O Facebook parou de permitir que anunciantes direcionem propagandas para usuários com interesse em “pseudociência”. A medida, no entanto, ocorre só após uma reportagem do site The Markup revelar que a opção poderia beneficiar o compartilhamento de teorias da conspiração sobre a pandemia do novo coronavírus na rede social.

Segundo o artigo, antes da categoria ser excluída, a ferramenta de anúncios do Facebook mostrava que até 78 milhões de pessoas integravam o grupo de interesse por pseudociência na plataforma. A reportagem ainda simulou a publicação de dois anúncios com foco nesse público, um no próprio Facebook e o outro no Instagram. Ambos foram aprovados em poucos minutos.

O The Markup afirma que a função só foi deletada nesta quarta-feira (22), após o site ter questionado a empresa por email dois dias antes.

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Aaron Sankin, o repórter responsável pela investigação, ainda relata ter encontrado na quinta-feira (16) um anúncio direcionado para o grupo de interesse. Segundo ele, o anúncio de uma empresa chamada Lambs oferecia um chapéu que supostamente protege a cabeça do usuário contra ondas de radiação de celulares.

O jornalista então clicou na aba “Por que eu estou vendo este anúncio?” e o conteúdo apresentado afirmava que a Lambs “estava tentando atingir pessoas no Facebook interessadas em pseudociência”.

A propaganda não fazia nenhuma menção a teorias conspiratórias ligadas ao novo coronavírus. Porém, a reportagem lembra que a radiação de infraestruturas de tecnologia 5G é o centro de uma das principais teorias falsas em torno da origem do novo coronavírus. A desinformação, inclusive, motivou a depredação de pelo menos 20 torres de celular no Reino Unido.

O CEO da Lamps, Art Menard de Calenge, disse que a companhia não selecionou a categoria no gerador de anúncios. Segundo ele, a segmentação foi feita pelo próprio Facebook. O executivo negou que a empresa tenha feito qualquer associação do produto com a teoria conspiratória do 5G e destacou que o objetivo é atingir “pessoas que querem minimizar o riscos a longo prazo associados à radiação de dispositivos wireless”.

Segundo Sankin, o termo pseudociência estava entre os assuntos de interesse listados na seção de preferências de propagandas do seu perfil. Para ele, o Facebook pode ter deduzido o seu interesse com base na sua recente busca por grupos de teoria de conspiração sobre o coronavírus na plataforma.

Em entrevista ao The Markup, Kate Starbird, professora da Universidade de Washington (EUA) que estuda a disseminação de teorias da conspiração online, diz que pessoas que já acreditam em uma teoria falsa são mais propensas a ser convencidas por outras desinformações.

Para ela, ao oferecer que anunciantes possam focar propagandas em pessoas que são suscetíveis a acreditar em teorias da conspiração, o Facebook está se aproveitando dessa condição para monetizar seu serviço de anúncios.

Histórico

Esta não é a primeira vez que a ferramenta de anúncios do Facebook é alvo de críticas ou de investigações jornalísticas. Vale lembrar que a companhia proibiu campanhas que prometem curas enganosas para o coronavírus somente no fim de fevereiro deste ano.

Em 2019, uma reportagem do jornal britânico The Guardian revelou que anunciantes tinham a opção de segmentar o público por pessoas interessadas em “controvérsias de vacinas”. Já repórteres do site americano ProPublica identificaram em 2017 categorias com termos antissemitas, como “odiador de judeus” e “histórias sobre o porquê judeus arruinaram o mundo”.

Em ambos os casos, o Facebook removeu as opções de anúncio. No caso da ProPublica, o diretor da rede social Sheryl Sandberg chegou a escrever um post que reconheceu que os segmentos eram “totalmente inapropriados e uma falha de nossa parte [do Facebook]”.

Fonte: The Markup