Pesquisadores quebram protocolo para testar vacina contra Covid-19

Alguns deles não vão esperar os resultados da aplicação em animais para iniciar o teste em humanos
Luiz Nogueira13/03/2020 14h02

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Devido ao surto de coronavírus no mundo, pesquisadores correm contra o tempo para testar uma vacina que seja eficaz contra o problema. Para agilizar o processo, que deve levar pelo menos um ano, alguns deles não vão esperar os resultados da aplicação em animais para iniciar o teste em humanos, quebrando o protocolo atual.

Normalmente, para que uma vacina chegue a ser aplicada em pessoas, órgãos reguladores exigem que testes de segurança sejam realizados em animais de laboratório, antes de expor voluntários humanos a situações em que a eficácia do medicamento é atestada.

Mas, dada a atual urgência, faz sentido iniciar os testes de segurança em humanos antes que os primeiros testes estejam concluídos, segundo Mark Feinberg, presidente e CEO da International Aids Vaccine Initiative, cujo trabalho foi essencial no desenvolvimento da imunização contra o Ebola. “Pessoalmente, acho que isso não é apenas apropriado, mas é nossa única opção”, finaliza Feinberg.

Para alguns, a proporção do surto justifica o trabalho simultâneo em etapas que normalmente seriam feitas sequencialmente. Para outros, confundir a ordem dos fatores parece moralmente questionável. Isso porque podem haver riscos potencialmente desconhecidos – além de não ficar claro o quão eficaz a fórmula pode ser.

Problemas com a cura

Reprodução

Mesmo com as recomendações, especialistas em ética não têm certeza dos eventuais benefícios de levar uma vacina não “segura” para um novo nível de testes. “Surtos e emergências nacionais geralmente criam pressão para suspender direitos, padrões e/ ou regras normais de conduta ética. Muitas vezes, nossa decisão de fazê-lo parece imprudente em retrospecto”, declara Jonathan Kimmerlman, diretor da unidade de ética biomédica da Universidade McGill.

Criação de uma vacina

A Moderna, uma empresa de biotecnologia de Cambridge, Massachusetts, desenvolveu em tempo recorde uma vacina que pode ser uma das candidatas ao combate do coronavírus. Entretanto, mesmo com o tempo usado para a confecção da solução, especialistas alertam que a empresa não produziu uma única imunização que chegou ao mercado. Isso porque nenhum dos projetos foi aprovado como sendo realmente eficaz.

De qualquer forma, a maior vantagem do método proposto pela empresa é sua velocidade. O vírus por trás do surto foi identificado em 7 de janeiro. Menos de uma semana depois – em 13 de janeiro – pesquisadores da Moderna tinham um projeto para a vacina.

Em 24 de janeiro, a empresa enviou para o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) o projeto de vacina, para que os testes fossem iniciados. Para prosseguir com a ideia, voluntários saudáveis começaram a ser recrutados em março. O plano é de testar 45 pessoas, com idades entre 18 e 55 anos, que receberão duas doses da vacina experimental, com um intervalo de um mês. Cada uma delas vai receber US$ 1.100 para participar do estudo.

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Isso não significa que os testes em animais foram descartados. Os virologistas do NIAID experimentaram a nova composição em ratos de laboratório comuns no mesmo dia em que as pessoas começaram a se inscrever para serem voluntárias.

Mesmo com os participantes dos testes tendo sido escolhidos, os pesquisadores não disseram abertamente que começarão a administrar o medicamento em seres humanos antes de obter resultados concretos dos testes preliminares.

A própria Moderna reconhece que essa é uma tarefa assustadora – e que pode não ter êxito. “Ainda não testamos nossa capacidade de resposta rápida e podemos não conseguir produzir uma vacina que trate com sucesso o vírus em tempo hábil”, declarou a empresa em um comunicado.

O que a empresa não comenta é que ainda não lançou um único produto no mercado, mesmo em momentos não emergenciais. A maioria das vacinas criadas pela companhia falha. Se, contra todas as probabilidades, esse projeto der resultados positivos, a empresa precisará ter cuidado extra ao monitorar o que acontece com as pessoas que receberem o medicamento.

Via: Scientific American

Luiz Nogueira
Editor(a)

Luiz Nogueira é editor(a) no Olhar Digital