Pesquisa indica que organismo pode derrotar Covid-19 mesmo sem anticorpos

Resultado indica que resposta celular, manifestada pelas células T, pode ser suficiente contra Covid-19 e sugere imunidade duradoura contra o vírus
Renato Santino17/08/2020 18h10, atualizada em 17/08/2020 18h20

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Cada vez mais evidências se unem indicando que os anticorpos podem não ser o mecanismo de defesa mais importante do organismo para combater uma infecção de Covid-19. Um novo estudo sueco relata casos de pessoas que conseguiram combater o coronavírus mesmo sem produzir um nível detectável de anticorpos imunizantes.

A pesquisa, publicada na revista Cell, retrata a importância da imunidade celular para contenção do vírus, manifestada pelos linfócitos T. Eles são capazes de produzir memória contra a infecção, gerando uma nova resposta mais ágil em caso de uma segunda exposição ao vírus, mas também podem agir de forma mais agressiva e matar as células infectadas, impedindo que o vírus possa se reproduzir dentro do corpo.

Essa resposta celular tem se mostrado crucial no combate do coronavírus, porque vários estudos já mostraram que os anticorpos específicos contra o Sars-Cov-2 tendem a desaparecer em questão de alguns meses. O fato de que o corpo é capaz de se defender mesmo sem eles é uma notícia que reforça a possibilidade de uma imunidade duradoura. O próximo passo da pesquisa é tentar entender justamente isso: essa resposta robusta de células T mesmo sem anticorpos representa uma proteção duradoura contra a Covid-19?

No estudo, os pesquisadores analisaram a resposta imunológica de mais de 200 pacientes na Suécia, com múltiplos níveis de exposição e gravidade de Covid-19. Eles perceberam que os 23 indivíduos que se recuperaram de uma infecção grave registravam resposta com anticorpos e com células T, o que já era esperado. No entanto, os pesquisadores também conseguiram medir a resposta com células T mesmo entre familiares desses pacientes e em pessoas que tiveram casos muito leves da doença vários meses depois da infecção.

Entre 28 familiares, cerca de 17 tinham níveis detectáveis de anticorpos, mas 26 deles registravam resposta com os linfócitos T. Já entre os casos leves, foram acompanhados 31 pacientes, e 27 deles tinham níveis detectáveis de anticorpos e 30 tinham células T.

Os pesquisadores também concluíram que o uso da medição de anticorpos para detectar exposição prévia ao coronavírus pode subestimar a imunidade de uma população ao vírus. Pesquisas de soroprevalência têm sido usadas no mundo inteiro para entender quantas pessoas já se expuseram à Covid-19 sem diagnóstico formal e tentar analisar a proximidade de uma possível imunidade coletiva. No entanto, como a pesquisa mostra, anticorpos são só uma parte da resposta imunológica, e algumas pessoas conseguem se livrar do vírus mesmo sem eles.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital