Mais um dos competidores na corrida pela vacina da Covid-19 avançou na etapa de testes. A gigante farmacêutica Pfizer, em conjunto com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech, anunciaram resultados promissores na primeira fase de testes clínicos com seu composto.

Os resultados ainda não foram publicados ou revisados em nenhuma revista científica, mas foram disponibilizados para acesso público pelas empresas. Pelos dados revelados até o momento, a vacina se mostrou segura o bastante em um pequeno grupo de pacientes, permitindo avançar para as etapas posteriores, que visam avaliar com mais clareza a eficácia em gerar imunidade contra o vírus.

Nesta primeira fase, foram 45 voluntários distribuídos entre quatro grupos, que receberam diferentes dosagens da vacina ou um placebo. Entre essas pessoas, 12 receberam a dosagem de 10 microgramas, 12 receberam uma dose de 30 microgramas, 12 receberam a dose mais alta de 100 microgramas e os 9 restantes receberam apenas um composto ineficaz.

Dentro do grupo que recebeu a dosagem mais leve, 8,3% dos voluntários tiveram febre após a segunda aplicação, enquanto 75% do grupo intermediário teve febre após a segunda dose. Já com a dose mais pesada, 50% dos voluntários desenvolveram febre após uma aplicação única.

Entre os efeitos colaterais relatados pelos voluntários também estão fadiga, dores musculares, dores de cabeça, calafrios, dores em articulações. Não foram relatados efeitos mais graves, de “grau 4”, e a maioria dos efeitos classificados como “severos” foram sentidos entre os pacientes que receberam a dosagem de 100 microgramas.

Paralelamente à segurança, os pesquisadores aproveitaram para analisar os resultados preliminares de imunogenicidade, os dados foram animadores. Houve produção de anticorpos imunizantes contra o vírus Sars-Cov-2 em um nível que fica entre 1,8 vezes e 2,8 vezes mais alto do que os anticorpos presentes em pacientes que se recuperaram da doença, o que é algo bastante positivo.

No entanto, os cientistas sabem que a fase 1 de estudos clínicos fornece dados insuficientes para qualquer conclusão sobre eficácia, servindo apenas para obter indícios. Nas etapas posteriores, com aplicação da vacina em grupos maiores, será possível analisar não somente a produção de anticorpos, mas o quão eficazes eles são para impedir a infecção pelo vírus. Os dados até o momento não permitem garantir que os vacinados estão efetivamente protegidos.

“O que podemos dizer neste ponto é que esta é uma candidata viável a vacina baseada em imunogenicidade e dados iniciais de segurança e tolerabilidade”, diz Philip Dormitzer, diretor científico para vacinas virais na Pfizer.

Os testes mais amplos da vacina começarão a ser realizados ainda neste trimestre e devem acontecer nos Estados Unidos, que, assim como o Brasil, é um foco onde o coronavírus ainda circula de forma descontrolada, criando um cenário ideal para testes de vacinas.

Se a vacina da Pfizer tiver sucesso, será um avanço científico considerável, porque, assim como a americana Moderna, a empresa aposta em uso de RNA para gerar imunidade. A técnica é inédita para vacinação, apostando na inserção de um material genético no corpo que permita às células humanas produzirem as proteínas características do Sars-Cov-2, sem precisar lidar com o vírus diretamente. O corpo, então, produziria imunidade à proteína, permitindo a neutralização do vírus em caso de exposição. Nenhuma outra vacina já criada pela humanidade faz uso da técnica, que tem como grande vantagem a facilidade de desenvolvimento e produção; seu sucesso pode um novo caminho de vacinação que pode permitir respostas mais rápidas em caso de outras pandemias.

Além da vacina da Pfizer, há mais 17 vacinas em desenvolvimento ativo que já entraram em fase de estudos clínicos, com seres humanos, e mais 132 iniciativas monitoradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que ainda estão em fase pré-clínica. O Brasil tem dois projetos reconhecidos: do Incor do Hospital das Clínicas da USP, e da Fiocruz, ainda em etapa inicial. O país também está na rota de testes de duas vacinas estrangeiras, de Oxford, do Reino Unido, e da Sinovac, da China, já como parte da fase 3 dos experimentos.