OMS diz que não há transmissão aérea de Covid-19; entenda o que isso significa

Transmissão aérea significaria que o vírus pode se manter no ar por períodos prolongados de tempo e se deslocar por distâncias maiores que 1 metro
Renato Santino30/03/2020 22h29, atualizada em 30/03/2020 22h50

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O coronavírus é uma situação tão nova que cientistas pelo mundo ainda tentam entender como funciona exatamente sua transmissão. Um novo boletim científico publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que o vírus não é transmitido pelo ar.

A organização publicou em seu Twitter uma imagem desmentindo um boato afirmando que o vírus permaneceria no ar por 8 horas. O post diz que as gotículas e aerossóis produzidos por tosses, por exemplo, não ficam no ar por muito tempo, por serem pesadas demais. Assim, elas caem quase imediatamente no chão ou outras superfícies, onde o vírus pode permanecer ativo por dias.

Que fique claro, isso não significa que não é possível contrair a Covid-19 respirando o ar contaminado por outra pessoa. Isso só significa que as gotículas contaminantes não ficam no ar por muito tempo, mas ainda é possível ser infectado respirando próximo a uma pessoa infectada, antes que as gotículas caiam no chão. A OMS fala em uma distância segura de 1 metro.

O que é exatamente transmissão aérea?

No boletim científico, a OMS detalha essa interpretação, resultado de uma análise de mais de 75 mil casos de Covid-19 na China, que constatou que não houve relatos de transmissão aérea. A organização menciona que existem dois tipos de partículas que podem ser causadoras de infecções respiratórias. Primeiro são aquelas gotículas maiores, com diâmetro entre 5 e 10 nanômetros, chamadas de “gotículas respiratórias”; as outras são menores, com menos de 5 nanômetros, são referidas como “núcleos de gotículas”.

A transmissão definida como aérea só acontece por meio dos núcleos de gotículas, que por serem menores e mais leves, conseguem permanecer no ar por mais tempo e se deslocar por distâncias maiores do que 1 metro. Não é o que foi constatado até o momento.

Em contraponto, a transmissão por gotículas se dá ao expor as mucosas bucais ou nasais ou a mucosa conjuntiva (dos olhos). Esse método de infecção só pode acontecer pelo ar quando você estiver próximo de alguém que está tossindo, porque as gotículas não se sustentam no ar por muito tempo. Caso contrário, a contaminação vem, normalmente, quando alguém encosta em alguma superfície contaminada e leva as mãos ao nariz, à boca ou aos olhos.

A OMS, no entanto, nota que existem algumas exceções que possibilitam transmissão aérea, principalmente para profissionais de saúde. Procedimentos médicos que requeiram a proximidade com paciente, como entubação endotraqueal, ventilação manual antes da entubação, desconectar o paciente de um respirador, traqueostomia e ressuscitação cardiopulmonar. São procedimentos que geram aerossóis e que podem causar transmissão pelo ar.

Exemplos

Ficou confuso? Vamos dar alguns exemplos. Vamos supor que alguém infectado tussa enquanto circula sozinha pela rua. Se você passar por aquele ponto depois de uma hora, você não corre risco de ser contaminado ao andar pelo mesmo ponto em que aquela pessoa tossiu se a rua estiver vazia. Isso seria a transmissão aérea: o vírus permanecendo no ar por longos períodos nos núcleos de gotículas.

Em vez disso, se você estiver próximo de alguém que está doente e ela começar a tossir, o risco de infecção é real se as partículas entrarem em contato com seus olhos, nariz ou boca. É o que a OMS define como transmissão por gotículas, que pode acontecer pelo ar, mas não caracteriza transmissão aérea.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital