Síndrome misteriosa relacionada à Covid-19 afeta crianças nos EUA

Enfermidade parece ser causada por uma resposta imunológica descontrolada após a infecção pelo coronavírus e lembra uma condição rara chamada "Doença de Kawasaki"
Rafael Rigues06/05/2020 12h44

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Desde o início da pandemia de Covid-19, uma síndrome misteriosa vem afetando crianças na Europa e nos EUA. Batizada de “Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica”, ela é caracterizada por febre, dores abdominais, erupções cutâneas, olhos vermelhos, problemas de circulação sanguínea e alargamento dos vasos sanguíneos.

No Cohen Children’s Medical Center, em Nova York, 25 crianças foram admitidas com estes sintomas nas últimas semanas. Na mesma cidade, o NewYork-Presbyterian Morgan Stanley Children’s Hospital atendeu entre 10 e 20 pacientes com a condição, entre crianças e adolescentes.

Os sintomas são similares a uma doença conhecida como “Doença de Kawasaki”, caracterizada por uma inflamação nos vasos sanguíneos. Entretanto, esta doença é considerada rara, especialmente nos EUA, e afeta em sua maioria crianças entre os seis meses e seis anos de idade.

Reprodução

Segundo o Dr. Steven Kernie, chefe de medicina pediátrica de cuidados intensivos da Universidade de Columbia e do NewYork-Presbyterian Morgan Stanley Children’s Hospital, há uma diferença importante entre a Doença de Kawasaki e a nova síndrome: nesta, muitas das crianças doentes entram em choque tóxico, com pressão arterial muito baixa e uma inabilidade do sangue de circular oxigênio e os nutrientes necessários para funcionamento dos órgãos.

Foi o que aconteceu com Jayden Hardowar, de 8 anos. Em 23 de abril ele teve uma febre moderada. Nos dias seguintes começou a se sentir fraco e inquieto, até que em 29 de abril, enquanto assistia TV, gritou “mamãe!” e parou de respirar. Foi salvo por seu irmão, escoteiro, que fez compressão torácica até que a ambulância chegasse.

No hospital, foi colocado em um ventilador mecânico por três dias até começar a melhorar. Embora os resultados de um teste para presença do coronavírus tenham dado negativo, os testes para anticorpos foram positivos, o que indica que em algum momento nas últimas semanas ou meses ele esteve infectado. Jayden é uma das 11 crianças com a síndrome atualmente internadas na UTI do Cohen Children’s Medical Center.

Casos da síndrome

Nesta segunda-feira (4) o departamento de saúde de Nova York emitiu um boletim pedindo que os médicos reportassem casos da nova síndrome. Segundo o boletim, as autoridades já conheciam 15 casos desde 17 de abril, em pacientes com idades entre 2 e 15 anos. Mas os números podem ser bem maiores. Segundo o The New York Times, entrevistas com médicos revelam ao menos 50 casos de crianças que foram tratadas, nem todas em terapia intensiva.

Segundo os médicos, os casos da nova síndrome começaram a aparecer cerca de um mês depois do início do surto de Covid-19. Isto “sugere uma resposta imune pós-infecção”, diz o Dr. Leonard Krilov, diretor de pediatria do NYU Winthrop Hospital em Mineola, no estado de Nova York.

Tratamento

Alguns pacientes respondem bem a um tratamento padrão para Doença de Kawasaki, uma injeção intravenosa de imunoglobulina, um soro extraído de sangue doado. Foi o caso de um dos pacientes do Dr. Krilov, um garoto de 4 anos cuja família teve Covid-19 e que apresentou febre, erupções cutâneas e problemas renais. Após tratamento com o soro, em alguns dias sua febre baixou e sua função renal voltou ao normal.

Ainda assim, crianças em geral são muito menos suscetíveis que os adultos à Covid-19 ou complicações relacionadas. Segundo a Dra. Jennifer Lighter, especialista pediátrica em doenças infecciosas no NYU Langone Medical Center, a nova síndrome “é muito, muito rara, e as crianças estão bem no geral”, afirma.

Fonte: The New York Times

Colunista

Rafael Rigues é colunista no Olhar Digital