Pesquisadores nos EUA têm sucesso com testes de vacina contra Covid-19 em animais

Estudo já foi revisado por outros cientistas e agora os autores esperam a autorização para começar a testar em humanos
Renato Santino02/04/2020 23h26

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No mundo inteiro, cientistas correm para tentar desenvolver uma vacina para combater o coronavírus. Nos Estados Unidos, mais especificamente na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, pesquisadores anunciaram uma potencial vacina que mostrou resultados promissores em um dos primeiros estudos revisados por pares sobre o tema.

Por enquanto, os testes foram realizados apenas em animais, mas os resultados foram positivos. Os testes com humanos já estão nos planos, mas ainda sem prazo determinado para acontecer. Antes disso, os cientistas tentam obter a aprovação da FDA, a Administração de Drogas e Alimentos dos Estados Unidos (equivalente à Anvisa no Brasil). O processo normalmente leva meses e os testes em humanos podem demorar mais de um ano antes da validação, mas pesquisadores não sabem dizer se isso se manterá agora, diante da urgência da criação de uma vacina funcional.

“Esta situação em particular é diferente de tudo que já vimos, então não sabemos quanto tempo demorará o processo de desenvolvimento clínico. Revisões anunciadas recentementes aos processos normais sugerem que nós poderemos avançar mais rápido”, diz Louis Falo, dermatologista e um dos coautores do estudo.

Segundo um dos coautores da pesquisa, Andrea Gambotto, a experiência com outras doenças similares acelerou o processo. “Nós tivemos experiências com o Sars-Cov em 2003 e o Mers-Cov em 2014. Estes dois vírus, bastante próximos do Sars-Cov-2 (causador da Covid-19), nos ensinam que uma proteína particular, chamada de proteína-espinho, é importante para induzir a imunidade”, disse ele, completando que os cientistas sabiam exatamente como atacar o novo vírus.

A vacina já tem um nome: PittCoVacc (de “Vacina do Coronavírus de Pittsburgh” em inglês) funciona como uma vacina convencional: injetando pedaços do vírus enfraquecidos no organismo, fazendo com que ele desenvolva anticorpos. Desta forma, quando o vírus chegar a esta pessoa, o sistema imunológico já está preparado para impedir danos.

Nos testes com ratos de laboratório, os pesquisadores perceberam um aumento rápido no número de anticorpos capazes de combater o vírus após duas semanas da aplicação da vacina.

A PittCoVacc, no entanto, é um pouco diferente do que se imagina quando se pensa em vacina, normalmente associada a uma injeção por meio de uma seringa ou por via oral, com gotas. Os pesquisadores projetaram uma espécie de adesivo com 400 microagulhas, que são feitas de açúcares e proteína. Quando coladas na pele, essas agulhas injetam o material no corpo e desaparecem. Segundo Falo, o método é indolor, e se assemelha a pressionar velcro contra a pele.

O formato tem suas vantagens em comparação com os métodos mais conhecidos de aplicação. Caso aprovada, ela sequer seria que passar por refrigeração para armazenamento e transporte e poderia ser produzida rapidamente. Essa parte logística pode não ser tão relevante para uma vacina comum, mas no caso de uma pandemia como a da Covid-19 é “o primeiro requisito”, segundo Gambotto.

O que o estudo ainda não concluiu é por quanto tempo um organismo permaneceria imune, já que os ratos ainda não foram analisados no longo prazo. Os cientistas notam que os animais que receberam a vacina contra o Mers-Cov desenvolveram anticorpos para permanecerem imunes por um ano e isso tende a se repetir com o Sars-Cov-2.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital