O diretor de operações da Organização Mundial da Saúde (OMS) Michael Ryan admitiu, nesta quarta-feira (13), a possibilidade de que a Covid-19 se transforme em uma doença endêmica e nunca desapareça. Segundo ele, ainda há um “longo caminho” até o fim da pandemia do novo coronavírus e governos de todos os países devem se manter vigilantes.
“É muito difícil prever quando vamos prevalecer sobre o vírus. E pode ser que nunca aconteça. Pode ser que nunca desapareça, que se torne endêmico, como outros vírus.” afirmou Ryan. “O HIV não desapareceu. Encontramos as terapias e as pessoas não tem mais o mesmo medo. Não estou comparando as duas doenças, mas precisamos ser realistas”, reforçou.
Para Ryan, a distribuição de uma vacina eficaz contra o novo coronavírus é fundamental para combater a pandemia. No entanto, o recurso não garante o controle total da doença. Ele diz que, além do desafio de garantir o acesso à vacina para todo o mundo, é preciso que os sistemas de saúde sejam capazes de aplicá-las.
Michael Ryan, diretor de operações da OMS (Foto: Christopher Black/OMS)
“Temos vacinas perfeitamente eficazes neste planeta que não usamos de forma eficiente. Para doenças que poderíamos eliminar e até erradicar – e nós não fizemos isso. Nós não tivemos a vontade ou a determinação para investir em sistemas de saúde para fornecer isso. Nós não tivemos a capacidade de sustentar cuidados de saúde na linha de frente”, avaliou o diretor de operações da OMS.
O representante da entidade chegou a citar como exemplo o sarampo. Em 2018, a doença provocou cerca de 140 mil mortes no mundo todo, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde. O Brasil perdeu o certificado de erradicação da doença em fevereiro de 2020.
Segundo Ryan, o controle da Covid-19 ainda vai depender de um esforço conjunto nos âmbitos políticos e financeiros internacionais. Ele defende um sistema multilateral baseado em valores de solidariedade, confiança e cooperação. “De algumas formas, nós temos controle sobre esse futuro”, afirma.
Reabertura da economia
Ryan ainda falou sobre riscos do afrouxamento precipitado de medidas de distanciamento social. Na sua avaliação, se o processo for conduzido sem a cautela necessária, a retomada de atividades pode resultar em um escalada de contágio do novo coronavírus. E no caso de países que não dispõem de estruturas de testagem apropriadas, as nações vão levar dias ou semanas para detectar o problema.
Ele ressalta ainda que no caso de novos surtos os governos podem ser obrigados a restabelecer medidas restritivas. “Para a economia, o pior é abrir sem estar preparada e não sei se as economias tem como aguentar isso”, alertou.
Para Ryan, é fundamental que, em um processo de reabertura, governos estejam preparados para agir se identificarem novos surtos. Ele cita como bons exemplos, a Coreia do Sul, a China e a Alemanha.
No mês passado, a OMS listou seis critérios que devem ser considerados antes do afrouxamento do distanciamento social:
- Transmissão da Covid-19 deve estar controlada;
- Capacidade do sistema de saúde para detectar, testar, isolar e tratar todos os casos;
- Capacidade de minimizar riscos de surtos em ambientes críticos, como unidades de saúde e asilos;
- Existência de medidas preventivas nos locais de trabalho, nas escolas e em outros locais que provocam aglomerações;
- Capacidade de gerenciar riscos de importação;
- Comunidades educadas, engajadas e capacitadas para se ajustarem às recomendações de prevenção.