Até o fim de fevereiro, máscaras de proteção facial eram uma exceção ao caminhar pelas ruas brasileiras. Com o aumento da preocupação com a Covid-19 e o coronavírus, elas viraram parte do cenário em mercados, farmácias e no transporte público. No entanto, as pessoas estão usando a máscara corretamente? Elas devem realmente vestir esses itens para ir às ruas?

Neste momento, não existe consenso científico sobre o uso das máscaras para proteção contra o coronavírus por pessoas saudáveis ou assintomáticas. Isso significa que cada país está fazendo o que acha melhor em relação a recomendação do uso desse equipamento pela população.

Neste momento, a maior parte dos países no Ocidente segue a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), orientando seus cidadãos a NÃO utilizarem máscaras se não apresentam qualquer sintoma ligado à Covid-19. E existem motivos para isso: existe um risco grande de contaminação quando o usuário saudável faz uso da máscara.

A lógica é simples. Como explica André Yamamoto, otorrinolaringologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC que tem se dedicado a estudar a Covid-19, a maior parte das pessoas não-ligadas à área de saúde jamais passou por um treinamento sobre como usar as máscaras corretamente. Isso pode fazer com que o objeto as faça encostar a mão em seus rostos com mais frequência sem tomar os cuidados básicos para isso e, como se sabe, levar a mão contaminada até o rosto, em especial com contato com olhos, nariz e boca, é uma das principais formas de contrair a Covid-19.

Para usar uma máscara cirúrgica com segurança, existem três cuidados primordiais:

  1. Higienizar as mãos antes e depois de encostar na máscara para colocá-la ou tirá-la do rosto sem jamais encoste na área frontal que protege o nariz e a boca;
  2. Tomar cuidado para não colocar a mão na máscara e não ficar ajustando sua posição na face sem higienizar as mãos antes;
  3. As máscaras são descartáveis e devem ser usadas por apenas 4 horas ou caso fiquem úmidas.

Mais países estão recomendando máscaras

Segundo matéria do Washington Post, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos já estuda recomendar o uso de máscaras para toda a população, e não apenas para quem tem sintomas e para profissionais de saúde.

Além disso, no Brasil, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já começa a falar abertamente em mudar o discurso sobre as máscaras. Durante coletiva desta quarta-feira, 1º de abril, ele diz que qualquer barreira mecânica em frente ao nariz e à boca já ajudam a contenção do vírus, mesmo que seja algum tecido comum, não necessariamente uma máscara de uso médico. Para isso, o ministério pretende publicar um guia sobre quais tipos de tecidos podem ser usados e a forma correta de lavá-lo após o uso.

Também existe lógica nessa nova recomendação de ampliação do uso de máscaras. As últimas semanas mostraram que pessoas contaminadas podem transmitir o vírus mesmo que estejam assintomáticas. Da mesma forma, aqueles que ainda não desenvolveram sintomas também podem infectar os outros. Como explica Yamamoto, pesquisas mostraram que até três dias antes de um paciente apresentar sintomas, a carga viral em sua saliva já começa a aumentar.

Desta forma, pedir para que apenas quem é sintomático use a máscara limita a sua eficácia na propagação do vírus.

O que acontece onde máscaras são recomendadas?

Como dito, a discussão da comunidade científica sobre o assunto não chegou a um consenso, o que significa que há países que já recomendavam à população a utilização das máscaras há muito tempo. É o caso de Hong Kong, Taiwan, Coreia do Sul e China, na Ásia, e da República Tcheca na Europa.

São países que conseguiram controlar a transmissão do vírus, especialmente se comparado com o impacto que a Covid-19 está causando no Ocidente neste momento, principalmente na Itália, na Espanha e nos Estados Unidos, que veem o número de infectados e mortos aumentando violentamente a cada dia.

Seria o suficiente para declarar que a máscara ajuda a conter a transmissão do vírus? Não exatamente. Não existem estudos que sigam critérios científicos para afirmar isso de forma definitiva.

Para determinar que as máscaras são realmente eficazes para conter a propagação do coronavírus, seria necessário observar alguns critérios para eliminação de vieses no estudo, como a eliminação de variáveis. Existem vários outros fatores que podem afetar o resultado, como questões culturais ou políticas. Por exemplo: sem metodologia clara e rígida, não é possível saber se o fato de a doença estar sob controle em países asiáticos vem do uso amplo de máscaras ou se as pessoas simplesmente tenham hábitos melhores de higiene das mãos ou colocam menos a mão no rosto; da mesma forma, o resultado positivo pode ser fruto de ações governamentais mais efetivas, e não do uso de máscaras.

Afinal, devemos ou não usar?

Neste momento, mais importante do que usar a máscara cirúrgica, é reforçar a higiene, lavar as mãos com frequência e manter o distanciamento social, diz Yamamoto. E isso não tem a ver com a eficácia da máscara, que pode, sim, ajudar quando utilizada corretamente, mas sim com sua escassez.

Neste momento, profissionais da saúde que dependem dessas máscaras para fazer seu trabalho adequadamente estão precisando dela para poder atender aos pacientes da Covid-19 de forma apropriada. Não à toa, o Ministério da Saúde tem pedido para que quem tenha máscaras médicas em suas casas as doe para os hospitais.

Essa situação pode melhorar em breve, já que já foi confirmado um acordo com a indústria têxtil que aumentará a produção do TNT (tecido não-tecido), o material utilizado na confecção das máscaras cirúrgicas no Brasil. Sua exportação também será proibida, garantindo o uso para abastecimento nacional.

Com o fornecimento de TNT em dia, o Ministério da Saúde já disse que estuda um protocolo com orientações para a população comum sobre como usar as máscaras cirúrgicas. Isso indica que no futuro pode ser recomendado aos brasileiros a circulação em espaços públicos com máscaras.

O ministro Mandetta também passou a defender o uso de máscaras caseiras, de tecido convencional, para o público comum, mas de forma emergencial. “Acho que máscaras de pano para os comunitários funciona muito bem como barreira. Não é caro de fazer, faça você mesmo, tem na internet, faça você mesmo e lave com água sanitária”, ele disse durante coletiva. Vale notar que essa posição também não é consenso entre cientistas, que também apontam que a máscara caseira não oferece a proteção adequada.