Desde o início da pandemia, se pergunta o que uma mutação do coronavírus poderia causar. Agora, um estudo publicado na revista Science traz mais informações sobre essa questão. Uma mutação originada na Europa no início do ano que se tornou a variação dominante do vírus no continente, nos Estados Unidos e no Brasil, se mostrou mais apta a infectar humanos, e por isso ganhou dominância em comparação com outras formas.
A pesquisa mostra que a variante, com a mutação D614G, se tornou prevalente porque mostrou mais capacidade de replicação nas vias nasais humanas, o que é uma vantagem em comparação com as demais, já que facilita a transmissão de pessoa para pessoa, como explica Ralph Baric, pesquisador da Escola Gilligans de Saúde Pública Global, ligada à Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e um dos coautores do estudo.
A variação D614G não só se mostrou capaz de se replicar mais facilmente, como também se mostrou mais eficaz na transmissão aérea, aquela em que o vírus permanece no ar por um período prolongado em pequenos aerossóis, em vez de se concentrar apenas nas gotículas maiores, que rapidamente caem no chão ou em alguma superfície.
Em experimento realizado por hamsters, os pesquisadores infectaram animais com a D614G ou com a cepa original, que começou a circular na China no fim de 2019. No dia seguinte, foram colocados 8 hamsters ao redor, em gaiolas próximas, sem contato direto, mas com o ar circulando livremente entre elas. Nos animais infectados com a mutação europeia, a transmissão aconteceu muito mais rapidamente.
Com o vírus mutante, após o segundo dia, o vírus se transmitiu para seis dos oito hamsters que estavam nas gaiolas ao redor do transmissor. Após o quarto dia, todos estavam contaminados. Já com a cepa original de Wuhan, não houve transmissão no dia 2, mas ao fim do dia 4 todos estavam infectados.
Os pesquisadores explicam essa diferença nos resultados pela maior facilidade de transmissão aérea da nova variante em comparação com a antiga. Apesar disso, no entanto, não houve alteração no desfecho da doença. Os hamsters apresentaram os mesmos sintomas e a mesma carga viral, mas o uso dos animais pode não ser perfeito para oferecer essa conclusão, já que hamsters não morrem de Covid-19.
Mas afeta a imunidade?
Quando se fala em mutação, a primeira pergunta é se a nova variação pode escapar da imunidade produzida contra a variação original. É importante deixar claro que a D614G é dominante em boa parte do mundo, então foi essa cepa que produziu a resposta imunológica em um número enorme de infectados.
O estudo, no entanto, conclui que a mutação D614G é, na verdade uma boa notícia para imunidade e vacinas. Segundo a pesquisa, a proteína S, que forma os espinhos do vírus, que é usada para invadir as células e é o alvo dos anticorpos e das vacinas, é alterada, mas de uma forma que ela é mais suscetível à resposta imunológica, e não o contrário, facilitando sua neutralização. Neste caso, a mutação pode ser uma boa notícia.