Cientistas correram e adiantaram tudo que era possível para desenvolver uma vacina contra Covid-19 em todas as formas possíveis, mas agora chegaram ao ponto que não pode ser acelerado: a fase 3, que consiste em vacinar voluntários e esperar que eles entrem em contato com o vírus para saber se a fórmula realmente oferece proteção. No entanto, o Reino Unido avalia uma forma de tentar obter esses resultados mais rapidamente: infectar propositalmente alguns voluntários.

Os planos foram revelados pelo site Financial Times e confirmados pela BBC. O governo britânico diz que, neste momento, ainda são apenas de discussões sobre o assunto, e ainda não há nenhum tipo de contrato firmado para esse tipo de experimento. Os testes aconteceriam em Londres.

O grande problema da fase 3 é que ela está fora do controle dos pesquisadores. Milhares de pessoas são vacinadas ou recebem um placebo na esperança de que algumas delas se exponham ao vírus de forma acidental. Os estudos que abriram seus protocolos indicam que desse grupo gigante, entre 150 e 160 devem ser infectados até meados de 2021. Para determinar a eficácia, eles observam a proporção de casos em cada grupo: se quem recebeu o placebo se contaminou muito mais do que quem recebeu a vacina, significa que a fórmula funciona, pelo menos parcialmente.

Esse processo seria consideravelmente mais rápido se os cientistas pudessem realizar o que se chama de “desafio”, que nada mais é do que expor alguém ao vírus propositalmente. Durante a fase de testes com animais, esse é o método usado para averiguar se a vacina candidata é digna de avançar para os testes com humanos. Do ponto de vista da ética, no entanto, usar pessoas para esse tipo de experimento tem grandes implicações, especialmente quando se trata de uma doença com alto potencial letal.

A BBC nota que esse tipo de experimento já foi realizado antes com humanos para testar vacinas contra doenças como a gripe, cólera e a febre tifoide, mas em todos esses casos havia um tratamento eficaz e comprovado para impedir o desenvolvimento da doença em caso de falha na vacina. Não é o caso da Covid-19

Em entrevista ao programa de rádio Today, da BBC, o professor Peter Horby, da Universidade de Oxford (mas não envolvido com a vacina desenvolvida pela universidade), defendeu a ideia, apontando que complicações para jovens sem comorbidades são muito raras, e os voluntários seriam acompanhados de perto para observar como o sistema imunológico responde ao desafio e para tratá-los rapidamente caso a vacina falhe em protegê-los.

O mesmo programa, inclusive, entrevistou um jovem estudante universitário de 18 anos disposto a participar desse teste caso as discussões para sua realização avancem. Ele alegou que, para ele, fazia sentido se dispor a esse experimento, já que poderia salvar milhares de vidas ao acelerar o desenvolvimento de uma vacina. É provável que outros também se dispusessem a isso.