrada para abrir programas mais básicos, como o Firefox em sua versão 3, o navegador que cada vez mais começava a se popularizar na época.

A ideia de reutilizar a máquina se veio devido a ela estar parada e apenas ocupando espaço, quando poderia servir para algumas opções interessantes. O computador pode até não ser o ideal para um uso diário, mas com o Linux algumas possibilidades são abertas. Por exemplo, ele ainda pode servir como um servidor de arquivos, downloads e até mesmo para uma pequena central multimídia. Neste último item ele não seria o reprodutor de conteúdo, mas daria conta do armazenamento dos arquivos a ser transmitido.

Tendo estas ideias em mente, será que ele realmente funcionará na prática? Para isto, eu resolvi retirar a máquina de onde ela estava para fazer uma série de testes e ver até onde conseguimos chegar com ela. Veja abaixo como foi esta primeira experiência:

A máquina

Fazer a ligação da máquina talvez tenha sido uma das etapas mais fáceis do processo, apesar do tempo que ela ficou parada. É claro, que por ela estar guardada e sem uso, muita poeira foi acumulada, mas uma pequena limpeza foi o suficiente para ela ficar quase nova, ao menos de aparência.

Reprodução

Partindo já para o lado da especificação técnica, segue abaixo a descrição dos componentes da máquina:

  • Placa mãe Asus P5P800;
  • Processador Pentium 4 3,2 GHz HT;
  • 768MB de memória RAM DIM 400Mhz;
  • Placa de vídeo ATI Radeon 9600 Pro AGP.

Além destas especificações, é claro, o computador ainda possui algumas peças de hardware PCI ligadas, como uma placa de rede Wi-Fi e outra de jogo, que já não são encontradas em máquinas mais recentes.

Ligando o computador pela primeira vez

Ao ligar o computador pela primeira vez, logo de cara me deparo com um problema. Apesar de ele ter dado sinal de energia, o monitor não estava recebendo a imagem do aparelho, ficando sem sinal de vídeo.

Após fazer uma verificação dos cabos não foi constatado nenhum problema neles e, ao tentar ligar o computador por mais algumas vezes, finalmente o vídeo voltou a funcionar. Entretanto, este não foi o único problema, mesmo após a limpeza, a máquina estava esquentando além do que o processador comportava, mas isso foi devido a uma presilha do cooler que não estava se fixando corretamente na placa mãe, mas uma pequena gambiarra junto a um posicionamento específico da peça foi o suficiente para solucionar o caso.

Reprodução

Infelizmente, depois disto, mais um problema foi constatado. A bateria da placa mãe, que fica nela para guardar configurações da BIOS e a data e hora estava gasta. Esse problema é menos grave, já que uma simples configuração ao iniciar o computador já o resolve, sobrando apenas o incômodo de fazer isto toda vez que a máquina ficar desligada por um longo período.

Entrando no sistema antigo para fazer o download do Linux

De princípio, a ideia principal era utilizar de forma exclusiva este computador, até mesmo para obter a imagem de um Linux para o primeiro teste. Ao iniciar o computador, ele ainda estava aparentemente com o sistema intacto, estando em dual boot com o Windows 98 e o XP.

Por uma questão de facilidade para encontrar ferramentas compatíveis, o primeiro boot que tentei foi no Windows XP, mas o sistema não iniciou de forma alguma. Foram tentados o método de segurança e outras funções de inicialização avançada, mas todas tentativas foram em vão.

Desta forma, sobrou tentar o clássico Windows 98. Este sim iniciou corretamente, mas a sorte não estava com o computador. Apesar de ele ter iniciado e carregado a grande maioria dos drivers, a placa de rede não funcionou como deveria nele, o que impossibilitou o download de ser feito por este computador. Além disto, constantemente ele travava, fazendo necessário a reinicialização do PC.

Reprodução

Alternativa para obter o Linux

Já que utilizando apenas o PC antigo não foi possível obter o Linux, neste caso se tornou necessário recorrer a outro computador para fazer o download. Quem não tem outra máquina em casa, ainda se lembre que até um Android pode fazer a tarefa de colocar uma distribuição em um pendrive, desde que você tenha algum cabo OTG disponível.

Como se trata de uma máquina bem antiga e com pouco poder gráfico, a distribuição Linux precisa ser escolhida com cautela. Desta forma, para um primeiro teste, adotei o seguinte critério para seleção: distribuições atualizadas e com ambientes gráficos leves.

Para quem não entende muito sobre Linux, diferente do Windows que possui temas, o Linux permite trocar tudo que se refere à parte visual, inclusive processos do sistema. Assim, é possível optar entre ter um sistema bonito ou algo mais leve, ideal para este caso.

Com este critério definido, logo pensei em três distribuições para um primeiro. Elas são:

Para ter a imagem de boot pronta para ser utilizada no computador, resolvi utilizar dois pendrives, sendo um deles de 4 GB e o outro de 16 GB. Já as ferramentas para escrita da imagem variaram entre os programas Etcher, Unetbootin e o Rufus. Mesmo que todas elas possuam a mesma funcionalidade, por algum motivo, algumas ISOs inseridas com um determinado programa não funcionavam, mas no outro não apresentavam problemas.

Vale lembrar que todas as distribuições selecionadas acima adotam o Ubuntu como base, mas na verdade, as opções que elas oferecem de boot são diferentes, assim como alguns de seus recursos dentro do próprio sistema.

Xubuntu

Uma das distribuições mais famosas por oferecer o XFCE e consumir poucos recursos da máquina me desapontou. Mesmo ao realizar testes com diferentes parâmetros de boot, não foi possível iniciar o computador através dela.

Reprodução

É verdade, faltou tentar uma versão mais antiga deste mesmo sistema, mas a versão mais recente era a que nos interessava, já que o Linux Mint também adota o XFCE como seu ambiente gráfico.

Lubuntu

Esta foi uma distribuição que deu bastante trabalho, mas que valeu a pena os testes. O Lubuntu utiliza o ambiente gráfico do LXDE e na versão 18.10, assim como o Xubuntu, não conseguiu dar boot no sistema.

Por ser o único da lista que tinha um ambiente gráfico diferente, tive que testá-lo com a versão 16.04, que mesmo sendo mais antiga ainda tem um longo caminho até ter o seu suporte removido.

Nessa versão mencionada, na primeira vez, o computador também não iniciou, mostrando que seria difícil a tarefa de dar uma nova vida a ele. Mas, após alguns testes desabilitando itens de sua inicialização, ele resolveu funcionar. Entretanto, às vezes, ao tentar iniciá-lo com os mesmos parâmetros ele não queria rodar.

Reprodução

De toda forma, quando ele rodou, tivemos a agradável surpresa de seu desempenho. Nele, o ambiente gráfico rodou de forma fluída, assim como os aplicativos que já vem pré-instalados. O seu maior problema, ficou por conta da instabilidade, em diversos momentos fui pego com processos parando de funcionar sem explicação.

Outros testes, assim que a distribuição rodar novamente serão feitos, para ver se com atualizações do sistema a instabilidade seja amenizada.

Linux Mint

O Linux Mint já foi abordado pelo Olhar Digital em outras matérias e, aqui ele surgiu como uma necessidade para esta máquina com poucos recursos. Em seu primeiro boot, logo um bom sinal, a tela de inicialização dele apareceu, mas diferente do que se esperava, no esquema de inicialização normal ele não funcionou.

Depois deste travamento, ainda não tinha chego a hora de desistir deste sistema pois ele possui um modo de compatibilidade. Na verdade, tudo que este recurso faz é desativar um driver de Wi-Fi e algumas opções de energia, algo que geralmente causa erros no Linux.

Reprodução

Feito isto, felizmente o Linux Mint iniciou, mas o tempo de boot, é preciso dizer que foi demorado, em torno de 4 a 5 minutos. Já no sistema, as coisas melhoraram um pouco, foi possível testar todo o hardware do computador, que estava funcionando perfeitamente, inclusive com internet sem precisar de qualquer configuração. Antes de prosseguir com mais experiências, vale lembrar que o tempo de boot feito com um pendrive é mais lento que o por um HD, mas essa demora excessiva se deve principalmente ao hardware antigo do computador.

A performance de um Linux rodando sem estar instalado não é a mesma de quando ele já está no HD, uma vez que parte dele está alocada na memória da máquina. Ainda assim, para o teste, a distribuição até que se saiu bem. Na navegação com o Firefox foi possível acessar a maioria dos sites sem grandes problemas, apenas com um desempenho baixo no YouTube, mas essa nem era a intenção do uso da máquina.

Reprodução

Outros aplicativos funcionaram bem, mas a loja de aplicativos do sistema deu um pouco de trabalho. Ao entrar nela, algumas opções de software não apareciam como compatíveis para serem instalados, mas ao executar o comando para obtê-los pelo terminal foi possível realizar a sua instalação, inclusive usá-los sem bugs.

Agora em relação a fluidez do sistema, aqui está algo que não pode ser completamente elogiado. O Linux Mint foi utilizado em sua última versão com o ambiente gráfico do XFCE, mas alguns engasgos do sistema em simples animações como abrir o menu de um programa eram notados.

Estranhamente, apesar desta lentidão para alguns itens, os programas quando executados não demonstravam estar com problemas e possuíam uma boa resposta aos comandos que recebiam.

Conclusão

Finalizada esta primeira leva de testes, por ter uma boa estabilidade o Linux Mint se demonstra uma boa opção e estará na segunda rodada de testes quando os sistemas forem instalados de verdade. Se o Lubuntu voltar a funcionar, com certeza este merecerá uma segunda chance também, já que em termos de velocidade ele me impressionou e, quem sabe, com algumas atualizações feitas nele os travamentos desapareçam.

Para o próximo capítulo desta matéria, nós testaremos outras distribuições, que não são tão grandes como as testadas aqui, feitas com a intenção de rodar em máquinas mais antigas mesmo, como o Puppy Linux, por exemplo. Além destes testes, a instalação dos sistemas serão completadas na máquina para ver o que é possível mudar em termos de performance.

Quando finalmente chegarmos à conclusão de nossa distribuição ideal, estará na hora de deixar o computador funcionando de verdade, seja para ser um servidor de algo ou simplesmente para navegar na internet e utilizar suítes office para trabalhos comuns.

Editor(a)

Alvaro Scola é editor(a) no Olhar Digital