A cidade de Wuhan, na China, é considerada o epicentro da pandemia do novo coronavírus. Embora o paciente zero não tenha sido identificado, oficiais de órgãos de saúde do país apontam que a origem da transmissão está relacionada ao consumo da carne de pangolim vendida em um mercado de animais e frutos do mar na capital da província de Hubei.
Nesta quinta-feira (12), no entanto, um político e integrante do Ministério da Relações Exteriores chinês decidiu contestar publicamente esta versão. No Twitter, Zhao Lijian insinuou que o novo coronavírus pode ter sido introduzido à China pelo exército americano.
O funcionário do partido comunista compartilhou um vídeo em que o diretor dos Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos afirma em depoimento ao Congresso americano que alguns pacientes que teriam falecido em decorrência da gripe, poderiam, na verdade, terem sido vítimas da Covid-19 (novo coronavírus).
“Quando apareceu o paciente zero nos EUA?”, disse Zhao, no Twitter. “Quantas pessoas foram infectadas? Para quais hospitais foram encaminhadas? Pode ser que o exército dos Estados Unidos tenha trazido a epidemia para Wuhan! Eles devem ser transparentes! Publiquem seus dados! O Estados Unidos nos devem explicações”, afirmou.
Apesar de carecer de qualquer embasamento, as mensagens viralizaram no Weibo, principal plataforma de rede social da China. A hashtag #ZhaoLijianPostedFiveTweetsinaRowQuestioningAmerica recebeu mais de 160 milhões de visualizações em aproximadamente 24 horas.
Logo usuários associaram os comentários de Zhao aos jogos militares realizados em Wuhan, em outubro de 2019. Na ocasião, o departamento de defesa do Estados Unidos enviou 17 equipes com mais de 280 atletas e membros de comissão técnica para a cidade. No entanto, nenhum tipo de doença foi relacionada a membros do serviço americano.
Reações
De acordo com o The New York Times, as declarações de Zhao foram recebidas por autoridades americanas como uma tentativa de desviar o foco das críticas ao modo como governo chinês tratou a doença nos estágios iniciais da pandemia. O jornal lembra que Pequim reprimiu o médico que teria alertado publicamente a respeito da proliferação da doença pouco antes da incidência do surto.
Outra interpretação aponta que esta é uma resposta a comentários xenófobos de membros do governo de Donald Trump. O secretário de governo Mike Pence, por exemplo, se referiu várias vezes ao novo coronavírus como “Wuhan Vírus”, expressão também utilizada por oficiais do exército norte-americano. Além disso, senadores chegaram a insinuar que a epidemia foi provocada pelo vazamento de uma arma biológica chinesa.
Ao The New York Times, o professor da Universidade da Califórnia de San Diego, Victor Shih, afirmou que a ideia de que o exército americano teria levado o coronavírus à China deve ter sido fabricada por um grupo restrito de oficiais que tentam vender a versão aos principais líderes do governo do país.
“Se as lideranças realmente acreditassem na culpa do governo americano, isso provavelmente ia degradar de forma dramática as relações bilaterais entre os países”, disse.
Fonte: The New York Times