Por medo do coronavírus, ingleses ateiam fogo a torres de 5G

Teoria da conspiração diz que o vírus não existe, e que os sintomas da Covid-19 são um 'efeito colateral' do funcionamento das redes 5G
Rafael Rigues06/04/2020 19h55

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Uma bizarra teoria da conspiração (que já reportamos aqui) ligando as redes 5G à pandemia causada pelo novo coronavírus aparentemente está por trás de uma série de incêndios em torres 5G no Reino Unido, ocorridos nas últimas semanas.

De acordo com a teoria, o “vírus” não existe e seria um efeito colateral da implantação das redes 5G, que fariam as moléculas de oxigênio do ar vibrarem de forma a serem “sugadas” de nossos pulmões. A pandemia teria se iniciado em Wuhan porque a cidade teria colocado sua rede 5G em funcionamento recentemente.

A teoria, que não tem nenhum embasamento científico, não leva em consideração que a pandemia se espalhou para países onde não há redes 5G em operação, como o Irã, Japão ou Brasil. Além disso, seria muito mais fácil contê-la se o 5G fosse a causa: bastaria desligar as redes.

Segundo o The Verge, em um período de 24 horas na última sexta-feira quatro torres da operadora Vodafone foram no Reino Unido foram incendiadas, e três outras já haviam sido incendiadas anteriormente. A operadora também afirma que seus técnicos e engenheiros estão sendo ameaçados por cidadãos que acreditam que as torres, se forem colocadas em operação, “vão matar todo mundo”.

“Sinto informar que vândalos realizaram uma série de ataques criminosos a torres de telefonia celular durante este período de crise nacional”, diz Nick Jeffery, CEO da Vodafone UK. “Agora é uma questão de segurança nacional. As autoridades policiais e de combate ao terrorismo estão investigando. ”

As principais operadoras de telefonia do Reino Unido (Three, EE, Vodafone e O2) emitiram um comunicado conjunto negando a teoria da conspiração e pedindo ajuda dos consumidores para parar com os ataques. Elas lembram que neste momento, com milhões de pessoas trabalhando remotamente e em isolamento social, suas redes são cruciais para a educação, produtividade, comunicação e entretenimento da população.

Reprodução

“É difícil acreditar que algumas pessoas querem prejudicar as redes que estão fornecendo conectividade essencial para os serviços de emergência, o sistema nacional de saúde e o resto do país durante este período de quarentena”, disse Jeffery.

YouTube intervém

O YouTube decidiu intervir para auxiliar na contenção dos rumores. Vídeos com teorias de conspiração relacionadas à segurança das redes 5G, mas que não mencionem o coronavírus, serão “suprimidos”, através da suspensão de anúncios e de sua eliminação nos resultados de busca da plataforma.

Já vídeos que afirmam haver uma ligação entre o vírus e as redes 5G serão removidos da plataforma, já que violam a política da empresa que não permite a divulgação de métodos não comprovados pela comunidade médica para prevenir ou curar a doença.

Segundo o YouTube, desde fevereiro milhares de vídeos com informações falsas ou enganosas sobre o coronavírus foram removidos. Entretanto, trata-se de um jogo de gato e rato já que, frequentemente, momentos depois de um vídeo ser removido múltiplas cópias novas aparecem na rede.

Mats Granryd, diretor geral da GSMA, organização que representa o interesse de empresas da indústria de telefonia em todo o mundo, disse: “A indústria de telecomunicações está trabalhando dia e noite para manter serviços vitais de saúde, educação e emergência on-line, além de negócios funcionando e amigos e famílias conectados. É deplorável que a infra-estrutura crítica de comunicações esteja sendo atacada com base em tamanhas mentiras. Pedimos a todos que confiem nas autoridades de saúde e tenham certeza de que a tecnologia de comunicação é segura. Não há ligação entre 5G e Covid-19”.

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital