Pesquisa isola anticorpos com genes mais eficientes contra a Covid-19

Sabendo quais anticorpos possuem maturação de afinidade mínima e alta potência, os pesquisadores poderão desenvolver mais rapidamente uma vacina eficaz contra o novo coronavírus
Renato Mota14/07/2020 18h13

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Uma pesquisa que utilizou cristalografia de raios X para detalhar as estruturas atômicas dos anticorpos gerados pelo corpo humano para neutralizar o Sars-Cov-2 descobriu uma característica molecular comum que pode ajudar, e muito, no desenvolvimento de vacinas e medicamentos contra a Covid-19. O estudo foi publicado na revista Science.

Os cientistas analisaram dados sobre quase 300 anticorpos de pacientes infectados pelo novo coronavírus nos últimos meses. Um subconjunto desses anticorpos (todos codificados, em parte, pelo gene anticorpo IGHV3-53) mostrou-se particularmente eficiente na neutralização do vírus.

“Esse tipo de anticorpo foi isolado com frequência em estudos com pacientes com Covid-19, e agora podemos entender a base estrutural para sua interação com o Sars-Cov-2”, explica o autor sênior do estudo, Ian Wilson, presidente do Departamento de Biologia Estrutural e Computacional Integrativa da Scripps Research.

Anticorpos codificados pelo IGHV3-53 geralmente estão presentes, pelo menos em pequenos números, no sangue de pessoas saudáveis. Os resultados da pesquisa podem ajudar no desenvolvimento de vacinas para aumentar os níveis desses anticorpos . “Este estudo fornece uma inspiração importante para o design eficaz da vacina da Covid-19”, avalia o coautor, Dennis Burton, professor do Departamento de Imunologia e Microbiologia da Scripps Research.

Em sua conta no Twitter, o biólogo e doutor em microbiologia pela USP  Atila Iamarino explicou que dados como os levantados pela pesquisa são usadas como base para desenho de vacinas e terapias. Na pesquisa, os cientistas descobriram que o gene de anticorpo IGHV3-53 era o mais comum dos genes para os 294 anticorpos, codificando em cerca de 10% deles. Os anticorpos IGHV3-53 ainda têm outra propriedade: eles pareciam ter sofrido uma mutação mínima das versões originais que circulavam no sangue de pessoas saudáveis.

Normalmente, quando ativadas por um encontro com um vírus ao qual eles se encaixam, as células de defesa do organismo começam a proliferar e a mutar partes de seus genes para gerar novos anticorpos se ajustam melhor ao alvo viral. Quanto mais mutações forem necessárias para esse processo de “maturação por afinidade”, mais difícil poderá ser induzir esse mesmo processo com uma vacina.

“O anticorpo que ataca e impede o coronavírus no estudo é bastante eficiente e não depende de muita maturação. Ou seja, usando o componente certo na vacina, tem boas chances de fazermos a resposta eficiente contra o vírus – se a resposta eficiente depender de anticorpos, claro”, explica o biólogo.

“Os coronavírus existem há centenas ou milhares de anos, e pode-se imaginar que nosso sistema imunológico evoluiu de tal maneira que carregamos anticorpos como esses que podem dar uma resposta poderosa logo de cara”, completa Wilson.

Editor(a)

Renato Mota é editor(a) no Olhar Digital