USP relata suspeita de reinfecção por Covid-19 após paciente se curar

Enfermeira de 24 anos teria se curado da doença e passou a apresentar sintomas novamente depois de 40 dias
Renato Santino06/08/2020 20h19, atualizada em 06/08/2020 20h30

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Em mais uma demonstração sobre os mistérios sobre a imunidade da Covid-19, pesquisadores da Universidade de São Paulo identificaram um provável caso de reinfecção pelo vírus no interior do estado. A paciente em questão é uma técnica em enfermagem de 24 anos, que trabalha no Hospital das Clínica de Ribeirão Preto e foi diagnosticada duas vezes com o coronavírus em um espaço de 50 dias.

A linha do tempo do caso indica que ela teve contato duas vezes com pessoas contaminadas. O primeiro deles foi um colega infectado no dia 4 de maio; apenas dois dias depois, em 6 de maio, os primeiros sintomas começaram a aparecer e perduraram por duas semanas, até o dia 20.

Durante este período, a mulher realizou dois testes RT-PCR para diagnosticar a infecção. O primeiro deles, em 8 de maio, retornou resultado negativo; posteriormente, no dia 13, o teste deu positivo para presença do vírus.

Reprodução

Após o fim dos sintomas, a técnica retornou ao trabalho, mas bastaram 38 dias para que sintomas da Covid-19 voltassem a aparecer após exposição a outra pessoa infectada em 21 de junho. Ela relatou, no dia 27 de junho, sintomas como dores de cabeça e de garganta, febre e perda do olfato e do paladar, além da diarreia e tosse. Após cinco dias, em 2 de julho, o resultado de um novo RT-PCR retornou positivo após quase dois meses do primeiro resultado positivo.

Existem outros sinais que descartam a hipótese de que este segundo teste seja apenas um falso-positivo do teste. Dois familiares da enfermeira também apresentaram sintomas de Covid-19 neste período e foram diagnosticados com a doença por RT-PCR, indicando que ela levou o vírus para sua família. Em 9 de julho, ela já não tinha mais sintomas agudos, mas ainda se queixa de dores de cabeça até agora.

Os pesquisadores apontam que o caso traz “implicações clínicas e epidemiológicas que precisam ser analisadas com cuidado pelas autoridades em saúde”, já que indica a possibilidade de reinfecção em um curto espaço de tempo. A estratégia de imunização coletiva (ou “de rebanho”) por exposição ao vírus se torna ainda mais arriscada.

A pesquisa também mostra uma chance de que quem já contraiu a doença apresente o que os cientistas chamam de “recidiva clínica”. O caso demonstraria que é possível apresentar sintomas novamente, contrariando a crença de que, em caso de nova exposição, o paciente até poderia contrair o vírus por uma segunda vez, mas com riscos reduzidos.

Apesar disso, a linha do tempo ainda abre espaço para outras interpretações. Como a paciente não se testou após o fim dos primeiros sintomas, existe a chance de que o vírus tenha se mantido em seu organismo durante todo o período, apenas causando uma nova leva de sintomas posterior. Além disso, também existe a possibilidade de que alguns de seus testes tenham apresentado resultado incorreto.

De qualquer forma, o caso reforça as dúvidas da comunidade científica sobre a capacidade do corpo em criar imunidade duradoura contra o coronavírus. Há vários estudos que mostram que os anticorpos podem desaparecer em questão de alguns meses da infecção. Isso não significaria que o corpo está totalmente desprotegido, porque o sistema imunológico pode desenvolver memória contra o vírus para agir mais rapidamente em caso de segunda exposição. Justamente por isso, as células T, responsável por essa resposta e pela defesa celular, que elimina células contaminadas impedindo a replicação do vírus, têm sido apontadas como mais cruciais para entender a imunidade à Covid-19 do que os anticorpos.

Além disso, também é importante observar que o mundo já está chegando a 20 milhões de casos confirmados de Covid-19 desde dezembro de 2019. Até o momento, o caso de reinfecção no interior de São Paulo é apenas o segundo relatado pela ciência, o que, no mínimo, indica que essa situação não é comum em um prazo de 9 meses. O primeiro caso é de um paciente de Boston, nos Estados Unidos.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital