A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta terça-feira (9) que a transmissão do novo coronavírus por pacientes assintomáticos ocorre, mas ainda é necessário investigar qual a proporção dessas pessoas que podem contaminar outros indivíduos.

O pronunciamento da entidade acontece um dia após a chefe do programa de emergências do órgão, Maria Van Kerkhove, ter declarado que a transmissão da Covid-19 por pacientes sem sintomas da doença aparenta ser “muito rara”.

Em coletiva ao vivo pelas redes sociais da organização, a representante da OMS classificou o episódio como um mal-entendido e afirmou que suas declarações se referiam a um conjunto limitado de estudos.

“Acho que é um mal-entendido afirmar que uma transmissão assintomática globalmente é muito rara, sendo que eu estava me referindo a um subconjunto de estudos. Também me referi a alguns dados que ainda não foram publicados, e essas são as informações que recebemos de nossos Estados-Membros”, explicou.

Segundo a epidemiologista, a maioria das transmissões decorre de pessoas com sintomas, mas existe um “subconjunto” de indivíduos que não desenvolvem os sinais da doença. Kerkhove disse que o desafio é mensurar o tamanho dessa população.

“Para realmente entender quantas pessoas não têm [sintomas], pois ainda não temos essa resposta, existem algumas estimativas. Elas sugerem que entre 6% e 41% da população podem estar com o vírus, mas não apresentar os sintomas” afirmou. “O que sabemos é que algumas pessoas que não têm sintomas podem transmitir o vírus”.

O diretor de operações da OMS, Michael Ryan, adotou a mesma linha que Kerkhove, mas foi ainda mais enfático. “Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por pessoas assintomáticas está ocorrendo, a questão é saber quanto”, disse.

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Michael Ryan, diretor de operações da OMS. Foto: Reprodução/OMS

Segundo Ryan, a melhor forma de combater o vírus é rastrear sua transmissão para que autoridades possam suprimir a disseminação. Ele ressaltou que os números da pandemia do novo coronavírus continuam aumentando e que a OMS mantém recomendações de distanciamento social como medidas efetivas para controlar a propagação da doença.

“Estamos subindo ainda a montanha. Precisamos adotar as medidas, pois sabemos que funcionam”, afirmou o diretor da entidade.

Pacientes pré-sintomáticos

As declarações de Kerkhove na segunda-feira foram criticadas por especialistas que acusaram a representante da OMS de não considerar a transmissão de pacientes pré-sintomáticos. Pessoas nesta condição ainda não apresentam os sintomas, mas possuem o vírus circulando pelo corpo e desenvolvem os sinais da doença posteriormente.

O diretor do Instituto de Saúde Global da Universidade de Harvard, Ashish K. Jha, afirmou pelo Twitter que a OMS diferencia os casos pré-sintomáticos de assintomáticos e existem mais ocorrências enquadradas na primeira categoria. “Muitos deles já espalham o vírus antes de desenvolver sintomas”, disse Jha.

O pesquisar explicou que 20% dos infectados pelo coronavírus não desenvolverão nenhum sintoma, enquanto outros 80% poderão desenvolver sintomas leves ou mais graves.

Já a bióloga formada pela USP e PHD em Microbiologia, Natália Pasternak, disse em entrevista à Globo News que também é necessário considerar pessoas com sintomas leves, mas que não correlacionam os sinais com a doença. Segundo ela, é complexo determinar quem é pré-sintomático e pacientes com sintomas muito leves.

“Os pré-sintomáticos transmitem antes e durante os sintomas, e os sintomáticos leves transmitem o tempo todo sem perceber. E os assintomáticos? Não sabemos!”, disse a cientista.

Fonte: UOL/G1