Fabricantes alertam para não injetar desinfetante contra Covid-19 após sugestão de Trump

Presidente dos Estados Unidos deu a entender que colocar produtos do tipo podem ser testados para desativar o vírus em pessoas infectadas
Renato Santino25/04/2020 00h48, atualizada em 25/04/2020 01h00

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O mundo ainda procura tratamentos eficazes e comprovados contra a Covid-19, mas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou um pouco dos limites nesta semana ao sugerir novos rumos para a pesquisa de formas de acelerar a recuperação da doença. Entre elas estava a possibilidade de injetar desinfetante em pacientes para tentar eliminar o vírus de dentro dos pacientes.

Trump parecia falar sobre soluções que funcionam para eliminar o vírus fora do organismo, citando também o exemplo da luz ultravioleta, que tem ação esterilizante e pode desativar o vírus.

“Eu perguntei a Bill [Bryan, subsecretário de segurança nacional para ciência e tecnologia no governo dos EUA] uma pergunta em que alguns de vocês podem ter pensando, que eu acho que pode ser interessante. Vamos supor que você atinja o corpo com uma luz tremenda, seja ultravioleta, seja uma luz muito poderosa, e você disse que isso não foi checado, mas que você vai testar. Então eu disse, vamos supor que você traga a luz para dentro do corpo, o que pode ser feito pela pele ou de alguma outra forma, e eu acho que você disse que vai testar isso também. Parece interessante”, disse o presidente dos Estados Unidos.

Na sequência, veio a declaração que causou mais confusão. “E eu vejo que o desinfetante, que consegue eliminar o vírus em um minuto. Um minuto. E perguntei se há algo que podemos fazer como isso, com uma injeção ou quase uma limpeza”, disse ele, sugerindo novamente uma linha de pesquisa pouco ortodoxa a Bryan.

Trump defendeu-se afirmando que as declarações foram sarcásticas e não deveriam ser levadas ao pé da letra. De qualquer forma, suas falas fizeram com que empresas fabricantes de desinfetantes decidiram se manifestar para alertar que seus produtos não devem, de forma alguma, ser usados no corpo humano.

“Devido a especulações recentes e à atividade nas mídias sociais, a RB (fabricante do Lysol e Dettol) foi questionada se a administração interna de desinfetantes pode ser apropriada para investigação ou usada como tratamento para o coronavírus”, confirmando que foi questionada sobre o assunto. “Devemos deixar claro que em nenhuma circunstância nossos produtos desinfetantes devem ser administrados no corpo humano (por injeção, ingestão ou qualquer outra rota”, conclui o comunicado.

Já a Clorox, fabricante de outro produto desinfetante popular nos Estados Unidos, afirmou algo similar. “Água sanitária ou outros desinfetantes não são indicados para consumo ou injeção em nenhuma circunstância. As pessoas devem sempre ler a embalagem para as instruções apropriadas de uso”, diz o texto.

A corrida para desmentir qualquer ideia de Trump sobre o uso de desinfetante para tratamento da Covid-19 tem motivo. Não são raros os relatos de pessoas que, assustadas com a pandemia, acabam caindo em boatos infundados que circulam pelas redes sociais com promessas mirabolantes de cura e prevenção, mas que são apenas um risco grave à saúde e à vida. Há vários relatos de pessoas que ingeriram água sanitária porque isso seria capaz de evitar o vírus.

Renato Santino é editor(a) no Olhar Digital