Regulamentação trava estudo de combate à Covid-19 nos EUA

Por determinação da FDA, uma pesquisa que realizou mais de 20 mil testes de detecção do novo coronavírus em Seattle foi interrompida desde o último dia 14
Renato Mota22/05/2020 15h36

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Um estudo que mede o alcance da epidemia de Covid-19 em Seattle teve que ser interrompido por ordem da Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador do governo dos Estados Unidos. O projeto Scan já processou mais de 20 mil testes nas últimas dez semanas e ajudou a revelar quais regiões da cidade foram mais atingidas pelo novo coronavírus.

Porém, o problema está no método de coleta das amostras. Os pesquisadores enviam os cotonetes (ou swabs) para as casas das pessoas, que coletam a amostra e a enviam para o laboratório. Para a FDA, qualquer coisa que exija que uma pessoa colete amostras por si própria, em casa, suscita preocupações – e o projeto está parado desde o dia 14.

Por exemplo, a agência quer garantir que as amostras permaneçam estáveis caso tenham que ficar muito tempo em um veículo quente a caminho de um laboratório. A paralisação é temporária, e desde então o órgão autorizou o funcionamento de três testes caseiros, desenvolvidos pelas empresas LabCorp e Everlywell e pela Rutgers University de Nova Jérsei. O tempo de inatividade, entretanto, compromete o trabalho do projeto em Seattle.

“O Scan forneceu dados valiosos para nos ajudar a entender a epidemiologia do surto”, afirma o oficial do departamento de saúde pública de Seattle, Jeff Duchin. Essas informações foram integradas ao programa de rastreamento de contatos, para que as pessoas expostas ao vírus possam descobrir se foram infectadas ou se transmitiram a doença para outros.

O projeto é apoiado por Bill Gates e foi o primeiro a implementar esses testes nos Estados Unidos, em parceria com autoridades locais de saúde. O Scan (Seattle Coronavirus Assessment Network) nasceu a partir de outro projeto, o Seattle Flu Study, que colhia amostras da população em casa para medir a presença do vírus influenza.

Para entender como a gripe se espalha, os pesquisadores precisavam testar pessoas fora dos hospitais. A mesma ideia foi empregada no combate ao coronavírus. “Um modelo que exige que os profissionais de saúde colham amostras não pode ser facilmente ampliado. Além disso, ao entrar nas clínicas, as pessoas podem pegar uma infecção ou espalhar uma”, afirma Robin Patel, presidente da Sociedade Americana de Microbiologia.

A FDA solicitou dados de 17 mil amostras do Scan, além de informações sobre o programa e seus resultados experimentais. O grupo se esforçou para fornecer isso, além de relatar, por exemplo, que o RNA do coronavírus ainda pode ser detectado após incubação por nove dias a 28 °C – sugerindo que as amostras podem sobreviver a uma viagem até o laboratório.

Enquanto os pesquisadores esperam que a FDA revise seus dados, a equipe de pesquisadores está considerando alternativas para reiniciar o programa.

Via: Nature

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital