Simulador de pandemias ‘Plague Inc.’ é banido na China

Jogo havia disparado em popularidade devido ao surto do coronavírus, o que pode ter causado sua censura
Renato Santino27/02/2020 20h59

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Desde o início do surto do coronavírus, o jogo “Plague Inc.“, que simula a disseminação de uma doença com objetivo de destruir a humanidade, ganhou muita atenção. Agora, essa atenção se voltou contra os desenvolvedores após o game ser removido da App Store na China, mencionando uma justificativa genérica de que ele inclui “conteúdo que é ilegal” no país, conforme determinação da Administração do Ciberespaço da China.

O jogo foi distribuído livremente no país por vários anos, o que indica que a ação tem a ver com a disseminação do coronavírus (ou Covid-19, se preferir). A Ndemic, empresa responsável pelo game, diz que não está claro “se a remoção está ligada ao surto do coronavírus enfrentado pela China”, mas é muito provável que este seja o motivo. No resto do mundo, o game continua distribuído normalmente no iOS e Android; isso também vale para as edições “Evolved”, disponíveis para Xbox One e PS4.

“A situação está fora do nosso controle. Estamos trabalhando duro para encontrar uma forma de fazer o jogo voltar às mãos dos jogadores chineses, mas como um pequeno estúdio independente de jogos do Reino Unido, as chances estão contra nós. Nossa prioridade é tentar contatar a Administração do Ciberespaço da China para entender suas preocupações e trabalhar com eles para encontrar uma solução”, diz o comunicado.

Casos de censura a jogos não são totalmente novidade na China, já que o país é conhecido pelo forte controle que tem sobre as mídias do país. Sem uma explicação formal sobre o conteúdo que causou a remoção do app, restam as especulações. Claro, a relação com o coronavírus é a mais óbvia. No entanto, Daniel Ahmad, analista da indústria de jogos especializado no mercado asiático, aponta outras possíveis causas, como a atualização lançada em dezembro para a versão do iOS que introduziu o “modo Fake News”, deixando de lado as ameaças biológicas, usando como objetivo a difusão de boatos e teorias conspiratórias. De fato, o governo tem o hábito de vetar conteúdo com informações falsas no país que venham a “ferir a ética pública, perturbe a ordem social ou enfraqueça a estabilidade social”.

A Ndemic se viu em uma situação curiosa nas últimas semanas. Com o surto, o game, que coloca o jogador na posição de evoluir um vírus, bactéria ou outro agente patogênico para que ele se torne o mais letal possível, disparou em número de downloads. Isso fez a empresa emitir um comunicado para tentar lembrar o público de que aquilo era apenas um jogo e que não deveria ser levado em consideração como material de estudo sobre a disseminação de doenças.

“Projetamos o jogo especificamente para ser realista e informativo, sem sensacionalizar problemas sérios do mundo real. Isso foi reconhecido pelo CDC (Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos) e outras organizações médicas pelo mundo. No entanto, lembre-se de que Plague Inc. é um jogo, e não um modelo científico e que o atual surto de coronavírus é uma situação real que está impactando um grande número de pessoas”, dizia o comunicado de janeiro da empresa publicado em janeiro. A Ndemic também aproveitou para orientar o público a procurar informações com autoridades locais e globais de saúde.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital