A corrida pela vacina da Covid-19 é real. Laboratórios pelo mundo inteiro disputam para colocar um produto eficaz no mercado o quanto antes, não só pelo benefício de saúde pública, mas também buscando o reconhecimento e os polpudos aportes financeiros que tal feito proporcionaria.
No entanto, apesar dos avisos da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que se evite o “nacionalismo vacinal“, tudo indica que o poder econômico determinará quem será vacinado primeiro. Países mais ricos estão reservando um volume enorme de doses das pesquisas mais promissoras, deixando pouquíssimas doses restantes para as economias em desenvolvimento.
A revista científica Nature fez um levantamento, com base em monitoramento da consultoria Airfinity, do que já foi anunciado até o momento, tanto em capacidade de produção das vacinas em fases mais avançadas de teste, quando de reservas de doses confirmadas por países.
Veja:
Oxford-AstraZeneca: 2,94 bilhões de doses até 2021
Uma das pesquisas mais avançadas contra o coronavírus também é uma das que têm fechado mais acordos para distribuição de vacinas. Também é a mais democrática, graças ao fundo internacional Covax, que tem trabalhado para distribuir doses para 92 países de menor capacidade econômica.
Até o momento, a vacina já tem 2,4 bilhões das 2,94 bilhões que tem projetadas para o fim de 2021 já estão reservadas. Europa, que tem negociado vacinas como um bloco, e Estados Unidos, dominam boa parte das encomendas. O Brasil já tem 100 milhões de doses reservadas como parte de um acordo com o Ministério da Saúde.
Sinovac: 350 milhões de doses até 2021
A “vacina chinesa” testada pelo governo estadual de São Paulo, desenvolvida pela Sinovac e batizada de CoronaVac, tem 350 milhões de doses projetadas para o fim de 2021, mas curiosamente já há 370 milhões de doses reservadas. Cerca de um terço dessa projeção será destinada ao Brasil, e o restante distribuído entre outros países de menor poder econômico.
Pfizer-BioNTech: 1,3 bilhão de doses até 2021
A vacina, desenvolvida pela alemã BioNTech em parceria com a gigante farmacêutica Pfizer, se envolveu em polêmica quando surgiu a notícia de que os Estados Unidos teriam reservado toda a produção prevista para 2020, mas a empresa nega que isso tenha ocorrido.
Fato é que, neste momento, a empresa já tem 230 milhões de doses reservadas, que serão destinadas primariamente a Estados Unidos e Japão.
Johnson & Johnson: 1,1 bilhão de doses até 2021
Outra vacina que está avançando para a fase final de testes, e basicamente um terço das suas doses já estão reservadas para a Europa e Estados Unidos, com uma parte menor destinada ao Reino Unido. São 330 milhões de doses reservadas até o momento.
Moderna: 950 milhões de doses até 2021
A empresa se destacou por ser uma das primeiras a anunciar seus resultados em testes com humanos, também foi uma das primeiras a fechar um grande acordo de distribuição com os Estados Unidos, com mais de 104 milhões de doses já reservadas antes da conclusão dos testes.
Sanofi-GSK: 1,6 bilhão de doses até 2021
As duas empresas se beneficiaram da Operação Warp Speed do governo dos Estados Unidos, criada para acelerar as pesquisas por uma vacina, recebendo cerca de US$ 2,1 bilhões para desenvolver seu projeto. Como resultado, o governo americano já tem 100 milhões de doses reservadas até o momento, e um total de 460 milhões de reservas no total, contemplando também a Europa e o Reino Unido.
CureVac: 1,1 bilhão de doses até 2021
A alemã CureVac é uma das empresas de maior produção projetada para o próximo ano, e já tem um grande acordo firmado para distribuição de vacinas na União Europeia. O acordo prevê 225 milhões que podem ser distribuídas entre os países do bloco.
Quem tem mais doses por habitante?
Como visto, os países mais ricos já estão costurando vários acordos de fornecimento de vacinas, e alguns já estão bem supridos para o caso de alguma, ou mais de uma, dessas pesquisas apresente um resultado positivo. Mas como está o fornecimento para os países de acordo com a Airfinity?
Neste momento, o Reino Unido sai na frente como o país que mais está preparado em caso de sucesso nas pesquisas. O país já tem mais de 5 doses reservada por habitante, valendo-se também de uma população menor do que a dos Estados Unidos e do bloco europeu como um todo. São mais de 300 milhões de doses reservadas.
Os EUA estão atrás do Reino Unido em termos relativos, mas têm muito mais doses em valores absolutos. O país já tem 2 doses reservadas por habitante, com acordos de expansão potencial que levam esse número para próximo das 5 doses per capita, resultado de mais de 1,5 bilhão de doses.
Já a União Europeia como um todo, com seus 500 milhões de habitantes, tem cerca de 1,8 dose por habitante, mas esse número pode ser elevado para quase 3 doses per capita em uma expansão potencial, o que seria equivalente a 1,5 bilhão de doses.
O Brasil é um dos países que figura no ranking graças a acordos de produção e distribuição nacional com a Sinovac e AstraZeneca, com 0,5 doses reservadas por habitantes, segundo a Airfinity. Isso equivale a 100 milhões de doses em termos absolutos.